sábado, 29 de dezembro de 2018

" INSTANTE ZERO ..."





Mais um ano a rondar o fim ...
Época chata, queiramos ou não.  Por mais que nos imunizemos ou que nos convençamos de imunidade face a isso, é inevitável e eu juraria ser transversal a todos, que a mente de todos nós sempre resvala para o bendito balanço do que foi, do que é e do que ansiamos que venha a ser.
Mesmo os mais "resistentes" e pragmáticos, mesmo os menos susceptíveis e os mais indiferentes, são levados a pelo menos não ignorar que a última folhinha do calendário vai virar e que mais uma fatia daquelas com que o Homem desenha as vidas, se esgotou e uma nova página em branco  a escrever-se, se abriu no bloquinho que nos coube !

E se o que passou, é sobejamente nosso conhecido, a incógnita do que virá, é algo que sempre nos deixa ansiosos, nostálgicos, sonhadores também, às vezes confiantes, outras assustados ... expectantes, indubitavelmente ...
Saúde e paz são então os votos que encabeçam mais alguns.... Quase sempre lugares comuns que bem sabemos serem utopias, ou nem sequer fazerem muito sentido.

Saúde e paz, eis os dois desejos que dificilmente estão na nossa dependência, tantos e tantos vectores, os reescrevem.  Mas pronto ... são desejos, e como desejos, legítimos !
Depois vem o amor, o dinheiro, os projectos, a felicidade ... em suma, uma qualquer sonhada realização que quase sempre achamos corolário da realização dos outros votos.
Depois vêm pequenas minudências que, cumprindo-se, nos levariam ao sétimo céu.  Mudanças de vida, intenções que se afiguram sérias, determinações do tipo "agora vai ser mesmo !"  ou "Ano Novo, vida nova !"
Tudo, pelo menos, válido para as badaladas da meia noite de 31 !

A roda do tempo continua a rodar.  Nós, grosso modo, humanos que somos, não nos reciclamos da noite para o dia.  As vontades fragilizam-se.  E a convicção de que num passe de mágica nos tornaremos diferentes, de que aqueles que nos rodeiam se tornarão diferentes também, de acordo com as expectativas por nós sonhadas ... a convicção de que o mundo se pintará com novas cores e roupagens, à medida do nosso sonho ... só porque vivenciamos um Ano Novo ... começam a desvanecer-se, à medida que o Janeiro vai cumprindo calendário, à medida que as rotinas ... sempre elas ... começam, ou melhor, recomeçam a tomar conta das nossas vidas.
E pronto ... nada de novo, afinal !  Como, aliás, se quisermos ser honestos para nós mesmos, sempre suspeitáramos que seria !...

Já não alimento ilusões desproporcionadas do possível.  Os anos que detenho, há muito me retiraram os sonhos da juventude, do coração.  Já me extirparam a fé de reviravoltas, novos caminhos, novas fasquias.  Já me acordaram sem panaceias ou panos quentes, perante as realidades.
Que são o que são.  E milagres, também só existem nas histórias.
Acho que há muito me anestesiei para encantamentos raramente surgidos.  Já há muito conheço o desencanto do "preço" das coisas.  O verdor de dias azuis, também já murchou no meu horizonte ... e apesar de saber exactamente que sempre ultrapassamos aquilo que nos foi caindo no regaço,  apesar de saber exactamente que sou resiliente ao ponto de me machucar cada vez menos com as vissicitudes do meu percurso ... sei claramente que os tempos vão sendo de penumbras que se cerram mais e mais, opacizando o meu coração, endurecendo a força da minha alma, sonegando-me a energia necessária a recomeços ... inevitavelmente !...

O ano findado, que tem agora os seus últimos estertores, mais não fez do que mostrar-me à distância, uma vez mais, a objectividade da vida, com autenticidade e sem auréolas douradas ou ilusões excessivas.
Levou-me sonhos, roubou-me afectos, maculou-me com a mágoa de saudades, polvilhou-me com dúvidas, ansiedades  e desencantos.
Termino-o mais triste do que quando o comecei, termino-o mais pobre, termino-o mais cansada !...

Bom ... não quero de nenhuma forma, amargar-vos com este sabor azedo que parece preencher - me.  Não quero contaminar-vos com estes laivos de deseperança.
Se puderem e forem capazes, deixem que os eflúvios do champanhe e a magia das passas vos tomem conta, no badalar da meia-noite.
Porque tenho a certeza ... mas tenho mesmo ... que nesses instantes, pelo menos nesses instantes, e também toldados pela euforia que se contagia, os votos que nos fazemos, os desejos que formulamos, as lágrimas teimosas de uma emoção incontida, que nos rolam nos rostos ... os abraços, os beijos e até os desejos que apenas só nós conhecemos ... são sinceros e absolutamente verdadeiros, enquanto a contagem decrescente se faz ... 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1 ............ 0 !!!!! 

O instante 1 de um ano novinho em folha, inicia-se então  !!!!...

Anamar

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