segunda-feira, 12 de setembro de 2022

" A CHUVA ..."

 


Já quase não sabia o que é chover.  Quase já não lembrava como é agradável apanhar uma boa carga de água, sobretudo se os dias estão quentes, abafados, ardentes, como estes que vivemos há tempos infinitos.

De facto, o calor exorbitante que nos tem flagelado há tempo demasiado, em que embora sendo Verão, as temperaturas e a seca sem fim à vista  têm trazido ao território do continente situações extremas verdadeiramente preocupantes ... mesmo verdadeiramente angustiantes, não dá sinais de abrandamento.
Obviamente são situações anómalas, drasticamente agressivas,  mas a que, cada vez menos teremos alternativa de fuga, já que são fruto das alterações climáticas a nível planetário, clara e progressivamente acentuadas ,
É mesmo uma situação catastrófica a que se vive nos campos onde a água escasseia, reduzida a precários charcos quase inexistentes, e em que a vida dos animais periga pela ausência também da comida, em campos calcinados pela canícula.
Os incêndios aterradores que nos últimos meses deflagraram e consumiram tudo o que lhes fez frente, destruindo reservas naturais de fauna e flora, um bem inalienável cuja reposição já não será para a minha geração, foram mais um factor evidente de que o futuro do Homem e de todos os seres vivos que com ele dividem na Terra o direito à vida, corre riscos reais, incontidos e irreversíveis, de sua inteira responsabilidade !

Pois bem, anunciada como a tempestade Danielle, inicialmente um furacão vindo do lado das Américas, que atravessou o Atlântico e rumava à Grã Bretanha, refez a rota e depois de ter atravessado ilhas dos Açores enfraquecendo no grau de agressividade, decidiu-se por Portugal Continental, caminhando de sul para norte até varrer todo o território.
Anunciava-se muita chuva, algum vento e temperaturas um pouco mais baixas.
E hoje choveu, de facto, mas nada que me convencesse.  Parece que a chuva anda tão arredia que não se fixa.  Não encontra o caminho esperado !
Caem uns pingos, a bem dizer,,. pára ... o dia faz cara feia ... mas só !
E que falta nos faziam uns bons e insistentes aguaceiros, concedo mesmo alguma trovoada, direi até que um ventinho desde que não fosse excessivo e puxasse as nuvens pra cima de nós ...😏😏
Mas qual quê !  A chuva já veio e já foi, parece.  O sol brilha outra vez, quente, por aqui, num céu que aos poucos faxinou e se tornou limpo e azul !... Descaradamente !
Estou decepcionada !  Estava eu tão contente, com aquela alegria infantil que leva a criançada a chapinhar de qualquer modo, nas pocinhas que ficam pelas ruas, depois da queda duma boa chuvada !...
Eles bem sabem porquê ...

Dentro de dois meses conto estar por uns dias num país tropical.
Deles guardo sempre memórias inapagáveis de fortes e cálidos aguaceiros, daqueles que encharcam o corpo e lavam a alma. Chuvas a sério, essas que vêm e vão rápido, mas que são tão intensas que nos tocam o coração !...
Da Jamaica, a Bali ... às Maldivas ... Santa Lucia, entre tantos outros destinos, a sensação doce e indescritível da profanação do meu ser, do devassar do meu corpo entregue, do abandono silencioso à chuva que açoita e afaga, sob um calor escaldante, uma febre sem nome, é um abraço da natureza inóspita e excessiva, é uma subtil carícia pra não mais esquecer ...

Assim, espero voltar de novo a mergulhar nessa onda crescente de emoção e paz !

Anamar

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