Será um blogue escrito com a aleatoriedade da aleatoriedade das emoções de cada momento... É de mim, para todos, mas também para ninguém... É feito de amor, com o amor que nutro pela escrita...

segunda-feira, 16 de setembro de 2013
" REFLEXÕES EM DOURADO "
O sol já começou a pôr-se para a esquerda, lá ao fundo, no horizonte.
Significa que está mais baixo, e significa também, que vêm por aí os dias em que ele vai começar a hibernar, e a sombra a descer-me cedo, no quarto.
Daqui a dez dias, o Outono volta uma outra vez, para todos quantos, ao fim de um ano, por cá continuam para o recepcionarem, no ciclo repetido da Vida.
Para mim, o Outono é uma estação esmagadoramente bela e terrífica.
O ocre, o dourado, os vermelhos sanguíneos, ou os verdes fechados, aconchegantes e quentes com que se veste, criam um leito de paz, doçura e aconchego, no meu coração.
Inicia-se o tempo dos silêncios, o tempo da interioridade, o tempo da introversão, do adormecimento, da hibernação, da melancolia e de uma nostalgia profundas !
É tempo de colheita, seguido de pousio.
Colher o que se semeou e estará a dar frutos ... pousio, de descanso e reflexão, para o eclodir estonteante de vida, na renovação seguinte ...
Sempre assim, ano após ano, geração após geração ... vida após vida !...
A Natureza é perfeita.
Tem o ciclo de um ano para cumprir todas as metas e objectivos, do nascimento à morte. E reinicia-se sempre, pujante, renovada, jovem !!!...
O Homem, não !
A sua vida equivale a um único, dos ciclos do Universo.
A Natureza sabe que depois da morte do Inverno, uma nova Primavera a espera. Nada, para ela, finaliza !
Às lágrimas da estação fria, vão suceder-se sorrisos descarados, provocadores, confiantes, de uma outra Primavera.
Depois do luto que se abate, do desconforto e da escuridão, vai chegar outra vez o sol, a claridade, a alegria, o chilreio dos pássaros, o amor do ninho a reconstruir-se ...
O branco que tudo cobriu, abre cortinas, p'ra mostrar os verdes tenros e promissores, que já espreitam.
A vida pulula, inicialmente tímida, para se tornar exuberante, num passe de mágica.
O branco, o negro e o cinzento, completam-se generosamente, com toda a palete de cores. Os cheiros e os sons despertam, a energia renova-se ...
E tudo recomeça, de facto ... novinho em folha ... numa festa sem restrições, numa orgia de sensações ... estonteante !!!...
E sempre assim será !!!...
O Outono que agora começa, acerta o passo com a minha vida.
É o terceiro estágio, entre o nascimento e a morte. É exactamente esse, o estádio da vida, que atravesso.
Deveria ser um período de maturação, de calmaria, da paz que nos traz, a colheita do plantado ... sem demais sobressaltos, angústias ou incertezas.
Assim deveria ser, numa sequência normal de vivências.
Era justo que assim fosse ; o ser humano merece usufruir essa fase da sua vida, saboreando o que realmente é de saborear, o que vale a pena degustar, com a sabedoria conferida pelo tempo, sem os arrobos e as inseguranças dos verdes anos, sem os percursos da maratona da média idade, em que os olhos estão no caminho e não nas margens do mesmo, sem a ansiedade da loucura do pico da montanha, a alcançar a qualquer custo, mas sim com a paz e a plenitude dos percursos longos e planos, de horizontes visíveis e abertos.
Seria um caminhar à medida do seu passo, ao ritmo das suas pernas, com todo o tempo do mundo para olhar a paisagem, para desfrutar da cor e do cheiro, para parar na berma, numa pedra, sob a copa de uma árvore, e simplesmente deixar abrir o coração e a alma, ao aqui e agora ...
Seria escutar o canto das aves, ou o gorgolejar do ribeiro por entre as pedras ...
Seria estar desperto e bem acordado, para as emoções, os afectos e as partilhas ... por ser um tempo de disponibilidade, entrega e completude ...
Por ser na verdade, o ÚLTIMO tempo de qualidade de que dispomos ... porque o "Inverno" se avizinha rápido, e esse, já é o tempo do recolhimento total, do fechar de janelas, o tempo da imobilidade, do silêncio, da solidão e das perdas ...
Seria !!!...
Porque esse é, afinal, o tempo da recordação de uma outra Primavera, que o ser humano, de facto, não voltará a ter !!!...
Anamar
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