De repente, como uma onda alterosa, ela ergue-se e arruma o assunto, que é como quem diz, decide inapelavelmente o que entende ...
Sem que tenhamos capacidade de resposta ou de insurgimento.
Assim, numa curva da estrada, no virar de uma esquina, da noite para o dia, de supetão, surpreende-nos como o salto da serpente emboscada, sem previsão ou acautelamento possível, em ratoeira perfeita.
E transforma-se naquela vaga do tsunami, que todos já vimos em imagens conclusivas. Mostra-se, vem e varre sem piedade, tudo o que tem pela frente. Indiferente ao "tudo", mesmo ...
Deve ser isso que consubstancia a afirmação corrente : " O Homem põe e Deus dispõe" ... e que fará todo o sentido para a maioria das pessoas.
São marés, dizem uns. Há fases assim, dizem outros ... em que tudo parece desfazer-se em espuma, em que o céu se abate, o chão foge, e em que como areia, tudo nos escapa, de brincadeirinha, por entre os dedos.
E pronto! Os caminhos ficam todos fechados. Não adianta !
Resta-nos aquele sentido de preservação e de sobrevivência que nos toma, quando a catástrofe desaba bem por cima das nossas cabeças.
Encolhemo-nos, enrodilhamo-nos qual feto na protecção uterina, imobilizamo-nos ... ficamos quietinhos e esperamos.
Esperamos que talvez a muralha de adversidade que se ergueu à nossa frente, passe ( tem que passar, porque a resistência humana tem limite ), que talvez o céu brutalmente negro, consiga parir de novo um sol luminoso, que a amenidade subsista à chuva torrencial, e que na terra apareçam novos caminhos na ressaca da destruição.
O Homem encerra em si o princípio da regeneração. É instinto, é característica de espécie, enquanto ser vivo que é.
"Deus dá a roupa consoante o frio", diz a sabedoria do povo, que não erra.
Como tal, depreende-se que sempre estaremos artilhados com o necessário, nem mais nem menos, para enfrentar os carregos da nossa existência ... ainda que ela se encarregue por nós ... ainda que ela chegue, e dê o golpe de misericórdia !
A vida é dos fortes. A vida é de quem ousa. A vida é de quem a enfrenta, dos audazes e lutadores ... E mais meia dúzia de chavões a propósito, poderiam ser ditos, pressupondo que ... " dos fracos não reza a História".
Deve ser verdade. Acredito que o seja !
Então e esses ? Os menos resistentes, ou os menos "equipados", ou os mais cépticos, ou os menos pragmáticos ... ou os menos capazes ? O que se lhes faz ?
Bom, talvez pela seriação natural imperativa, não tenham mesmo futuro.
Talvez sejam destinados a sucumbir, no apuramento da espécie.
Talvez a vida os expurgue, num processo selectivo, natural, implacável e óbvio ... Talvez !...
E a vida redesenha-se, queiramos ou não. Sempre se redesenha !
E muitos sonhos adiados, sucumbem simplesmente num segundo. E somos então lançados num vórtice que primeiro nos baralha, depois nos atordoa, e finalmente nos resigna, por impotência !
É frase feita e gasta, mas de facto, cada vez mais, "carpe diem" é a única coisa certa que nos resta, a única que podemos e devemos fazer, por inevitabilidade ...
Tudo o mais é utopia pura !...
E por isso, provavelmente cumprir a Vida ou ser inteligente perante ela, seja simplesmente ... "compreender a marcha e ir tocando em frente"... até porque ... "num dia a gente chega, e noutro vai embora ", afinal ...
Anamar
2 comentários:
Vou dormir com estas palavras...nos ouvidos... na mente... na alma?
Malmequer
Olá Malmequer
De quando em vez precisamos repetir-nos algumas verdades...se mais não for, para tentarmos acreditar nelas !
Obrigada e beijinhos
Anamar
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