quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

"A PRIMAVERA DO NOSSO DESCONTENTAMENTO"



Obriguei-me a vir escrever.
Vejam lá como as coisas andam !  Escrever sem rascunhar, ao sabor da irrelevância do momento, isto porque não faço ideia o que vou escrever, sobre o que vou escrever ... para que vou escrever !...

Sei que as mimosas já estão em flor.
As  mimosas, as  magnólias  e  as  cameleiras.  Estão  lindas  de  morrer !...
As mimosas, mais despretensiosas, bordejam as estradas, porque ninguém lhes pediu que nascessem ali, ou sequer as plantou ;  as magnólias e as cameleiras, com o seu "pedigree", estão num patamar "floralmente" acima .
Pronto, acabei de inventar um neologismo, em que aliás sou perita.
Para mim, não há barreiras à escrita, e se não encontro o "tal" vocábulo, que traduziria o que quero transmitir ... pois bem, invento-o !  Quem é que me impede?

O tempo atmosférico, está aquela  coisa de mandar os velhinhos para os anjinhos, de por as crianças de quarentena  sem  irem  às  escolas ( o  que  nos  intervalos  da  febre, elas  consideram  uma  bênção ) ... de nos obrigar a enfarpelar feito chouriços, a nós, os adultos, teoricamente mais resistentes, e que temos que tomar conta destas coisas ...

A minha gaivota ( hoje tenho a certeza que é ela, garbosa, que por aqui anda ), recuou da orla marítima, que mete medo até às gaivotas, abandonou os areais que as marés não deixaram, em praias totalmente descarnadas, e resolveu retomar os caminhos de terra, até melhores dias .

O país continua de borrasca, continua de Inverno carregado, apesar de haver gente esperançosa, que enxerga lá não sei onde, uma Primavera, que garante está p'ra chegar.
Os velhotes espreitam as résteas gratuitas de sol, quando ele, humildemente engana as nuvens encasteladas, e  jogam ao dominó nas mesas improvisadas de bancos de jardim, se há o mínimo de garantias de que não choverá nos próximos minutos...
Enquanto jogam, discutem os números das pedras do dominó, para esquecerem a ausência de dígitos na magra reforma que os esperará, ainda mais magra, a partir deste famigerado Fevereiro, que se avizinha a passadas largas !

Os menos velhotes,  que inerentemente deveriam estar mais lúcidos, porque o Alzeimer, a demência senil, ou a simples esclerose, ainda não deveriam tê-los atacado, parecem baratas tontas, a fazerem outras contas, com outros números, que não os das pedras dos dominós ...
"Vão-nos cortar quanto"?.... " Mas em Dezembro já retiraram xix ... e foi para quê"?  "E o desconto para a ADSE também subiu ... Vamos ficar em que escalão"?...

E a água, a luz, o gás, os transportes, as taxas moderadoras, os créditos existentes, e a comidinha de que desgraçadamente ainda não nos desabituámos, como o "cavalo do espanhol", subiram também ... e trememos por cada vez que abrimos as caixas do correio, que dantes nos surpreendiam com românticas cartas de amor, notícias felizes de alguém de quem tínhamos saudades, e que agora nos provocam úlceras de estômago, porque não há dia, em que as malfadadas não nos ofereçam uma conta p'ra pagar !...

E ninguém sabe nada, e ninguém percebe nada das fórmulas aplicadas ( nem dá p'ra saber, sequer ... tal a confusão, as notícias contraditórias, e a desinformação conveniente ) ...
E assim vamos vivendo, olhando a beleza da natureza, que mesmo madrasta, tem o espectáculo esmagador  dos castelos indomáveis do mar, tem o amarelo lindo das mimosas, o rosa campanular das magnólias, e as diversas cores das camélias ... e sonhamos ... sonhamos, porque o sonho ainda não mudou de escalão ... que estamos abençoados com uma qualquer Primavera de Praga, esquecendo o antes e o depois dessa Primavera !...

Anamar

1 comentário:

Anónimo disse...
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