sábado, 24 de maio de 2014

" AS ANDORINHAS "



O sol já desceu, e com ele, as andorinhas já foram ...
Há pouco, dançavam  ao sabor da aragem, naqueles volteios rasantes por sobre as águas dos lagos.  Asas esticadas ... o chilreado típico do fim do dia !

Estas tardes melancólicas, mansas e silenciosas, em que os alaranjados do céu redefinem a linha do horizonte, acentuam a penumbra que desce devagarzinho, subindo as paredes, avolumando a sombra esfíngica da solidão, e pintando os sonhos como se fossem aguarelas de cores maceradas e esbatidas.
O sol deixou-se ver, enquanto as nuvens em castelo no firmamento o permitiram, e a sua luz incendiou os novelos brancos e grossos lá longe.
Depois, os contornos já escurecidos das construções sem rei nem roque, impediram-no de iluminar mais, o meu rosto, sentada  que estou, em silêncio, numa imobilidade dormente, em anestesia de alma, com o coração deitado na palma da minha mão ...

Sobre o mar, ele ainda preguiçou, que eu sei !
O mar não limita, não cerra fronteiras, não fecha caminhos.  Depois do mar, há sempre mais mar ...
Tenho a certeza, que até que o céu tenha virado azul escuro, ele continuou por lá !...

Aqui, as pintas de círios acesos neste presépio estranho, começaram a pintalgar este quadro de solidões,  de distância ... de ausências ...
Uma aqui, outra ali ... a fazerem de conta que mais para lá, há vida e há gente !

Os fins de dia , estes fins de dia, são iguais à minha vida... folhas de outono amarelecidas, que esvoaçam  no torpor de uma  aragem cálida, que deslizam no sabor da minha corrente de cansaços, que se escoam dos meus dedos e simplesmente vão ... nunca olham para trás ... nunca me perguntam se eu deixo ...

Os pássaros que cortam os céus com pressa, em pôres-de-sol  já  liquefeitos, transportam nas asas,  fogachos de horizontes próximos, para aléns mais distantes ... Porque são livres e soltos.
As andorinhas bordam os beirais, em  desenho  caprichoso,  de  mágica arquitectura, desafiam a renovação, auspiciam  a  felicidade, a  paz  e a  abundância, nas Primaveras dos nossos amanhãs ...
As andorinhas sempre prometem esperança,  a colorir  os avessos da  nossa  vida ...

Voltaram ... este ano voltaram ...



Anamar

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei muito, ta como diria o Mestre.
Zeferino