sexta-feira, 3 de julho de 2020

"AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - um outro dia





De Isabel Allende


Encerrada en su casa junto a su marido y dos perros, la escritora chilena vive en Estados Unidos desde hace 30 años.
Consultada por el principal miedo que conlleva el virus, *que es la muerte*, la escritora contó que desde que murió su hija Paula, hace 27 años, le perdió el miedo para siempre: "Primero, porque la ví morir en mis brazos, y me dí cuenta de que la muerte es como el nacimiento, es una transición, un umbral, y le perdí el miedo en lo personal. Ahora, si me agarra el virus, pertenezco a la población más vulnerable, la gente mayor, tengo 77 años y sé que si me contagio voy a morir. Entonces la posibilidad de la muerte se presenta muy clara para mí en este momento, la veo con curiosidad y sin ningún temor.
Lo que la pandemia me ha enseñado es a soltar cosas, a darme cuenta de lo poco que necesito. No necesito comprar, no necesito más ropa, no necesito ir a ninguna parte, ni viajar. Me parece que tengo demasiado. Veo a mi alrededor y me digo para qué todo esto. Para qué necesito más de dos platos.
Después, darme cuenta de quiénes son los verdaderos amigos y la gente con la que quiero estar.
¿Qué crees que la pandemia nos enseña a todos? Nos está enseñando prioridades y nos está mostrando una realidad. La realidad de la desigualdad. De cómo unas personas pasan la pandemia en un yate en el Caribe, y otra gente está pasando hambre.
También nos ha enseñado que somos una sola familia. Lo que le pasa a un ser humano en Wuhan, le pasa al planeta, nos pasa a todos. No hay esta idea tribal de que estamos separados del grupo y que podemos defender al grupo mientras el resto de la gente se friega. No hay murallas, no hay paredes que puedan separar a la gente.
Los creadores, los artistas, los científicos, todos los jóvenes, muchísimas mujeres, se están planteando una nueva normalidad. No quieren volver a lo que era normal. Se están planteando qué mundo queremos . Esa es la pregunta más importante de este momento. Ese sueño de un mundo diferente: para allá tenemos que ir.
Y reflexiono: Me di cuenta en algún momento de que uno viene al mundo a perderlo todo. Mientras más uno vive, más pierde. Vas perdiendo primero a tus padres, a gente a veces muy querida a tu alrededor, tus mascotas, los lugares y tus propias facultades también. No se puede vivir con temor, porque te hace imaginar lo que todavía no ha pasado y sufres el doble. Hay que relajarse un poco, tratar de gozar lo que tenemos y vivir en el presente".

Isabel Allende



Começo os meus dias invariavelmente, ainda na cama a passar os olhos pelo telemóvel, adormecido na cabeceira. Ligo o wifi que ficara desligado durante a noite, e caio inevitavelmente na realidade que me cerca.
Ainda no torpor de um sono meio interrompido, as notícias mais recentes, as comunicações de amigos, os artigos que circulam profusamente nesta época de comunicação à distância, começam "a bombar" ... como é moda agora dizer-se ...
Os acontecimentos de última hora, os números divulgados e actualizados, mesmo não sendo pedidos, oferecem-se de bandeja. E é dessa forma que começo a situar-me em mais vinte e quatro horas que me aguardam ...
Hoje, recebi através de uma amiga este artigo com que encabeço o meu post, um texto de Isabel Allende, a escritora que para mim é uma das referências na arte das letras, e que li muito já lá vão largos anos. Os seus icónicos livros, "A casa dos espíritos", "Retrato a sépia", "O plano infinito" ou "Paula", são títulos inolvidáveis ... O seu perfil social e político é igualmente para mim, motivo de admiração e respeito, ela que, tal como o tio, o Presidente Salvador Allende, foram, como se sabe, figuras incontornáveis da resistência chilena, que a História não esquecerá.
Isabel faz neste texto uma reflexão e uma análise muito objectiva, serena e lúcida, da experiência sofrida que o mundo atravessa, devido à pandemia da Covid 19.
Estando a vivê-la da sua residência na América ( onde vive há trinta anos ), em confinamento familiar restrito, tece alguns considerandos que me tocaram particularmente.
Em primeiro lugar, é a imagem ( eu diria quase tranquila ), de uma mulher em aceitação, equilibrada, o que ressalta das suas palavras.
É o despojamento, a capacidade de distanciamento de tudo o que se nos afigurou sempre como imprescindível, numa vida de abundância e de excessos ... o aprender a "soltar coisas", o saber relativizar a importância que lhes damos, o ser capaz de priorizar o verdadeiro, o genuíno e o essencial em detrimento do supérfluo, do falso e do vazio que tantas vezes preenche os nossos dias, na futilidade com que socialmente com frequência mergulhamos ... a mensagem maior que nos deixa.
Visiona-se claramente uma mulher "preparada" para o que vier, se e quando vier ... uma mulher que maturou profundamente o valor da vida e o significado da morte, e que a entende simplesmente como uma experiência de passagem, um novo nascimento ou uma transição ... que a olha de frente, sem medos e até com curiosidade.
A grave crise sanitária, com todo o seu envolvimento emocional, social e afectivo, tem modelado irremediavelmente o Homem, como sabemos. Tem-no levado a reflectir sobre valores primordiais como a amizade, a solidariedade e a fraternidade entre os povos e as nações.
As desigualdades sociais, a acentuarem-se exponencialmente em consequência da crise económica instalada, a semear pobreza e fome extremas, revelam-nos passageiros de uma mesma embarcação, num mar encapelado e tormentoso, onde só a força da união poderá conduzir-nos a um qualquer porto seguro.
Por tudo isso, urge repensar as escolhas conscientes a serem feitas, do que queremos ou não, para a nova realidade que emergirá ... para o que poderá ser o futuro num provável e desejável maravilhoso "mundo novo" !
Gostaria que, nesta fase da minha vida, pudesse encarar com esta bonomia e tranquilidade, o futuro que ainda terei. Gostaria de poder desenhá-lo sem me perturbar excessivamente com o amanhã, com a antecipação de angústias e receios pelo que virá, como virá ... quando virá.
Mas não me reconheço uma mulher "conformada", uma mulher tranquila ... uma mulher pacificada ...
Sou sim, uma mulher inquieta, a destempo com a realidade que sou obrigada a viver ...
Não ! Tenho muita coisa ainda para fazer ! Tenho muito caminho a calcorrear, muito recanto a descobrir, muito céu e muito mar a desvendar ! E vou lutar por eles !
Não preciso de mais bens materiais ... de todo ! Já tudo me sobra !
Mas falta-me tempo para o mundo todo que me espera lá fora ... enquanto estou aqui, prisioneira do destino, a perder cada segundo precioso da minha existência ... Tenho pressa !
Sinto-me numa bolha a olhar o filme que se desenrola, e que me é estranho ... tudo me é irreconhecível. Parece que o tempo parou, ou abrandou a marcha alucinante ... parece que estou criogenada, à espera não sei do que esperar ... parece que pairo numa irrealidade que me tolhe, me aprisiona e me exaspera ...
Estou cansada ... muito cansada mesmo !...
Até amanhã ! Fiquem bem, por favor !

Anamar

Sem comentários: