sexta-feira, 26 de setembro de 2008

"O TALISMÃ"



Isabel vagueava por ali há largo tempo.

Absorta, olhava aquele espaço agora sem vida, deserto, solitário…uma espécie de paisagem lunar, com terra revolta, pedras espalhadas a esmo, desde que as minas haviam sido desactivadas.
Os operários já não circulavam, o ruído das máquinas já se não fazia ouvir, o “brouhaha” das vozes silenciara…uma espécie de “day after” de um qualquer cataclismo.

Isabel não sabia porque voltara àquele lugar, porque voltara a procurar aqueles terrenos para passear, sem destino, ausente nos pensamentos, distante na alma…
Talvez o silêncio, aquele silêncio audível que por ali pairava, misturado apenas com um leve sussurrar de uma brisa abençoada naquela tarde de Agosto, convidando-a à introspecção, a tivessem arrastado até às minas de pirite.

Isabel retroespectivava a sua vida, os últimos dias, os últimos anos, antes dele partir.

Sentou-se no que já fora uma cancela, puxou um cigarro, protegeu o rosto do sol impiedoso que lhe feria a vista.
Baixou-se para apanhar um fragmento rochoso que parecia ter caído do nada, aos seus pés.

Era um pedaço pequeno, cinzento, ou talvez dourado…era compacto, pesado, com cristais sabiamente desenhados e esculpidos, embutidos numa massa informe, porém totalmente reluzente, como se totalmente polvilhada a ouro estivesse.
O sol, ao bater-lhe, tornava-a fosforescente e cada face de cada cristal exibia um brilho que o tornava só por si, uma jóia irisdicente.

Pedro atravessou-lhe a mente com uma intensidade tal, que não soube explicar;
o amor que os unira “caiu” ali, de repente, na palma da sua mão, lado a lado com a pirite que segurava.

O efeito daquela pedra era magnetizante e à medida que a olhava, mais e mais as suas ideias se aclaravam e o coração se pacificava…

Agora entendia tudo…

O amor que haviam vivido era um pouco como aquela pedra...
Fora um amor sem regras, sem talhe, à margem de padrões ou figurinos convencionais, porém tão bem desenhado quanto os cristais daquela pirite.

Fora um amor sólido, primário, rústico e rude como aquela massa sem forma…porém tão iluminado quanto ela, tão “poderoso” quanto o seu brilho, tão fascinante quanto o mistério nela encerrado…um universo de luz, bem na sua frente, na concha da sua mão…

Por que o deixara ir??...

Agora Isabel sabia…
Aquela pirite ali, caída aos seus pés, numa terra de ninguém, só podia ter sido um “talismã” à sua espera…

Anamar

1 comentário:

Anónimo disse...

Passei para deixar um beijinho.
Gostei!