quinta-feira, 28 de junho de 2018

" CRÓNICAS DE VIAGEM - OS PUTOS "




Os putos do Príncipe são putos, simplesmente ... crianças iguais e  diferentes de tantas outras de qualquer lugar do mundo.

Os meninos do Príncipe têm uma ingenuidade absoluta no olhar, uma alegria imperturbável presente, uma dádiva esbanjada para com todo  e qualquer um que chega, de longe, e lhes dispensa uma atenção.
Interrompem então a brincadeira que se faz na terra batida, na beira da areia, na sombra das árvores.
Um pneu velho, uma tábua com rolamentos, de carrinho improvisada, um nada qualquer que vira tudo na cabeça de meninos que não têm brinquedos, faz uma festa.
Rotos, sujos, descalços, ranhosos, os meninos brincam simplesmente com eles mesmos.
E riem, riem muito !
Os rostos são do chocolate da terra, e a alvura dos dentes, lembrando a rebentação das marés, ilumina-os no riso rasgado.

São muitos.  São bandos de pássaros livres a voejar ...
Todos são irmãos, primos, ali nascidos, ali partilhados para toda a vida.
Juntos esfolam os joelhos, juntos dividem o pedaço de pão ou da guloseima quando calha.
Juntos olham os irmãos menores, enquanto as mães lavam nos charcos, e juntos carregam à cabeça vasilhas de água, desde a fonte onde ainda não secou, para as precisões da casa.
Acima do que podem.  Acima do razoável.  Como gente grande.  Como gente adulta.
E juntos irão para a escola, pelas manhãs ... já limpos e asseados !

Adoram fotos.  Uma e outra, e mais outra, numa alegria esfuziante e incansável.
E os rostos acendem-se e  gargalham  incrédulos,  quando  se vêem  no registo  das  máquinas ...

As crianças do Príncipe pedem lápis, cadernos, borrachas ... como quem pede tesouros.

Não têm nada ... e não sabem que têm tudo !!!...




Anamar

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