segunda-feira, 4 de novembro de 2013

" O FIM DA LINHA "



11,27 h da manhã ... quase da tarde, afinal.
Uma penumbra de madrugada, no quarto, com as persianas descidas, por forma a coar a luz do dia, que na realidade estava escuro, vi depois.
Aninhei o corpo despido, na carícia da roupa da cama, como se tivesse uma noite inteira ainda, para continuar a dormir, e senti-me violentada pelos números luminosos do relógio da cabeceira, que me arrancavam a um ninho protector, do qual não queria sair.

Ando a levantar-me cada vez mais tarde, como se procurasse adiar mais e mais, o confronto com o dia, o encarar da vida.
Ando a tornar cada vez mais curto o dia, e cada vez mais longa a noite, ou seja, ando a reduzir a existência a metade, num desapego e num desinteresse assustadores.
Aliás, neste momento, o maior conforto e gratificação da minha vivência diária, uma espécie de presente que me concedo, experimento-os  quando a casa ja se aquietou, o computador já se desligou, os gatos já dormem, e já deitada, frente à televisão, assisto, de mente vazia, ao desfilar de imagens em programas da National Geographic, que me tranquilizam, fazem viajar e sonhar.
Transmitem-me libertação e paz, e alienam-me por tempos, da realidade tão insatisfatória, cansativa, desinteressante e castigadora, que vivemos nestes tempos de purgatório,  que é a nossa vida actualmente.
Porque o dia que começa na manhã seguinte, é de facto um castigo, uma espécie de pena que sou obrigada a encarar e a cumprir, sem interesse, objectivo ou meta.

Quem me conhece de perto, dirá que não tenho razões objectivas para me sentir neste martírio ...
Ainda não tenho !...
Isto, se pensarmos no contexto em que mergulhamos, e que neste momento, o cidadão comum vivencia, de uma forma geral.
Não referindo já, as classes mais desfavorecidas,  em  que  os  dramas  humanos  grassam  e  se  multiplicam  de  dia  para  dia, sem  fim  à  vista ...

É suposto neste momento, avaliar-se quem tem perfil de resistente e quem não.
É suposto e imperioso, as pessoas serem fortes, lutadoras, corajosas e heróicas.
É suposto estar a criar-se uma élite de seres que, ou se insensibilizam, endurecem, indiferentizam e criam carapaças de defesa, e sabe-se lá como, vão em frente, sobrevivem ... ou sucumbem, desistem, atolam-se e são trucidados !

Está a cumprir-se uma espécie de triagem ou depuração, na raça humana.
Como Hitler tentou fazer, na selecção dos seres superiores, no apuramento da raça, dos que "mereciam" viver e dos que não, assim neste momento, a sociedade atravessa um processo semelhante.
A realidade social, em fim de linha, actualmete está a deixar pelo caminho aqueles que ficam na berma da estrada e já não conseguem caminhar, os mais débeis psicologicamente, os mais idealistas, utópicos  e sonhadores ;  os que têm menos armas ou defesas :  os velhos, os socialmente excluídos  ( que cada dia são mais ),  os  que  não  têm  robustez  psicológica ... os  tais  que  não  são  heróis, de  todo !...

Eu sei que "dos fracos não reza a História".  Mas também sei que a resistência estrutural do Homem, em termos psicoógicos, é algo que o transcende.
Não se compra, não se cria, não é exercitável, independe da racionalidade e da vontade de cada um.
E também sei que os super-heróis só existem na ficção, e que o mais difícil mesmo, é acreditar, por cada manhã em que acordamos, que um dia de chuva pode afinal ser um dia de sol ...

E por tudo isso, ando a acordar cada vez mais tarde !!!...

Anamar

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