quarta-feira, 25 de abril de 2012

" OUTRA VEZ ABRIL" ( reflexão )


E "Abril " nasceu de novo ... sempre nasce, ainda que tenha cor, ainda que seja cinzento e penumbrento, como hoje.
Nasce à revelia de todos ; dos que o querem, dos que o não querem ... dos que têm memória, dos que já a perderam !

Não conjecturara  escrever mais sobre uma realidade que provavelmente se esbateu, se "esvaziou" ... diz pouco  ou muito pouco, às gerações actuais, porque a não viveram, a não sentiram, a  não desejaram ... como rio que nos correu nas veias ...

Abril de 74 faz todo o sentido p'ra quem ocupava nessa altura os bancos das faculdades, p'ra quem via nascer os dias atrás das grades de Caxias, p'ra quem sofria  com a ausência do irmão, do amigo, do namorado ... perdidos nas matas da Guiné, de Angola, de Moçambique ...
Rostos e corpos de meninos a quem tinham posto no ombro uma G3, e a quem tinham dito que os "turras" eram p'ra abater, indiscriminadamente ... só porque defendiam as suas terras !...

Abril de 74 faz todo o sentido, p'ra quem conhecia na vida a marca das garras da Pide, p'ra quem conhecia o significado da palavra "clandestinidade",  o significado do afastamento compulsivo e por sobrevivência, dos seus, do seu chão, dos seus sonhos,  vendo à distância o seu país a esfarrapar-se, a sua gente a sangrar mais e mais ...

Abril de 74 faz todo o sentido, p'ra quem apostou na palavra Liberdade, p'ra quem acreditou que a igualdade de oportunidades poderia ser para todos, para quem jurou que bastava já de mordaça na boca e na alma, e achou que era chegada a hora ... Para quem sonhou, que o futuro dos seus filhos iria ser menos carrasco que o seu próprio ...

E Abril de 74 faz sentido por miríades de coisas, que nos acordaram, nos deram fôlego, nos fizeram sorrir, sair às ruas e darmos as mãos a quem não conhecíamos,  caminharmos no compasso daquele estranho, só porque o mesmo riso  lhe iluminava o rosto, a mesma fé que nós lhe enchia o peito ... a mesma coragem e a mesma esperança que nós, nos empurravam a todos p'ra frente,  p'ra condução dos nossos destinos colectivos !...
Só porque, de repente, todos sabíamos de cor a mesma canção !...

Passaram muitos anos ...
Há gente desta geração que se atreve a opinar, a depreciar, a ridicularizar, a desrespeitar ... a achar que os "cravos vermelhos" foram uma simbologia patética, de uma revolução que afinal nos trouxe ao Hoje !...

É atrevimento  mesmo !...
Não estiveram lá para a viver, não podem perceber com rigor por que foi feita, não sentiram no coração nem o antes nem o depois de tudo ... tudo o que nós, os daquela época, realmente sentimos !...

E mesmo Abril "doendo" hoje ... pensemos como Salgueiro Maia : "O difícil está feito ... e o impossível só leva mais tempo !...

Anamar

5 comentários:

Anónimo disse...

Anamar,
O Salgueiro Maia, foi um "puro".
Pertencia a uma irmandade de "puros".

anamar disse...

Boa noite "Anónimo"

Os "puros", seja em que processo for, para mim, embora quase genericamente utópicos, são os indivíduos que merecem mais a minha admiração e respeito...

Sendo pessoas que lutam por "causas"(a maior parte das vezes quixotescamente), idealizam, lutam e desenvolvem abnegadamente, muitas vezes, esforços que os mais pragmáticos não alcançam.

Ainda não perderam o direito ao "sonho", é o que isso quer dizer!...

Obrigada por ter comentado.

Anamar

Anónimo disse...

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Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Um emérito Maçon.