domingo, 26 de setembro de 2010

"ESTÓRIAS DE UM DOMINGO SEM HISTÓRIA...."

O domingo hoje começou às avessas.
Pretendia ir ver a minha mãe à margem sul, e portanto iria levantar-me um pouquinho mais cedo.
Foi uma noite de insónias....às seis da manhã estava eu aqui no computador a completar um post que escrevera ontem no meu blogue, e no qual entendi que deveria acrescentar mais um parágrafo...
já tinha tido um bom tempo sem dormir por volta das duas e meia, e depois às seis foi o descalabro ; escrevi, fui beber leite à cozinha, e claro... o sono foi para o espaço.
Moral da história : acordei agora, mais de onze da manhã, em sobressalto (coisa que eu detesto, porque como sempre acordo mal humorada, tem de ser devagarinho, assim como quem não dá por isso), e... já não fui ver a minha mãe hoje. Teve que ficar para amanhã....

Estou agora a tomar o pequeno almoço, e já pensei : agora vou para a caminhada, de castigo..."toma lá que já almoçaste"!!!!!......

Depois, não sei, não prevejo grande coisa para este domingo, já descaradamente outonal, embora nos queira enganar com um sol bem luminoso ainda....Em última análise vou até ao Colombo, naquele programa "aliciante", de terceira idade, de emparvecer naqueles cómodos sofás da praça das palmeiras, a contemplar os passantes...
Mas eu gosto!....Gosto de ver as pessoas, as suas reacções, a sua correria mesmo ao domingo, ou então...torná-las "transparentes", virar-me para dentro, e entregar-me apenas à "película" que me vai passando pela cabeça e pelo coração.
Depois regresso...daí a pouco o domingo termina, amanhã é outra vez domingo, e depois e depois...sempre domingo!

Eu bem arranjei uma agenda (nas agendas, supostamente marcam-se actividades a cumprir); a minha também tem actividades marcadas : anos da Fátinha, café com a Bia, cabelo, Verdizela, Telheiras...como vêem, o cardápio é longo e variado...

Tudo estranho um pouco, isto, embora não afirme que AINDA me não sabe bem este "dolce farniente", este excesso de horas para ter horas para fazer coisas sérias.
Mas qualquer dia, como a D.Madalena, vou ficando por aqui mesmo à espera de fazer as "tais" horas à séria, que felizmente não sabemos quantas e como são!

E entretanto lá fui p'ra caminhada, e todo o caminho, com os bofes à boca vou dizendo p'ra mim mesma : "É por uma boa causa!..." "É por uma boa causa!..."
Fui de novo só, ou melhor, fui eu acompanhada de tudo aquilo que vai transcorrendo imparável pela minha mente.
O itinerário passa pelas traseiras de uma casa onde a minha filha mais nova viveu, e parte dele, era o percurso que algumas, poucas vezes eu fazia, quando ela me pedia para lhe passear o Nico, por não o poder fazer.

O Nico, engraçado, acho que nunca vos falei do Nico. O Nico é o cão mais rafeiroso que se possa imaginar, que tem tanto de vira-lata como de "melga" de doçura e afecto. O Nico parece nunca parar de querer agradecer o que por ele fizeram...
Veio da rua (todos os animais que a minha filha arranja são abandonados à sorte), e é conhecido por meio mundo aqui onde vivemos, tantos os anos em que sobreviveu...e não viveu.
Quando penso nele, a imagem que imediatamente me ocorre e ocorrerá sempre, um dia, é a do seu rabinho, porque dum rabinho se trata o coto que lhe deixaram por malvadez, a abanar loucamente de alegria.
O Nico também não tem as pontas das orelhas, porque igualmente lhas mutilaram, foi atropelado e abandonado duas vezes, e as pessoas jogavam-lhe água oxigenada sobre um corpo que era uma chaga quase total, pela sarna que contraíra...

Constato que não tenho fotos do Nico, talvez porque agora vivamos mais longe um do outro, mas jamais esquecerei os seus olhos doces e vítreos das cataratas que quase lhe tiram já a visão; é um animal sem idade, doente apesar de tratado e acarinhado o melhor possível, com insuficiências cardiacas e renais....mas é um "guerreiro" e um "resistente", na Vida!

Era um cão castanho ; e digo era, porque à semelhança dos velhinhos, a idade embranqueceu o Nico...e quando o olho com muita tristeza, custa-me pensar que mais cedo ou mais tarde, é um possível canditato a mais uma "deserção" no nosso núcleo familiar, já tão pequeno!!...

Anamar

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