domingo, 3 de outubro de 2010

"AO GOTEJAR DA CHUVA NA VIDRAÇA"

 

Primeiro dia com "sabor" a Outono/Inverno, este ano.

Eu"julgava" que o sol nunca mais se ia embora, e sempre acreditava que os dias de sol quente e luminoso estariam "ad eternum"...
Mas não, hoje acordei desagradavelmente com um céu todo igual e todo cinzento, com chuva sistemática.
Desagradável, é injusto e inadequado, pois afinal é o terceiro dia do mês de Outubro, e isto, é efectivamente o que a mãe natureza prevê para esta altura...mas este convite ao recolhimento é de um doce/amargo, que pela surpresa me perturbou...

Lá dirão vocês, lá dirá a minha filha mais velha, o que raio tem o tempo de tão importante, para tanto mexer comigo?!...Não sei...não sei, mas tem.
Esta mudança de estação, que afinal como tudo, tem a sua beleza muito própria e que eu muito admiro, está envolta num casulo de nostalgia que me perturba. Ela convida à interioridade, ela faz sentir mais a solidão, ela é, pelo menos para mim, uma estação de balanço...

Pessoa, o mestre, como já nomeei tantas vezes, sabiamente proferiu aquela frase que coloquei num post há tempo e tempo, e que está inscrita na parede do restaurante em Geia : "Um dia de chuva é tão belo quanto um dia de sol...ambos existem, cada um, como é!"...tinha mais uma vez toda a razão ao dizê-lo...

Geia...Geia exactamente num Outubro lá para trás...para trás do nevoeiro..
Porque entretanto, uma parede de nevoeiro se instalou...e pronto...não se dissipou nunca mais...

Chegámos aos dias adivinhados dos jardins sozinhos, dos bancos vazios, das árvores a "descabelarem-se", do rodopio das folhas dos plátanos pelas alamedas, do vento desabrido, já a virar chapéus de chuva, de pessoas  que correm a fugir ao pingo-pingo desta chuva miudinha e teimosa...
Mas também às manhãs de domingo na cama, sem horas, sob o edredon, a dividir carinhos, confidências, ansiedades....a ouvir apenas as gotas da chuva a bater no beiral da janela e a convidar a dormir, acordar, dormir de novo....ao som da mesma melopeia pacificadora que nos convida a ficar, ficar, ficar...quando se pode...

A minha crónica de hoje, parece uma página do boletim metereológico...mas não é.
Estou no café dos domingos, como sempre a tomar o pequeno almoço tardio, sem conseguir ou poder pôr no papel do tanto que me vai cá dentro, deste aperto-sufocação, que pelos vistos tem estado latente, como uma doença incubada, e hoje extravasou...porque as comportas desta barragem de sentimentos, que se calhar ando a reprimir, foram galgadas pela torrente, porque as muralhas se desfizeram como os castelinhos de areia feitos à beira-mar, quando aquela ondinha provocadora sobe, e deixa os meninos tristes...só porque hoje amanheceu cinzento, com chuva, silencioso, só...e a minha habitual incoerência tocou "a rebate"!!...

Anamar

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