sexta-feira, 26 de setembro de 2008

"ESTRANHO MUNDO ESTE..."

Não sou fã das iniciativas que presidem ao Guinness.
Para mim, são meras curiosidades, às vezes especulativas e valem o que valem, tão só...
De certa forma, repugna-me também o aproveitamento de algum tipo de aberração que mexa com seres humanos, para este tipo de fins.
Mas ao ler a notícia a que se refere este post, e apercebendo-me que os intervenientes nela, estão a fazer da situação um aproveitamento económico em benefício próprio, os meus escrúpulos minoraram significativamente e resolvi trazer aqui o curioso da questão...

Talvez não me chamem de incoerente...espero!


O menor homem do mundo encontra-se com a mulher com as maiores pernas

O mongol He Pingping e a russa Svetlana Pankratova em Londres...
O chinês He Pingping e a russa Svetlana Pankratova... O casal perfeito para o lançamento da nova edição do livro dos recordes, o "Guinness book"....









Pingping, de 20 anos, nascido na província da Mongólia Interior, é o homem mais baixo do mundo.
Ele tem apenas 74,61 centímetros de altura!

Svetlana, de 36 anos, tem as maiores pernas do planeta (1,32 metro), mas não é a mulher mais alta da Terra - longe disso, ela tem "apenas" 1,96 metro.

Os dois posaram para fotos na movimentada Trafalgar Square, no centro de Londres. Mas não houve clima de romance entre eles... A loura não tem a menor chance: Pingping está comprometido e disse sentir saudades da amada.

O chinês começou um programa na TV do Japão em 2007 e tornou-se celebridade nacional. Depois do sucesso, ele agora só aceita posar para sessões fotográficas, por um "chorudo" cachê.
No ano passado, protagonizou um outro encontro curioso, com o homem mais alto do mundo, o também chinês Bao Xishun.





Anamar

"O TALISMÃ"



Isabel vagueava por ali há largo tempo.

Absorta, olhava aquele espaço agora sem vida, deserto, solitário…uma espécie de paisagem lunar, com terra revolta, pedras espalhadas a esmo, desde que as minas haviam sido desactivadas.
Os operários já não circulavam, o ruído das máquinas já se não fazia ouvir, o “brouhaha” das vozes silenciara…uma espécie de “day after” de um qualquer cataclismo.

Isabel não sabia porque voltara àquele lugar, porque voltara a procurar aqueles terrenos para passear, sem destino, ausente nos pensamentos, distante na alma…
Talvez o silêncio, aquele silêncio audível que por ali pairava, misturado apenas com um leve sussurrar de uma brisa abençoada naquela tarde de Agosto, convidando-a à introspecção, a tivessem arrastado até às minas de pirite.

Isabel retroespectivava a sua vida, os últimos dias, os últimos anos, antes dele partir.

Sentou-se no que já fora uma cancela, puxou um cigarro, protegeu o rosto do sol impiedoso que lhe feria a vista.
Baixou-se para apanhar um fragmento rochoso que parecia ter caído do nada, aos seus pés.

Era um pedaço pequeno, cinzento, ou talvez dourado…era compacto, pesado, com cristais sabiamente desenhados e esculpidos, embutidos numa massa informe, porém totalmente reluzente, como se totalmente polvilhada a ouro estivesse.
O sol, ao bater-lhe, tornava-a fosforescente e cada face de cada cristal exibia um brilho que o tornava só por si, uma jóia irisdicente.

Pedro atravessou-lhe a mente com uma intensidade tal, que não soube explicar;
o amor que os unira “caiu” ali, de repente, na palma da sua mão, lado a lado com a pirite que segurava.

O efeito daquela pedra era magnetizante e à medida que a olhava, mais e mais as suas ideias se aclaravam e o coração se pacificava…

Agora entendia tudo…

O amor que haviam vivido era um pouco como aquela pedra...
Fora um amor sem regras, sem talhe, à margem de padrões ou figurinos convencionais, porém tão bem desenhado quanto os cristais daquela pirite.

Fora um amor sólido, primário, rústico e rude como aquela massa sem forma…porém tão iluminado quanto ela, tão “poderoso” quanto o seu brilho, tão fascinante quanto o mistério nela encerrado…um universo de luz, bem na sua frente, na concha da sua mão…

Por que o deixara ir??...

Agora Isabel sabia…
Aquela pirite ali, caída aos seus pés, numa terra de ninguém, só podia ter sido um “talismã” à sua espera…

Anamar

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

"SÓ P'RA QUE O MEU CANSAÇO AUMENTE..."







Caixa Geral de Aposentações


Marques Mendes - Novo Pensionista !!!


Aos 50 anos de idade e com 20 anos de descontos como Deputado, Marques Mendes acaba de requerer a Pensão a que tem direito, no valor mensal vitalício de 2.905 euros mensais!!!


Contudo, um trabalhador normal tem de trabalhar até aos 65 anos e ter uma carreira contributiva completa durante 40 anos para obter uma reforma de 80% da remuneração média da sua carreira contributiva...



"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas...'"


Guerra Junqueiro escrito em 1886





DEVE SER ESTE O NOSSO "FADO"...


Anamar

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

"CANSAÇO..."



Não é vulgar eu vir aqui a esta hora.

Nem é vulgar nem era previsível...Apenas, tive que vir escrever...nada, porque nada/tudo é o que tenho p'ra escrever aqui e agora...

Subi da rua no "início" de mais um dia, após mais um pequeno almoço mascarado de almoço que também o não é.
Subi e era previsto ir trabalhar para a secretária, em coisas mil vezes já trabalhadas, até que chegue a hora que rotineiramente me leve para a escola.

Apenas...o dia ficou de repente de "cara" ainda mais feia do que as negaças que já me havia feito à uma da tarde, quando subi a persiana deste quarto...

Um dia cinzento, bem outonal, como convém a uma estação que não é "carne nem peixe", que torna as paisagens descoloridas, o mar pardo, o céu indefinido...e a mim...sempre teve o condão de me "escurecer" ainda mais.

Respeito inteiramente quem "ama de paixão" este tempo atmosférico...
Respeito, juro! E até acho que esta "frescura" de sempre culpabilizar o diabo do tempo por isto e por aquilo, é coisa de gente que não tem preocupações acrescidas, que não tem mais o que fazer...ou é tontinha...em cujo grupo me incluo...
Sempre se ouve, como justificação p'ra quase tudo: "o tempo está horrível! Sufoca-se com este calor!"..."o tempo está pesadíssimo...a carga atmosférica adivinha trovoada"..."que horror...como se pode estar bem com estas oscilações atmosféricas??!! Depois os ossos ressentem-se"...e etc, etc, etc...
É um desfiar de insatisfações e impropérios contra um tempo, que nunca é o que devia ser!...
A sorte é que "lá por cima" os desígnios divinos não nos ligam nenhuma...

Pois é...eu estou exactamente como "este" tempo...

Pareço um peixe a nadar num riacho em época de seca brava...a "minha" gaivota quando quer planar e não tem brisa que a leve...ou um surfista que chega à praia...e o mar está "flat"...

Sinto-me sem "braçadeiras" numa borrasca insensível.

Sinto que não vou levar nada para contar, se houver alguém para me ouvir...

Sinto que isto, aqui e agora, é só mais um dia, não de tempo, mas de vida pesada, que vai passar no meu calendário do Google, escarrapachado à minha frente a dizer-me que o único 24 de Setembro de 2008 que se conseguiu arranjar, está a ir...cinzento, pardo, indefinido...

Coisa de quem não tem mesmo nada para fazer...ou é tontinha!...

Desculpem lá!
Como já tenho sugerido, virem a folha, mudem de página, façam "delete", não leiam nada destas "baboseiras" inconsequentes...

Mas eu tinha que vir aqui escrevê-las, já que o "fecho éclair" do meu peito encravou e está a faltar-me o ar...

Já que não estou no deserto p'ra fazer uma covinha na areia...
E gritar...
só mesmo p'ra vizinha de baixo, que chamaria os homens do INEM, com colete de forças p'ra me internarem...

Já que nem "olhos da alma" hoje tenho, para os dourados, os ocres, os vermelhos flamejantes...ou os amarelos esbatidos das folhagens ainda resistentes nos troncos, ou para as primeiras folhas que o Outono arrasta pelas alamedas dos jardins, (brevemente despovoados)...

Anamar



terça-feira, 23 de setembro de 2008

"A MAIOR IRONIA DA VIDA..."




Acho que estou a ficar prematuramente cansada, neste início de mais um ano lectivo.

Senão vejamos: por esta hora, começava a raiar para mim uma madrugada bem "curtida", sem custos adicionais, que é como quem diz...como os "gambuzinos", a minha vida fazia-se mais equilibradamente no silêncio, na interioridade, no intimismo até, do meu quarto, partilhado de mim para mim, dividido com a escrita, a música baixa que me inundava e a certeza de não estar só, parecendo está-lo.
Pois bem, ando a verificar que de há uns tempos a esta parte, o sono devassa-me, as ideias atraiçoam-me porque se esvaem, a vontade acena-me para a cama já preparada para me receber.

Não gosto disto; parece-me sinal de alguma exaustão, precoce demais para o adiantado do ano, o que pode denotar algo preocupante...
Até porque, escrever, para mim, é, como já tenho dito, quase uma função biológica que me não pode ser amputada.

Hoje recebi um mail de origem brasileira, o que só por si, não abona muito em matéria de construção gramatical, já não falando dos inerentes "atropelos" linguísticos" no que concerne à correcção de escrita.

Mas ao lê-lo, a objectividade do seu conteúdo, levou-me a pesquisar uma forma prática de vo-lo apresentar.
Assim, exibirei no final desta minha pequena dissertação, um vídeo com esse texto.

Na verdade nada de novo ele nos traz.
Antes, é uma constatação que sempre desfilou pelos nossos olhos, que todos conhecemos, consciencializamos, mas por defesa, sempre afastamos de nós.
A MORTE, como a maior, mais injusta, mais ridícula, mais estupefacta ironia da VIDA...

A morte, que nos cai "no prato" como aquela mosca inconveniente no auge duma refeição espectacular...

A morte, que sem se anunciar, vai entrando e devassando os nossos desígnios, sem nenhum pudor e sem pedir licença...

E tão inadequada e abusadora é, que sempre nos deixa boquiabertos perante a imutabilidade de tudo, no dia seguinte.
A Terra continua na Via Láctea impávida e serena, o Sol acorda e recosta-se ao fim do dia, as estrelas sobem no firmamento, já não falando nas flores que desabrocham, nas águas que correm, nas crianças que dão risadas...nas pessoas que se amam...

E nos que nascem, exactamente naquele famigerado momento em que mais um lugar ficou vago...

E a luta braço a braço, ombro a ombro, pela disputa de tudo e de nada, continua visceral, sanguínea, implacável, irredutível...
Quanta ironia mesmo!!...

O "carpe diem", única certeza e direito de que dispomos por cada dia que nos é concedido, deveria ir muito para além de boas intenções, frases feitas, moralidades balofas, princípios de vida.
Deveríamos mesmo interiorizar aquela outra frase tão verdadeira, quanto aparentemente distante : "Para morrer, basta estar vivo", e começar a "arrumar" de facto, as nossas "gavetas", a ordenar de facto, os nossos "trastes", a juntar de facto, os nossos pedaços espalhados por aí, a dizer de facto, tudo o que for preciso para que nada se leve entalado na garganta, juntamente com o arrependimento de nunca o termos dito, a amar muito e p'ra valer, a perdoar e esquecer o que nos amachucou, a viver, sorvendo, cada instante irrepetível de que dispomos...

enfim, porque a "tal ironia" é certa e está por aí à nossa espera...


Anamar

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

"A VITÓRIA DO AMOR..."





Aquele dia foi um dia de escolha.
E como todas as escolhas, há-as certas e erradas. Mas pelo menos naquele momento da vida, foi uma escolha assumida, predestinada a valer para sempre, porque sempre acreditamos nisso.

E partilharam-se dias e partilharam-se anos, dividiu-se vida, criaram-se sonhos comuns.
Sofreram-se desgostos que foram dos dois, exultou-se com vitórias e felicidades conjuntas. Passou-se a ser um pouco, o positivo e o negativo duma mesma fotografia...tactuámos os destinos como se fôssemos réplicas sobejamente conhecidas, sobejamente desvendadas.

Até que um dia olhámos e vimos que o projecto falhara, o amor falira, o sonho e o querer esfumaram-se...

E de repente, démos por nós de costas voltadas, a encetar caminhos divergentes saídos duma mesma encruzilhada; nem linhas paralelas mais, conseguimos desenhar com as nossas vidas...
Do projecto sonhado, só havia cacos pelo chão, inapelavelmente irreconstrutíveis...

A encruzilhada foi numa qualquer porta de cartório, os caminhos divergentes foram tão só, um lado e outro da mesma rua.
O olhar que nos mortificava foi-se alongando, "encompridando", até que aquela pessoa se tornou apenas um vulto já ténue e indiviso, por entre a multidão lá ao fundo.

E uma sensação de buraco no peito abriu-se logo ali, uma dor de perda foi bem real e acutilante, as lágrimas em ambos os rostos, acompanharam-nos em cada lado da rua.

Lembro que havia sol, muito sol, mesmo sendo Abril, e lembro que desci a avenida pela sombra, como se anestesiada estivesse, como se perdida, vazia, com a cabeça em turbilhão...
Os olhos foram indo, foram indo, até que o sol, que provocador, iluminava o outro lado, se fez sombra, apenas porque os meus olhos tinham fechado para crepúsculo...

Depois vem o tempo que se segue a uma catástrofe gigantesca, em que tudo se equaciona, se questiona, se põe em causa.
O tempo em que as raivas, os ódios e o desespero secam o coração.
O tempo, em que o sentimento de vitimização e injustiça cega tudo, alucina as mentes, cria defesas, retira-nos o poder de análise clara e objectiva e dá-nos armas de arremesso sempre engatilhadas.
Não há linguagem que se fale que seja perceptível, não há nem sequer capacidade para escutar ou dialogar sobre o que quer que seja.

De repente, uma vida de cumplicidades mostra que frente a frente estão, espantosamente, dois estranhos, dois adversários, dois inimigos.
De deuses, passámos a monstros, assim num "pufftt"...caímos do pedestal.

É o tempo das ofensas gratuitas, das agressões inúteis, das afirmações infundadas.
E parece que tudo o que foi vivido, toda a história partilhada, toda a luta em comunhão, se pode e deve jogar pela janela fora.
Como se Vida, seja ela qual for, boa ou má, se possa apagar, "deletar" do livro do destino e do livro das memórias!!...

Então o tempo, sempre ele, continua, a correr, aparentemente insensível e indiferente...mas na verdade, apaziguador...
Tempo de reflexão, de crescimento, de clarividência, de ponderação, de sensatez...

E vem o dia em que percebemos que não seríamos mais nós mesmos, se conseguíssemos odiar aquela outra pessoa;
percebemos que a vida deixaria de fazer sentido, se banalizássemos aquilo que nos ligou à pessoa que amámos, se conseguíssemos ser indiferentes ao bem estar, ao equilíbrio, à paz daquele outro que já deixou de nos fazer atravessar a rua para o lado oposto (pela simples razão de que o amor, afinal sobreviveu).

Civilizadamente, conseguimos finalmente recuperar e colar aqueles cacos que haviam ficado lá atrás, e gostosamente damos por nós a perguntar-nos das nossas angústias, das nossas aflições, de como irá ser aquele futuro tão nebuloso e que já está aí tão perto...
Ou então, a falarmos de memórias de momentos felizes (que também os houve), da necessidade de preservar espaços ou locais que foram nossos, em nome do que nos ficou em comum: os filhos e uma amizade doce e calma, uma amizade melancólica, que nos leva a crer que nenhum de nós, nunca cairá por falta de ter a mão do outro por perto.

E já não faz sentido que rejeitemos uma vida que foi nossa, que ignoremos ou recusemos aquela história, bem ou mal contada, que foi o nosso passado.

E não tem lógica e é uma enormidade, que nos olhemos como inimigos que nunca fomos... simplesmente porque a vida não se partilha com inimigos, e porque a história tem que continuar sem rancores ou mágoas, e tem que abrir caminhos aos que aí estão, aos que chegaram agora e nada sabem sobre uma amizade, que eu acho... sempre será amor...

Anamar

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

"AINDA FARÁ SENTIDO?..."




Hoje de manhã confrontei-me com algumas associações de ideias, daquelas que a gente nem sabe bem porque surgiram, se encadearam e nos fizeram até sorrir.

Pois bem, estava eu em fim de toilette, a acabar de maquilhar os olhos ao espelho (desde muito jovem sempre usei um fino e discreto risco de eye-liner na pálpebra superior, que de tal forma já faz parte do meu "boneco", ou de tal modo está interiorizado na minha imagem, que pareço despida sem ele), quando pensei de mim para mim, como consigo de facto, fazer com tanto à vontade um traço tão fino, ainda por cima desenhado a pincel.

Daí, às minhas aulas de desenho no liceu, foi um passo.
"Desenho" e não "Educação Visual"... (essa nomenclatura foi bem posterior), disciplina que frequentava com grande facilidade, criatividade e bom aproveitamento...
Não pintava mal, era imaginativa nos trabalhos...tinha "jeito", como diziam.
O "busílis" da questão, eram as famigeradas construções no desenho geométrico, em que depois do lápis, tudo deveria ser coberto a tinta da china, com régua, esquadro, compasso e...tira-linhas...lembram-se?

Faziam-se e treinavam-se sem cansaço possível, "quilos" de tracejado, a rigor, traçados mais ou menos espessos ou finos, a preto ou vermelho, conforme a linha...
E depois, quantas e quantas vezes, ao arrastar a régua ou o esquadro sobre alguma parte ainda não totalmente seca, lá ia tudo "p'ro galheiro" e o desespero de recomeçar tudo outra vez, instalava-se.
Ou então, uma sacudidela involuntária das "ferramentas" e um maldito borrão fazia-nos amaldiçoar o destino!!
Era o tempo, em que das "Rötring" de bicos de espessura seleccionada, nem se tinha ouvido falar!

Logo a seguir, ocorreu-me outra "peça" quase "dinossáurica"...a "régua de cálculo", com que na matemática se realizavam operações que hoje as calculadoras, num piscar de olhos, facilitam até às criancinhas quase já da "pré-primária"...valha-nos a santa!
Tenho a minha, guardada até hoje, verdadeira peça de museu que ainda exibirei aos meus netos, que com isso, vão acreditar que eu vivi foi na "outra encarnação"!!

E usava-se também uma outra, em plástico, idêntica aos esquadros e às réguas, que nos facilitava o traçado de hipérboles, parábolas ou elipses...
Já matei a cabeça, tenho uma também guardada, mas não lembro o nome. Se alguém me puder valer, recordando-me o dito...agradece-se.

E lembrei também o laboratório de Ciências Naturais, onde o sr. Francisco, o contínuo responsável pelo mesmo (e não o auxiliar de acção educativa, como hoje duma forma muito "inn" lhe chamaríamos), tinha a seu cargo despachar sumariamente para o outro mundo, as rãs, as cobaias, os pombos e até as minhocas, para a consequente dissecação, com vista a estudarem-se os aparelhos, órgãos e sistemas.

Lembro que particularmente o caso da minhoca, era um episódio absolutamente "dramático", pois com uma incisão mais enérgica e menos precisa, já não tínhamos uma dissecação, mas quase um "picadinho" p'ra pastéis...e não sobrava nada de jeito para espetarmos os alfinetes naquela coisa esventrada, contra a placa de corticite...

E tal como as conversas, que dizem que como as cerejas são...também os pensamentos e as recordações me desfilaram em catadupa, deixando-me na memória, um sabor doce e saudosista, do meu tempo de menina, em que na verdade as preocupações e dramas não se resumiam a muito mais!!...

Tão longe parece estar já tudo!
Mas juro que durante largos momentos, aquele espelho me devolveu a imagem da menina de bata branca, com as pálpebras pintadas a lápis de cor verde (à sucapa de um olhar mais atento da mãe), com uma pasta xadrês na mão, vinte e cinco tostões no bolso para a sandwich do pequeno almoço e uma carrada de sonhos confiantes no que havia de ser aquilo a que se chamava FUTURO!!

Anamar

"NÃO SE DEVE VOLTAR AONDE JÁ SE FOI FELIZ..."








Uma madrugada mais a bater-nos à porta...

De repente, lembrei a casa dos narcisos e dos agapantos. A casa das glicínias, das buganvílias e das azáleas...também do jacarandá que já foi...
A casa do sol, que sem pedir licença, invadia de luz e sombras os cantos e recantos, as esquinas e varandas.
A casa daquele tempo sem tempo, daqueles dias sem história. A casa duma modorra instituída pelo corpo e pela alma, espreguiçada em sesta sem fim...

Como é que quase uma vida fica resumida a várias cores, a vários cheiros, a borbotos e cachos flamejantes em explosão despudorada, por cada Primavera??!!...
Como é que o cheiro da terra molhada ou da relva aparada de fresco, abafa os cheiros do coração e da mente??!!...

Naquela casa, porque a "pari" no lápis, no sonho, no desejo...porque a enfeitei de grinaldas de creres e de todos os quereres multicores que me habitavam...porque para ela e nela, tinha inventado uma "estória" com um fim feliz de crianças e gargalhadas, de gritos e correrias, de cantigas e jogos de apanhada...naquela casa, se calhar fui feliz sem saber.

Só que, os narcisos florescem na pujança do amarelo, os junquilhos em profusão de perfumes inebriam os sentidos, as buganvílias e as glicínias sempre se adornam em vaidade incontida e provocadora, por cada Primavera que rompe...mas eu não estou mais lá para os apanhar em braçadas junto ao coração.
Também não estou mais lá nos jogos de esconde-esconde, nas dancinhas da "Joana come a papa", nas histórias contadas em rodas de acalmia na relva fresca...

E essa casa afinal, pertence apenas a uma película que não tem "reprise", a uma espécie de filme que já vimos alguma vez na vida, que recordamos, mas que não ocupa mais os arquivos da nossa cinemateca, que não pode nem deve revisitar-se...

Porque, simplesmente não se deve voltar aonde já se foi feliz!...

Anamar

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

SINFONIA EM BRANCO




















Anamar

SINFONIA EM NEGRO















Anamar