sábado, 22 de setembro de 2018

" CHARADA "



É tarde de mais p'ra falar da vida.
Tudo o que havia a falar já o foi.  Percebo não ter quem possa entendê-la, outra vez.  Há momentos em que viramos a página da agenda.  Percebemos que os códigos não podem mais ser entendidos por quem vier.  Há uma incapacidade de recomeçar a dizer.  Um cansaço de reabertura de cena.
Só porque o que tinha que ser, já o foi. E o tempo é o tempo p'ra cada coisa.
Não quero mais.  Seria um trabalho inglório, por muito que quisessem abrir caminhos.
Os meus caminhos já foram percorridos por quem os conheceu.  Os meus trilhos são segredos da montanha, que por ser mágica os encerrou em si.
Não se fala a mesma língua, só porque sim.  Não se aproximam emoções se as não conhecemos.  Se as não vivemos.  Se não são estória da nossa estória ...
E a nossa história teve um tempo real.  E o tempo, quando é real, vive no coração.  Não é como o tempo dos sonhos, porque esse, é eterno ... vive no espírito !

Percebo a vida encalhada em praia distante.
Percebo que não há vento, manso ou de borrasca, que consiga arrancá-la do areal.  Talvez simplesmente porque aquele areal, é o seu, de repouso, com as suas rochas e as franjas desenhadas como pinturas de Monet.
Talvez porque se esteja em tempo de marés leves, marés de dormência, que levam e trazem a canção das ondas.  Sem sustos ou angústias.
Talvez porque o meu barco se deixe apenas ir e vir, e ir e vir ... E esse, é o seu navegar ...
Talvez porque  lá esteja o canto das gaivotas livres de asas estendidas, e o som do silêncio da esperança.

Deve ser isso !
Deve ser isso que hoje me mostrou o cansaço da alma.
As vidas são curtas demais para serem escritos novos capítulos, por interessantes que o sejam.  Porque todas elas têm um fio, de meadas que desenrolam até às pontas finais.  E depois do desemaranhado desfeito, nunca a meada seria a mesma, por mais habilidade que outras mãos possuíssem, para a tecer ...
As mãos que são sábias, são as mãos que são sábias.  E os pés que percorreram os nossos caminhos, são também só aqueles que os palmilharam connosco, lado a lado ... e lhes conhecem as marcas secretas ...
Os ouvidos que conseguem escutar-nos, são apenas aqueles que sabem os nossos silêncios ... não mais ...

Chega um dia das nossas existências em que percebemos ter encerrado as vidraças ... ter fechado as portadas ... ter apagado as luzes.
Cansámos.
Esgotou-se o texto e não há paciência para reescrever outro.
Ficamos com a exibição final.
A que conhecemos, a que marcámos ... a nossa ...

Confuso, isto ... certo ?
Quem me ler deve achar que foi desta que me "passei", em definitivo.
Contudo, saudavelmente, um pouco  "outsider" nos pensamentos, nas emoções e na vida ... inquieta na alma, e fervilhante  nos desejos,  sempre o sou, em permanência ...

Anamar

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