O sol já desceu, e com ele, as andorinhas já foram ...
Há pouco, dançavam ao sabor da aragem, naqueles volteios rasantes por sobre as águas dos lagos. Asas esticadas ... o chilreado típico do fim do dia !
Estas tardes melancólicas, mansas e silenciosas, em que os alaranjados do céu redefinem a linha do horizonte, acentuam a penumbra que desce devagarzinho, subindo as paredes, avolumando a sombra esfíngica da solidão, e pintando os sonhos como se fossem aguarelas de cores maceradas e esbatidas.
O sol deixou-se ver, enquanto as nuvens em castelo no firmamento o permitiram, e a sua luz incendiou os novelos brancos e grossos lá longe.
Depois, os contornos já escurecidos das construções sem rei nem roque, impediram-no de iluminar mais, o meu rosto, sentada que estou, em silêncio, numa imobilidade dormente, em anestesia de alma, com o coração deitado na palma da minha mão ...
Sobre o mar, ele ainda preguiçou, que eu sei !
O mar não limita, não cerra fronteiras, não fecha caminhos. Depois do mar, há sempre mais mar ...
Tenho a certeza, que até que o céu tenha virado azul escuro, ele continuou por lá !...
Aqui, as pintas de círios acesos neste presépio estranho, começaram a pintalgar este quadro de solidões, de distância ... de ausências ...
Uma aqui, outra ali ... a fazerem de conta que mais para lá, há vida e há gente !
Os fins de dia , estes fins de dia, são iguais à minha vida... folhas de outono amarelecidas, que esvoaçam no torpor de uma aragem cálida, que deslizam no sabor da minha corrente de cansaços, que se escoam dos meus dedos e simplesmente vão ... nunca olham para trás ... nunca me perguntam se eu deixo ...
Os pássaros que cortam os céus com pressa, em pôres-de-sol já liquefeitos, transportam nas asas, fogachos de horizontes próximos, para aléns mais distantes ... Porque são livres e soltos.
As andorinhas bordam os beirais, em desenho caprichoso, de mágica arquitectura, desafiam a renovação, auspiciam a felicidade, a paz e a abundância, nas Primaveras dos nossos amanhãs ...
As andorinhas sempre prometem esperança, a colorir os avessos da nossa vida ...
Voltaram ... este ano voltaram ...
Anamar
1 comentário:
Gostei muito, ta como diria o Mestre.
Zeferino
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