quinta-feira, 12 de abril de 2012

" NON SENSE "


E o dia ficou cinzento ...
Ficou um dia "daqueles" !...

A minha gaivota andava mesmo por aqui.
Rasou a vidraça várias vezes, parou no terraço vizinho, bem à vista ...

Afinal, chovia !  O dia fechara, uniforme, doentiamente uniforme.  O tipo de dia que me faz mais feliz se estou feliz, me torna dolorosamente triste, se não tenho horizonte ...
E hoje, não tenho horizonte !

Sintra não se via, aliás não havia "linha" para lá dos prédios mais próximos.
Para lá dos prédios mais próximos e para lá de mim ...
Não havia simplesmente linha !!!...

Tenho saudades da que eu era ...  Da que eu era, ou da que eu nunca fui ??!!

Complicada dúvida esta !!!

Ontem, alguém narrava o "seu" dia, no Facebook.
Desde as cinco da manhã em que acordara, até à noite.  E dizia com ar desalentado: " E amanhã, outro dia igual e sempre igual ... até quando ?... "

Parece a leitura do condenado no corredor da morte, em contagem decrescente.  Dias sem outro horizonte, que não aquele ... Mais dias sem "linha" ...
E quando não há nada lá ao fundo, quando não há por que ir contando, quando não há perspectiva ou sentido, espera-se o quê?

A Vida devia ser só para os simples, para os que a sabem e suportam viver, sem demais exigências ou conturbações.  Porque os outros, os que têm grilhetas nos pés e no coração, não vivem, percorrem apenas caminhos de calvário, sem sentido.

O ser humano é por natureza um ser de sonho, porque é ele que lhe "comanda a Vida".
Porque é através dele, que avança, que "se" dá significado ... lógica, razão !
Hoje vive-se por isto, amanhã por aquilo ...
São as fasquias a alcançar que impulsionam o caminhar, valem o esforço, alegram e animam a alma.
É o que se quer atingir, grande ou pequeno, muito ou pouco, o desiderato por que em cada dia nos superamos, acordamos, entramos na "roda do hamster" e nela rodamos até ao dia seguinte ... em que nova tarefa ou odisseia, nos permite dar um passo mais além, e não apenas viver tudo de novo.

E assim, dia após dia, até ao topo da montanha, donde se divisará o mundo, o mundo que queremos alcançar.
E depois dessa montanha, a cordilheira sempre tem mais picos, mais cumes inexpugnáveis, até que a força do Homem os desvende.
E enquanto não os desvenda, enquanto lhes vai subindo as encostas, é feliz, luta, tem um objectivo que olha e volta a olhar ... aquele lugar iluminado por sol, muito sol ... o sol do seu sonho !
É a vontade de o alcançar que o levanta quando cai, é ela que o impulsiona quando quer desistir, é ela que o espicaça no valer a pena de continuar, para se sentir vivo e livre, nessa busca.
É uma bússola, sem a qual fica atordoado no meio de um deserto sem referências, sem limites, sem "linha"..
Tudo uniforme e cansativamente igual, sem rumo ... sem vereda, caminho ... razão ...

E assim, sucumbe-se ... não se vive, morre-se.
Morre-se todos os dias um bocadinho.

Eu já tenho poucos bocadinhos para morrer.
Estou muito cansada deste labirinto, que sempre me leva à mesma casa de partida ;  estou exausta desta rotunda tonta, onde circulo ;  estou saturada destas ruas de volta atrás confusas, escuras, com becos sobre becos, com esquinas e mais esquinas, como naqueles pesadelos aterradores, dos quais queremos acordar e que repegamos, repegamos, repegamos ...
E por aqui estou ... acho que apenas vendo desfilar a Vida, não mais !...

Desculpem o "non sense" deste post.
Isto hoje está como nos "bons velhos tempos" ...
Eu acho que infelizmente, sempre vou ter aos "bons velhos tempos", e que os meus dias de escalada de picos de montanhas ensolaradas, são tão efémeros, tão escassos, tão diminutos, que não fazem sequer história ... não escrevem seguramente a Minha História !...

Anamar

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