domingo, 17 de junho de 2018

" SONHO ANTIGO "




O Príncipe foi um sonho antigo.
Há quatro anos fui até ao equador, atravessando-o com um pé em cada hemisfério, na minha visita pela primeira vez a S.Tomé e ao Ilhéu das Rolas.  O Príncipe ficou então adiado até melhores dias.
Agora irá concretizar-se, penso.

África é algo muito especial para mim. É um continente mítico e místico que não tem nenhum outro que se lhe iguale. As cores são únicas, os cheiros são inolvidáveis, os sons inesquecíveis ... os silêncios, também ...
Os povos são muito particulares, na sua simplicidade, na sua alegria, na humildade com que aceitam a vida ... aquela vida tão precária que detêm, aquele tão pouco que é a existência que lhes coube ...
Têm a terra com toda a exuberância com que a natureza a prodigaliza, têm aquele mar, aquele céu, aqueles ritmos com que se embalam, têm o vento que corre pelos coqueirais, os cantos indivisos das aves, as cores dos insectos, a melopeia das ondas nos areais ... tudo gratuito, tudo oferecido generosamente ... e não mais !

Mas parece chegar-lhes ...  Não exigem, não entristecem, não se entediam ... não mostram cansaço, dúvida ou ansiedade ...  Têm exactamente o que precisam, e encaram os seus dias de uma forma "leve leve"... slogan que lhes caracteriza a forma de ser.

Assim era Angola, assim foi Zanzibar,  assim foram as Maurícias ... assim foi S.Tomé ...
África é um continente mãe, a matriz da vida neste nosso planeta, acredito.  Ali tudo parece ter começado, ali, a infinitude dos horizontes em fogo, nos pores-de-sol que não existem em mais nenhum lugar do mundo, garante a renovação eterna da vida, esmaga a ousada prosápia humana, mostra  mesmo aos mais atrevidos, a insignificância daquilo que efectivamente somos ...
Recua-nos com toda a obrigatoriedade, à genuinidade da nossa origem !...

Vou numa ânsia de mergulho.  Um mergulho nas águas cálidas e transparentes, mas também um mergulho na terra e nas gentes.
Busco um reencontro com os meus silêncios de alma.
Procuro beber até ao âmago todas as emoções da voz da terra.  Procuro escutar até às profundezas os recados da voz da mata.  Procuro encontrar o sentido do vai-vem da maré, nas franjas largadas nas areias e nas margens ... Procuro gravar em mim, o riso solto da criançada, a luz que emana dos rostos doces  e tímidos das mulheres que lavam debruçadas sobre os charcos ... Os filhos envolvidos nos panos coloridos,  já dormem, no sobe e desce dos corpos ...

Vou numa ânsia de renovação.  Num recarregar do coração e da mente ... que urge.
Vou, também eu, humildemente, não como protagonista de nada, mas com as mãos bem abertas, o espírito sequioso e desarmado, numa espécie de regresso ao que de mais puro, autêntico e esperançoso, eu tenha dentro de mim ... numa catarse primordial e  silenciosa ...
Vou, inevitavelmente e tão só,  SENTIR África !...

Anamar

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