segunda-feira, 9 de abril de 2012

AS "ESTRELAS" QUE NÃO ESTÃO NO CÉU


Quando  se  faz  das crianças  pequenas  vedetas, está   tudo estragado !...

Senti na pele desde muito cedo, a carga emocional, a responsabilidade objectiva, o peso que é, a não correspondência às expectativas em nós colocadas.
Acho, ou melhor, tenho a certeza de ter até hoje em mim, estigmas da postura da minha mãe, visto ter sido ela a única responsável pela questão.  O meu pai era outra "praia" ...

Não estou a exprimir em relação a ela nenhuma ingratidão, nem objectivamente a lançar nenhum ónus sobre a culpa da imperfeição que sou hoje.
Ela orientou-me como pôde, como sabia, o melhor que conseguiu, em termos de educação e preparação para a Vida, de acordo com as suas próprias limitações, de acordo com o seu possível horizonte de vida.
Ela caiu, como muitos pais caem, na tentação de projectar nos filhos aquilo que não foram e gostariam, aquilo que quereriam ter alcançado e não conseguiram, a concretização do que em si não passou de sonhos, porque não puderam ou não foram capazes de ir mais além ... até a tentativa de sublimar as suas próprias e ancestrais frustrações.

Não sei se isto é humano ... legítimo, sei que não é !

A  minha  mãe  não  tinha  cultura, instrução, grandes conhecimentos ( fez a quarta classe já adulta, e por necessidade ... Eram outros tempos ... ) !!
Mas parece que esta forma de estar e ser, acaba infelizmente por ser muito mais transversal às gerações e aos tempos, do que o desejável.
Se calhar eu fi-lo, e se calhar a minha filha também o faz, mais ou menos inconscientemente, se calhar mesmo inconscientemente.

Afinal, ser-nos-ia exigível maior criticidade, mais senso, mais inteligência, mais responsabilidade, mais "savoir-faire", porque estamos / estaríamos mais artilhadas de conhecimentos didáctico / pedagógicos, maior informação, mais apetrechadas em experiência de vida, pertencemos e vivemos uma era de horizontes mais alargados, de maior ecletismo cultural, em que tudo é questionado, tudo é objecto de estudo, de análises, debates, discussões, fóruns, conferências, tratados, convenções, etc, etc, etc, numa procura quase obsessiva de linhas, directrizes, caminhos que levem a maiores acertos, a  uma maior humanização, a posicionamentos mais correctos, pessoal e socialmente, a maior felicidade integral do Homem.

Eu, actualmente faço juízos de valor, reflexões, auto-crítica, distanciada que estou, em idade, em geração, até por exigência profissional.
Sempre trabalhei com, e no meio de jovens, seres em formação, numa fase crucial da vida ;
Por razões óbvias, deparei-me, vivenciei, tentei compreender, se possível ajudar em situações idênticas, vividas por adolescentes e pré-adolescentes, no núcleo familiar, e por arrastamento, em sociedade.

Por outro lado, da minha própria experiência, sei que aquilo que senti na pele, fez de mim um ser em permanente conflito interior, na busca de um perfeccionismo utópico, um ser com alguma / muita insegurança e até falta de auto-estima, um ser que ainda hoje sempre receia defraudar, que se posiciona em sofrimento, por recear não corresponder ( de acordo com elevadíssimas e idiotas fasquias ), às expectativas que sobre si recaem.

À nossa revelia, construímos sobre nós próprios uma imagem deformada, profundamente insatisfatória, e propiciadora de amargura e sofrimento.
E isto fica, garanto-vos, por mais clarividência que se tenha, por muito que se racionalize, por muito pragmáticos que sejamos ... para todo o sempre, com todas as inerentes consequências.

Por sua vez, a sociedade hoje em dia, ainda é mais exigente, trucidante, aguerrida, castigadora.
A competição desenfreada, a comparação, a necessidade de afirmação, desumaniza ainda mais as pessoas, e destrói ainda mais as relações humanas, colocando-as continuamente debaixo de fogo.
Hoje, como sabemos, por um lado vale tudo, ou quase tudo para se atingir determinado fim ;  por outro, uma selecção ou triagem acirrada, impera, na escolha dos melhores, para tudo.
Todo este "cocktail" explosivo, é mais que suficiente para colocar "cargas" detonadoras nas vidas das pessoas.
Se para além disso, desde cedo, o indivíduo estiver permanentemente submetido a provas ilógicas, por exigência pessoal, familiar e social, confrontado com a necessidade imperiosa, mesmo inconsciente, de corresponder ... teremos criado um ser em constante e crescente sofrimento, incapaz da gestão de insucessos, incapaz de uma convivência pacífica com as suas próprias e naturais limitações, e consequentemente, sem armas para as ultrapassar e superar.
Em última análise, está criado um ser insatisfeito, com grave distúrbio psicológico, desequilibrado, profundamente infeliz !...

Mais do que nunca, os pais, sobretudo os pais, deveriam estar atentos, e nunca fomentar este estado de coisas, deveriam tentar desmistificar e nunca criar "idolozinhos", pequenas vedetas, crianças tristemente convencidas e "snobes", porque serão forçosa e inerentemente à Vida, "santos com pés de barro".
A própria Vida, de uma forma implacável, se encarregará  obviamente de os "apear", deixando-lhes um amargor e uma auto-decepção arrasadores, com consequências pessoais imprevisíveis.

Deveriam sim, incentivar pela positiva, desenvolver a responsabilidade e o desejo de uma constante auto-melhoria e de um aperfeiçoamento, motivar uma luta por desenvolvimento de capacidades, com trabalho sistemático e persistente, sem deslumbramentos absurdos, suscitar uma auto-confiança e auto-estima reforçadas, mesmo quando os resultados não são favoráveis nem atingem a excelência ... mostrando-lhes que sempre os amamos, e que a Vida é constituída por dificuldades, trambolhões, êxitos mas também fracassos, desafios que podem ser vencidos ou não ( dependendo, e sobretudo também do seu empenhamento ) ...

... mas que o ideal é todos sermos afinal SERES NORMAIS ... e não ESTRELAS !!!...

Essas, têm à noite o firmamento para brilhar !!!...

Anamar

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