quinta-feira, 28 de junho de 2018

" CRÓNICAS DE VIAGEM - DIA ZERO "


" É  sempre muito bom ir !
Voltar tem sentir, cor e cheiro !... "


O meu sonho de que vos falei, concretizou-se.
Regressei do Príncipe há pouco mais de vinte e quatro horas.  E de lá, onde escrevi estas Crónicas de Viagem, trouxe estes textos que partilho aqui neste meu canto.
Espero que os apreciem.


" DIA  ZERO "





Voando a muitos mil pés de altitude, sobre um céu que não é de "carneirinhos" mas de nuvens densas e compactas, rumo a S. Tomé - Ilha do Príncipe.
As nuvens são claras em castelo prontas a farófias,  e o avião fura-as, penetra-as e desce, desce sobre uma floresta cerrada que já se divisa lá em baixo, cobrindo todo o recorte da costa de mar azul.

O fascínio, o deslumbre, o êxtase, esses serão para depois, quando os pés assentarem naquele solo que não possui um espaço que seja, sem vegetação.
São os caroceiros, as ocas, as colmas, as bananeiras ( cerca de nove espécies diferentes ) moandis, eletrineiras, jaqueiras, fruteiras, cajamangas, maracujás gigantes, papaieiras, e tantas outras cujos nomes não retive, não perguntei, ou não me disseram ...
São a pimenta-rosa, a baunilha, as árvores estranguladoras que se adonam de outras, num parasitismo que as mata, os fetos arbóreos, a matabala, o inhame, a mandioca e um sem número de outras espécies a perder-se  a conta ...
E  claro,  os ex-libris da ilha ... os cafezeiros e os cacaueiros, que a tornaram famosa pelos extraordinários  café e cacau, explorados desde o tempo da escravatura, nas roças, agora cooperativas de agricultores, e exportados para o exterior.   
São as flores, muitas flores, em profusão, das orquídeas aos hibiscos, mergulhados na mata de palmeiras e coqueiros.  São as maravilhosas  (e  cartão de visita da ilha )  rosas de porcelana, inconfundíveis e únicas ! 
Em suma, uma pequena Amazónia secular, milenar, mergulhada na história dos tempos, verde, totalmente verde, onde a água abunda, o calor é complacente e a Natureza generosa !
A semente cai no chão e renasce ... no eterno milagre da vida !...

E o mar que mistura os tons de azul aos verdes também, ao turquesa cristalino ... da prata ao branco da espuma batida, bordeja esta indescritível terra, ora adormecido na modorra da quietude, ora acordado do sono e agitado ...
Os pássaros, mais do que se verem no emaranhado da ramagem, escutam-se, ouvem-se nos trinados dos ninhos no coqueiral, rasando as águas em busca de peixe, na beira das marés, na rebentação no areal ...

A brisa corre solta e leve, tão leve e solta quanto o espírito e a alegria das gentes, nestes rostos chocolate que sempre nos sorriem e recebem. "Leve leve" é o lema repetido, numa terra também apelidada de "esquece o stress" ...
O sol põe-se em cada dia por entremeio da folhagem recortada, lá longe, no horizonte que se veste de fogo, com as cores inenarráveis de África, sobre aquele marzão que torna esta insularidade, sem dúvida, uma bênção dos deuses.

A Ilha do Príncipe não se descreve.  A sua "fotografia" não tem atributos que lhe sejam fiéis e justos no vocabulário humano.  Uma só palavra, vedada aos Homens mas adivinhada por estes, lhe assentará na perfeição, ao tentar descrevê-la : se existe " paraíso ", aqui franqueamos a sua entrada !!!

Anamar

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