quarta-feira, 3 de março de 2021

" UM TEMPO P'RA RESPIRAR "

 


Estamos num período de alguma acalmia no desenrolar da pandemia.
É um tempo de respiro, um tempo dos corações baterem menos acelerados, do medo que nos povoa, amansar.
Verdade seja que, eu sinto, mas penso que é um pouco generalizado este sentimento, estar a ganhar uma evidente habituação, uma insensibilização e mesmo quase uma adaptação ao dia a dia que vivemos.
Acho que ganhámos uma certa "endurance" face a uma realidade sobre a qual conhecemos hoje, bem mais do que há um ano atrás.  Estamos a ganhar um certo "modus faciende", uma certa postura mais tranquila, na convivência com o vírus que integra as nossas vidas e que faz parte do quotidiano do país e do mundo.
Por outro lado, um certo "know-how" na forma como o encaramos, sem as fobias ou mesmo as histerias colectivas em que compreensivelmente todos caímos no transacto ano de 2020, ajudam-nos diariamente a procurar alguma "normalização" no formato completamente anormal que as nossas vidas detêm.

De facto, há exactamente um ano, dia 3 de Março registou-se o primeiro caso positivo da Covid, em Lisboa, enquanto que na véspera, dia 2 portanto, se haviam registado os primeiros dois casos, que ocorreram no norte do país, tendo os pacientes dado entrada no Hospital de Sto. António do Porto. 
Tratou-se de um médico, recém-chegado dos Alpes italianos, após uma semana de lazer numa estância de ski, quando o norte de Itália, zona da Lombardia, já estava a "ferro e fogo", como tristemente nos lembramos.  Milão ou Bérgamo foram locais que jamais esqueceremos ...

Hoje em dia, mercê do décimo segundo estado de emergência decretado há quinze dias, com um confinamento rígido e musculado, escolas fechadas, e um país praticamente encerrado à excepção dos "serviços mínimos", digamos assim, os números quer de novos infectados diariamente, quer dos óbitos e de pacientes nos serviços de intensivos, caíram generosamente, o que lançou uma lufada de ar fresco sobre o Serviço Nacional de Saúde, que no passado trágico mês de Janeiro, entrou praticamente em ruptura, colapsando ao limite dos limites algumas unidades hospitalares e serviços.
Inventou-se, reinventou-se, adaptaram-se espaços, criaram-se enfermarias em qualquer lugar onde isso foi possível, por readaptação de valências, e chamou-se a intervenção mais alargada dos privados e bem assim das estruturas de saúde das forças armadas.
Claro que houve patologias preteridas, claro que houve intervenções programadas suspensas ou adiadas ... mas houve que priorizar o estancamento do alastrar descontrolado da pandemia ! 
Entretanto, a inoculação das vacinas alarga-se na sociedade, e parece proteger com alguma eficácia, quem já as começou a tomar.  Estamos contudo, ainda muito longe do desejável e até do inicialmente previsto, já que a sua disponibilização tem sofrido, por toda a Europa, atrasos muito consideráveis por parte das farmacêuticas que não cumpriram os compromissos assumidos na sua distribuição e consequentemente, os timings acordados na Comunidade.

Ainda assim, de tudo isto, houve resultados visíveis, embora não possamos ignorar que até ao dia de hoje, se contabilizam lamentavelmente, mais de dezasseis mil perdas de vidas !

Não me alongo mais.  Estamos todos fartos de estatísticas, estamos todos saturados das grades desta prisão que nos cingem à mesma realidade  todos os dias, dia após dia.
Estamos todos ansiosos e aguardamos com  preocupação, a reabertura do país que, embora faseada, poderá trazer-nos algumas surpresas.
Este sol e tempo primaveril que começam a despontar, retiram a prudência, chamam para a rua e empurram as pessoas, sequiosas de liberdade, a tentarem infringir  regras fundamentais de protecção individual e colectiva, o que poderá novamente reverter a situação, com custos gravosos para todos nós !
Precisamos, como do pão para a boca, que a insensatez, o egoísmo e a irresponsabilidade não nos retirem de novo o "oxigénio" de que tanto precisamos para viver !!!

Anamar

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