segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

" CONFLITO DE INTERESSES "



Fiz anos, e ofereceram-me dois livros que me despertaram o interesse por lê-los, de imediato ( o que nem sempre acontece ).
Quando estou em casa, não tenho por hábito ( e devia ), sentar-me num sofá, calmamente, e passar algumas horas placidamente, a ler, como faz o comum dos mortais, sobretudo quando a vida lhe é tão desocupada quanto a minha, se calhar.
Tenho até um confortável sofá no quarto, um candeeiro de leitura à maneira, e demasiadas horas vazias ...
Mas ... tenho um espírito inquieto demais, para conseguir parar, concentrar-me e ler durante algum tempo, sem que o meu espírito indisciplinado, não se solte de mim , à minha revelia, e vá por aí fora, sei lá para onde ...
Tenho aquela coisa a que chamamos meio humoristicamente, "bichos carpinteiros", que deduzo serem os bichinhos que incessantemente atacam a madeira, e não param.
Isto, sou eu a deduzir !

Pois eu, padeço do mesmo, e por isso, a leitura de qualquer coisa, livro, revista, jornal, seja o que for, no remanso da casa, faz-me voltar atrás dezenas de vezes, para reenquadrar a ideia, para repegar a história, faz-me ir contar quantas páginas faltam para uma hipotética paragem ... enfim, um cansaço !!!
Sofro de desconcentração, deve ser ...

Resolvi então passar a ler, durante a minha ociosa hora do pequeno almoço, no café do costume, no lugar do costume, com o barulho do costume.
Parece que aí, a coisa resulta ... vá-se lá saber porquê !!!

Apenas, temos aqui, um verdadeiro conflito de interesses. Isto porque, é também a esta hora, neste "intermezzo" temporal, que escrevo a maior parte dos meus posts, aqui deste espaço, e portanto é óbvio que, se leio, não escrevo, se escrevo não leio, e isso tem-se notoriamente reflectido na minha fraca produção literária, nos últimos tempos.

Depois,  acho  também  que  ando  com  uma  escassez  de  assuntos,  com  uma  irrelevância   de  narrativa,  com  um  nada ,  sobre  que  nada  a  dizer ...
A minha criatividade, "puftt" !... Ou então, ao longo dos tempos, já falei de tudo por aqui, e, ou me repito com alguma genialidade, ou fico insuportavelmente maçante !...

A minha realidade diária, é despida de emoções, é repetitiva, e vítima de um entediante queimar de horas, mais ou menos iguais.
Sendo assim, imaginem o que eu não daria por uma boa história, uma boa ocorrência, um bom acontecimento, que colorisse o cinzento desta ausência de adrenalina !!!

Contudo, estamos noutro Natal .

E sobre o Natal, já se disse tudo, as pessoas já disseram tudo, eu já disse tudo.
Já falei sobre como abomino a época, como anseio, se calhar anormalmente, chegar a Janeiro, como odeio visceralmente ter que obedecer a "figurinos" hipócritas, em que, por mais planos que faça anualmente, de ser esse o ano em que furo o esquema e escapo ... ou sinto-me "vendida" ... nunca alcanço tal desiderato ...
E como nunca é de facto esse "o ano" ... sinto-me vendida mesmo, porque acabo por me embrenhar na roda  dentada  do  presentinho  a  este, a   esta  e àquele,  porque  tem  que   ser,  porque   sim  e   porque sim !...

E lá estou eu, e lá estão os portugueses todos, espantosamente, a correrem em romaria ou procissão, para as lojas, numa espécie de loucura colectiva, de alucinação de massas, a gastar, a gastar, a gastar o que não têm !!!
" É só uma coisinha " ... "não tem importância" ... "o que conta é a intenção" ...
Porra, até parece que a Troika partiu definitivamente no trenó do Pai Natal, que a senhora Lagarde não dá mais bitates por aqui, que a senhora Merckel foi pregar p'ra outra freguesia, e que de repente, nos conciliámos todos numa boa, ou nos anestesiámos num rodopio insano, contrariando o que juraríamos implementar justo este ano : não dar nada a ninguém, e um só presente por criança !
Porque, caraças, afinal a crise é brava, cair "na real" vai doer muito em Janeiro, e fazer de conta que esquecemos os cortes dolorosos nas pensões e vencimentos, o ainda maior estrangulamento de cintos, que já não têm por onde apertar, é apenas isso mesmo ... fazer de conta !

E a última vez em que eu achei graça a fazer de conta, foi quando fazia de conta que acreditava nas historinhas infantis das fadas e das bruxas ... há um ror de tempo !
E aí, não fazia mal nenhum eu acreditar !...

Mas o fenómeno "Natal", mobiliza mesmo, temos que convir.
Com o mesmo esbanjamento ou talvez não, com as mesmas atitudes perdulariamente inconscientes ou não, mergulhamos, empurrados por uma qualquer força inexplicável e materialmente absurda, e nem com crises aterradoras no país e no mundo, nem com a devastação a alastrar na sociedade, nem com as pessoas a serem atiradas diariamente, mais e mais, para as ruas, nem com crianças que chegam aos hospitais, doentes ... por fome, nem com filhos a viverem à custa das pensões dos pais ( que apenas já só sobrevivem ), nem com os velhotes a racionarem os medicamentos nas farmácias, nem com o desemprego a afundar e a desestruturar lares e famílias ... nem com tudo isto, conseguimos esquecer o folclore, o supérfluo, o "plastificado", o desnecessário, o excesso insano, o exagero absurdo, o consumismo desembestado, e valorizar o que deveria ser o verdadeiro, o autêntico, o genuíno espírito de Natal, e a essência dos seus reais valores !!!...

Realmente, não temos emenda possível !!!
Ou então, gerámos uma qualquer alteração biológica, um qualquer antídoto milagroso, inexpicável, que nos retirou os sentimentos, e nos robotizou simplesmente, para a Vida à nossa volta !!!...



Anamar

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