quinta-feira, 30 de outubro de 2008

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

"TRISTEZAS" DESTA VIAGEM OU A "POBREZA" DO MEU "QUINTAL"...



Hoje estou um pouco perplexa, "piursa", possessa, furibunda, "desarticulada das ideias"... por ainda estar num residual estado de choque...

Hiperbolizo, óbvio, mas a fúria não está hiperbolizada...juro!

Tive esta tarde uma consulta médica, e enquanto pacientemente aguardava na sala de espera a ordem p'ra avançar, resolvi deambular os olhos por aquela normal profusão de revistas indistintas com que os médicos nos "presenteiam", para que, distraídos, os doentes não consciencializem de quanto já estão atrasados em relação à hora marcada.

Aleatoriamente caiu-me em mãos, da amálgama de revistas "cor de rosa" (que só leio ou nos consultórios ou no cabeleireiro), uma famigerada, cujo nome felizmente não retive, tendo retido isso sim, a páginas tantas, a seguinte frase dita com "pompa e circunstância"(como se uma máxima filosófica ali estivesse a expressar-se) : "Qualquer português tem o direito de se sentir orgulhoso de pertencer a um povo, cuja classe alta dispõe de senhoras tão bonitas e elegantes"...(sic)
O título para esta delonga era "Orgulho", e esta frase salientada de um texto longo, a propósito e dentro do estilo - "Portugal Chique - Gente diferente" (Capítulo XI), o que me pressupõe a existência para trás, de mais dez dentro do mesmo calibre...

Não fora a frase só por si já me deixar "doente" (estava no sítio certo afinal...Um consultório médico!!), e ainda o que li em diagonal no texto, quase me mata!

"À partida todos somos iguais. Mas alguns marcarão sempre a diferença"...""Definir o colégio onde estudarão os filhos foi sempre uma prioridade para qualquer progenitor, que ambicione para a sua prole, o mesmo percurso que ele próprio. Nos anos 60 e 70, era frequente encontrar nos melhores estabelecimentos de ensino ingleses ou suiços, alguns portugueses privilegiados, cujos pais preferiam uma maior abertura ao exterior que a protagonizada no ensino oficial. De pequenino se torce o pepino, sendo ainda hoje visível a diferença entre quem frequenta o liceu público ou o colégio privado"...

Fazia-se depois a apologia da "gente chique", suas vidas requintadas, seus casamentos dentro de clãs ou "pares", suas festas, toilettes, o desfile dos nomes colunáveis ou muito "In", os locais frequentados e "frequentáveis"...etc, etc...

O estômago embrulhar-se-ia, penso, a qualquer um que não sendo "deslumbrado", tenha a consciência exacta do país em que vive...
Eu acho que até mesmo os mais resistentes "iluminados da Gilamp", ou os mais "excêntricos do Euro-milhões", não aguentariam sem náuseas tal leitura...

Eu sei que esta "literatura" de cordel, estes "pasquins" de vão de escada, são consumidos por sectores bem referenciados da nossa sociedade...e também, ninguém me coagiu a ler tal artigo...Mas foi superior a mim!
A indignação assaltou-me e disparou em exponencial, na proporção em que os olhos se me arregalavam e as pulsações aceleravam...
Eu estava incrédula, possessa, absolutamente possessa!!!

Que insulto mais gratuito a todo um povo sim (que poderá sentir-se orgulhoso ou não), neste Portugal que não lhe arranja emprego, que não garante a sua segurança a nenhum nível, que não lhe cuida da saúde, que não o assiste em conveniência na educação, que o desmotiva, que não respeita a sua dignidade, o empobrece ao mais profundo limiar, que não lhe abre perspectivas de vida e o obriga de novo a emigrar, que lhe desestrutura socialmente famílias...que não lhe ajuda a tratar dos seus velhos...que lhe prostitui intelectualmente os seus jovens!!...

Oh alminhas!!! Por favor...de futebol, telenovelas, "Verdades ou mentiras" "Fiéis ou infiéis", "Quintas de celebridades", "Big Brothers", "Tardes da Júlia", doses e doses de "Morangos..." e outras cabotinices parecidas, temos que chegue!

De Cinhas, Lilis, Merches, Soraias, Dianas, Bibás, Saras, Dânias...Tuxas e Pituxas, Elsas ou Lucianas (de "Heidi" a mulher fatal), "tias" e sobrinhas...
de "turmas" de mortas de fome, pavoneando jóias das lojas dos chineses, ou "roupinhas" emprestadas p'ra promover boutiques...por Deus...estamos (estaremos? ) fartos!!

Não alienem mais este pobre país, já tão maltratado...
Não acenem com valores balofos e ludíbrios descarados de vidas fáceis, aos jovens desta terra!...
Não promovam como louváveis, desejáveis e defensáveis, todas as vidas "cinco estrelas" das "pseudo-socialites" de trazer por casa!...
Não aliciem as nossas jovens "enfiando-lhes" p'los olhos dentro, gente "promovida"(??!!) pela media, de formação duvidosa, promocionada unicamente pelos "dotes" físicos...(com a gravidade de que tudo isso é passado subrepticiamente, numa "pseudo" e intencional naturalidade)!...
Não usem despudoradamente o vazio mental e a ingenuidade, de quem muitas vezes ainda não tem maturidade, formação ou cultura, para distinguir o certo do errado, o genuíno do falso, o "gato da lebre"...
Não casem e descasem, semana sim, semana não...não tirem e ponham silicone nas mamas de todas essas "tristes"(que nem percebem como, e porque as usam!...), só para "vender!!...
Chega a ser criminoso...porque afinal é tudo isto que "factura" neste pobre país...nesta sociedade de "meia tigela", numa época de maior tristeza, alienação, desistência e cinzentismo!!!

Poderia ser mais exaustiva, mas p'lo menos, apesar das quase quatro e meia da manhã, talvez possa agora dormir mais pacificamente, porque "lavei um pouco a alma"...

Eu sei que esta nossa "viagem" vai encerrando em si, algumas tristezas p'lo caminho!...
Agora, confrontar-me uma vez mais que com esta "pobreza" no nosso "quintal" nunca mais sairemos da cauda da Europa...bom, não sei mesmo se no que me resta desta noite, não terei pesadelos acrescidos!!!!...

Anamar

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

"A PARAGEM..."





"Por vezes a paragem é a etapa mais importante da viagem..."

Neste fim de semana confrontei-me com esta frase, em jeito de "cartão de visita" de um filme em exibição nas nossas salas de cinema.
Ainda o não fui ver, tenciono ir, também porque esta frase (ao lê-la no cartaz afixado), fez um "clique" estranho na minha cabeça...
Com "fazer clique", não quero dizer que ela me tivesse surgido como se de uma descoberta se tratasse...
Não! "Fazer clique" significou exactamente que me perturbou, mexeu comigo, me fez parar.
Obrigou-me a lê-la compulsivamente várias vezes, tentando "senti-la"... e não me saiu da cabeça...; digamos que se me "colou" e não desgrudou mais.
Deambulando pela sala com os cartazes expostos, flagrei-me a "encompridar" os olhos para a dita, como se ela me "piscasse" lá do fundo e de alguma forma me tivesse magnetizado.

Quando em miúda viajava com os meus pais de comboio, (porque sempre foi de comboio ou autocarro que o fizemos por nunca termos tido carro próprio), as paragens eram auspiciosamente desejadas e aguardadas, como momentos em que a pausa permitia um abastecimento de sandwiches, bolos, bebidas, ou, com sorte, alguma "lambarice" para a pequenada que ansiosamente ficava à janela do comboio.

O meu pai descia sempre, no ritual da "paragem" e depois ficava junto ao estribo da porta, pé em cima, pé em baixo, na gare da estação.
Subia (ele e os outros passageiros que também por ali apanhavam ar no exterior ou fumavam um cigarro), só quando o chefe da estação (devidamente uniformizado e com um boné de pala que me fascinava...até porque aquele nem era polícia nem nada...), desenrolava a bandeirinha verde que trazia debaixo do braço e tocava uma corneta anunciando a nova etapa que tínhamos pela frente.

Aí, o comboio (às vezes ainda a carvão ), largava para o ar a bafurada "encardida" da chaminé fumegante e aquele apito rouco e estridente (qual paquete a largar o porto) e arrancava...
Primeiro, devagarzinho (o que permitia que os passageiros mais retardatários voltassem a subir para a plataforma, já com ele em andamento, acabando com a angústia dos mais pequenos, que sempre achavam que poderiam ficar "órfãos" de pai, ali mesmo naquela estação)...
Depois, lentamente...aumentava o ritmo, naquela "pouca-terra"..."muita-terra"..."pouca-terra"..."muita-terra"...



Anos mais tarde, de filhas a bordo, em carro próprio, naquelas "odisseias" de seis ou sete horas de viagem Lisboa-Beira Alta, Natais, Páscoas, Verões...pela famigerada estrada (única existente, que ao tempo, fazia as vezes da nossa A1...), também a paragem (não nas áreas de serviço, obviamente, mas em locais estratégicos para se comerem uns bons panados, arroz de tomate, leite creme e quejandos...), era reivindicada em ânsias...
Até porque as "precisões" de cada um, sobretudo da criançada que não aguentava os apertos biológicos, ditavam lei...

Anos ainda mais tarde, novas "paragens" me aguardavam nesta "auto-estrada de altíssima velocidade" que encaro por cada dia que o sol nasce...
Certamente paragens não tão gostosas...não tão gratificantes...sem vitualhas, sem doces, sem chefes de estação, sem o meu pai na gare...sem eu ser criança ou sequer já transportar crianças comigo...

"Paragens" necessárias, paragens impostas, inevitáveis, paragens não apetecidas por vezes, não desejadas quantas outras!...
Sobretudo algumas delas...paragens de fim de linha...em que o carril terminava e não havia mais percurso a fazer-se...mas ainda...paragens!...

Foram-no também, na maior parte das vezes, a etapa mais importante da viagem, de facto...

Nessas paragens fiz novas "agulhas"...inverti marchas, contornei percursos, reabasteci de combustível...às vezes pedi "informações" de rotas e itinerários, quando por perto alguém mos sabia dar...

Ou então, foram apenas paragens de encostar mesmo, à sombra de um chaparro no meu Alentejo e procurar um qualquer horizonte que fosse horizonte...quando parecia que eu já não tinha nenhum pela frente...
Ou tentar descortinar uma "estrada" menos agreste, mais generosa, para quem chega exausta e meio perdida...


Paragens, paragens, paragens...

Elas continuarão por certo...(elas integram a própria jornada, elas corporizam a dinâmica da viagem)...até à derradeira...

"A tal", que não sabemos em que estação, apeadeiro, área de serviço ou árvore de beira de estrada, nos aguarda e que certamente não falharemos...

Anamar

sábado, 25 de outubro de 2008

"A VERDADEIRA MONTANHA RUSSA" - COISAS DE MULHERES



Encontrei inesperadamente na rua, uma amiga que já não via há "séculos"...

Fôramos amigas durante anos e anos, cúmplices dos amargos e doces da vida...partilháramos sonhos, angústias, fragilidades, certezas e inseguranças... enfim, aquelas coisas profundas ou frívolas da vida de uma mulher...

Dividíramos horas de Faculdade, "varáramos" noites em estudos de cadeiras "chatas", puxando uma pela outra quando o sono teimava em fechar a pestana; secáramos algumas/muitas lágrimas nos primeiros desgostos de amor, no insucesso de um ou outro exame menos feliz... mas também soltáramos muitos risos e gargalhadas (pelas vitórias alcançadas)...quando elas ainda se soltavam fácil, bem cá de dentro, por a vida ser leve e as responsabilidades não excessivamente agressivas.

Mais tarde, partilhámos também filhos, nascidos contemporaneamente, êxitos e inêxitos da vida deles, as suas primeiras "graças", os sarampos e as amigdalites, o sucesso ou não das suas vidas escolares, a entrada nas suas vidas de adultos...

Emprestámos ombros... quando amputadas pelos desgostos à séria com que o destino nos atropelou, pela morte de entes muito queridos...

Ambas com percursos paralelos, próximos; ambas sem preocupações acrescidas...porque a vida correu mansa, estranhamente cinzenta, estranhamente amorfa, estranhamente não vivida, também para as duas...



Essa mesma vida encarregou-se de nos separar por razões familiares e profissionais, e o tempo e o afastamento que sempre são "carrascos", foram-no de facto, e a separação física, acrescentada à "loucura" que sempre constitui a existência de cada um, foram determinantes para que nos perdêssemos.

Quando nos revimos hoje, éramos quase duas estranhas que se aproximaram...para nos reidentificarmos segundos depois...
A amizade tem destas coisas mágicas...a verdadeira amizade tem o condão de reabilitar, reafirmar e reerguer num esfregar de olhos, os "cordelinhos" invisíveis que sempre ligam quem se quer bem.

E aquilo em que a tarde se transformou foi inimaginável...

As horas passavam e a "torrente" jorrava, jorrava e jorrava...inesgotável, como se quiséssemos colocar o passado no presente, naquela mesa de café...
E como havia urgência em nos contarmos como foi, como havia sido, como havíamos sentido, como reagíramos, como acreditáramos, como choráramos, como ríramos, como desistíramos para nos levantarmos depois, como sofrêramos, como também fôramos felizes, cada uma do seu jeito, cada uma na sua "estória"...outra vez parecidas, coladas uma vez mais!!...

Queríamos contar-nos como tinham sido os primeiros cabelos brancos, os primeiros sulcos a espreitar traiçoeiramente no espelho à nossa revelia, a primeira mágoa, quando o braço já não tinha tamanho para nos deixar ler as letras do jornal no café da manhã...

Queríamos "trocar" como fora assumir a perda da ingenuidade do percurso...como é a preocupação presente, quanto ao futuro dos nossos "velhos"...como é o frémito gostoso que nos invade, num misto de curiosidade, deslumbramento, orgulho, expectativa e esperança ao ver as gerações que aí estão a dar-nos continuidade...

Queríamos dizer-nos como doem as "mazelas" deixadas pelas cicatrizes que nenhuma plástica já resolve...por serem cicatrizes da alma...

Queríamos partilhar como é a angústia que sentimos, ao contabilizar todos os dias os recursos económicos de que dispomos hoje, nós, para quem, feliz ou infelizmente, essa questão era inexistente lá atrás...
queríamos dizer-nos como é, ter de deixar...para "quem sabe comprar qualquer dia", aquele "modelito" que nos provoca, da montra...ou ter de resolver se a consulta de oftalmologia é ou não prioritária à de ginecologia...

Uma "montanha russa"...constatámos...rindo e chorando ao mesmo tempo, frente a um bom copo de vinho branco, bem gelado, para "espantar" os amargores e as nostalgias...
uma "montanha russa" que nos deixa entontecidas, algo cansadas, apreensivas, talvez injustiçadas, pela famigerada "ampulheta" que não pára de deitar para baixo, a areia que está em cima...
nesta altura em que a "frescura" já não é a que tínhamos, quando na Feira Popular de outras épocas, com toda a adrenalina do mundo, aceitávamos subir e descer a verdadeira montanha russa, com a imagem da felicidade estampada no rosto e os cabelos, que então não eram brancos...se desgrenhavam no vento...


Anamar

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

"ALL GOOD THINGS COME TO AN END..."





"All good things come to an end"...eu diria "always come to an end"...eis o refrão de um tema musical repetidamente ouvido por aí...

Por que será? Porquê esta inevitabilidade, aparentemente este determinismo?!
Será para nos mostrar que a impermanência é o conceito da vida, mais real e concreto que existe?!

Pilar da filosofia budista...ninguém como os orientais poderia defender com maior acuidade tal princípio...
Eles, que por si mesmos têm a real noção de como tudo é mutável todos os dias, em cada momento; eles, que por isso mesmo são desapegados de tudo, o que para nós, os ocidentais, traduz maior inalterabilidade e segurança...os bens terrenos e materiais...

Há dias li uma frase que dizia :"o ontem já foi...o amanhã pode não chegar..."
John Lennon, o intemporal mito da "Geração de Ouro" apregoava : " o presente é o que acontece enquanto pensamos no futuro", como que a "abanar-nos" para a desvalorização gratuita que frequentemente fazemos de cada momento (esse sim, real) que nos vai ocorrendo.

E no entanto, continuamos angustiados com o fim provável de tudo, sobretudo se esse tudo, julgamos nós, são as nossas "all good things" da vida.

E à conta disso, por vezes, arrastamos situações caducas, perpetuamos estares podres de inviabilidade já, sentires excessivamente "maduros no pé", fora de prazos de validade, carregando com eles uma procissão de insatisfações, males-estares fétidos, acomodações sangrantes, frustrações sem remédio, feridas sem cicatrizantes...

Porquê não fazermos o nosso "carpe diem" singelamente?!...

Porquê, não fruir cada segundo da "ampulheta" na exaustão, sabendo-o irrepetível?!

Porquê, não aceitar como bênçãos simplesmente, tanto os raios de sol e céu azul, como os "castelos" negros amontoados em céus cinzentos de chuva copiosa?!

Porquê não acreditarmos que atrás de "good things" outras "good things" virão e se o não forem tanto, que pelo menos saibamos beber o cálice das que já foram, como um néctar doce e abençoado que nos foi prodigalizado alguma vez no banquete da vida?!

Pois é...isto digo eu para mim, mil vezes, penitenciando-me por saber tão afinadamente a teoria e ser uma "aluna" relapsa na parte experimental...eu, que até sou uma mulher de ciências!!...

Mas pelo menos valerá o esforço, a reflexão, a auto-análise e eu acredito...a persistência no caminho de uma maior perfeição...se lá chegar...

Até lá, façamos coro com os "imortais" e repitamos, pelo menos para nós mesmos :

"LET IT BE" !!...

Anamar

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

"UMA TAREFA TITÂNICA"




Subi da rua faz pouco.
Fui ao Escudeiro dar "dois dedos de prosa" (como diriam aqueles que herdaram a nossa língua), com a minha filha mais nova, que, pasme-se, sempre prefere o Escudeiro (vazio a esta hora), a vir até aqui a casa, paredes meias com o citado local.

Vazia também me sinto hoje...Vazia e "esfalfada"...
Esfalfada, como tendo chegado de palmilhar estrada e estrada...neste dia que resolveu "fechar" pelo meio, instalando um cinzento quase uniforme aqui por cima, perfeitamente enquadrado no que eu considero os requisitos para ser um dia a "abater"...
Abater, auto-abate-se ele no calendário...isso temos todos como certo.
Mas para mim, "abater" agora, é bem mais lato...É deletar, esquecer, pular no mês...fazer de conta que o não sinto...

Maluqueiras...ou então, cansaço mesmo...

Da minha janela, um sétimo andar, como penso já ter referido algures, só vejo o casario inexpressivo duma cidade também ela cada vez mais inexpressiva e incaracterística, poucas "manchas" verdes (por ausência de árvores que "esqueceram" de plantar), alguns aviões já em rota de aeroporto...e nem a minha gaivota hoje "dá as caras"...

A propósito de muita coisa sobre que tenho reflectido e analisado nos últimos dias, concluí uma outra vez como são difíceis as relações humanas, como é gigantesca a tarefa da descodificação de "códigos", de atitudes, de reais personalidades, de posturas...

As linguagens parecem tornar-se herméticas mais e mais, as mensagens parecem sair dum emissor, mas nunca chegar ao receptor, perdendo-se no "éter", por falta de alguma conexão;
os sentimentos esbarram a toda a hora (deixando em desespero quem não os consegue fazer entender)...
Consequentemente, como corolário de tudo isto, o ser humano desinveste, desiste, deixa de acreditar valer a pena, por cansaço, desmotivação, desânimo...

O Homem isola-se, fecha-se, cria fronteiras e ergue muros cada vez mais altos à sua volta, torna-se amargo, desconfiado, ressabiado, gélido por defraudado, quase desumano...

Cada vez mais, as relações a todos os níveis se pautam por contrapartidas, por trocas de interesse pessoal, por oportunismo, por utilidade, por superficialidade...

Cada vez mais se desenvolvem indivíduos a viver em "células" de individualismo, em "cápsulas" de solidão, em "mundos" só e apenas "política e socialmente" adequados, com menor exposição, maior silêncio, menor entrega, ausência de partilha e diálogo.

E todos os dias as pessoas se tornam mais tristes, amargas, calculistas, defendidas, artificiais, sozinhas...indiferentes...

E afinal, todos falamos, "grosso modo", a mesma "língua"...
Todos pugnamos pelos mesmos desideratos...
Todos aspiramos alcançar os mesmos objectivos...
Todos lutamos na fé (enquanto a temos), de dar algum significado, ainda que curto e incipiente, à passagem por estas paragens...
Todos desejaríamos "acolchoar" o mais possível as frustrações, conseguir conviver com o desamor, a incompreensão, a injustiça ou a indiferença, ainda que tantas e tantas vezes os não compreendamos...

Mas tudo parece ser vão...

E envelhecemos a concluir, por cada hora que passa, que a vida apenas nos vai presenteando com "menos-valias" em relação ao que já fomos e não somos mais, em relação aos valores em que já acreditámos e deixámos de o fazer, em relação ao ser humano mais bonito que éramos no princípio da "maratona", e que já não vislumbramos...

E ao contrário do desejável, vamos "virando" monstros" em vez de "gente", vamos ficando "diabos" em vez de "anjos", vamos travestindo o que de melhor tínhamos e ficando infelizes, profundamente infelizes por isso.

E somos forçados a pensar : se não falamos a linguagem dos filhos, dos parceiros, dos pares, de quem divide connosco espaço e vida...será de facto uma tarefa absolutamente titânica, para não concluir que impossível...os povos entenderem-se, o Mundo pacificar-se, o ser humano atingir lampejos da FELICIDADE em que alguma vez, algum dia, em algum lugar "lá atrás", seguramente acreditou...

Anamar

terça-feira, 21 de outubro de 2008

ÁFRICA - 2 "PORQUÊ?..."




















Na continuação do meu último post, que abordava um pouco de África vivenciado por mim há já muitos anos, hoje não pretendo explanar nada, até porque nada de novo poderia aqui infelizmente introduzir a propósito...

Apenas vos confronto com a minha pergunta, sempre recorrente e sempre incrédula:

"COM TANTA TERRA E TANTO MUNDO....PORQUÊ??!!..."

Para quem me ler..."CONTRASTES QUE NÃO SE PODEM ACEITAR..."


"Um milhão de vozes de África"



Anamar

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

"ÁFRICA - RECORDAÇÕES DE ANGOLA"



África também fez parte do meu percurso...

Cheguei a Luanda ao romper de um dia de meio de Novembro, no já recuado ano de 1970.
Saíra da Portela noite dentro, no dia anterior ; abandonara Lisboa com um quase Inverno instalado, e quando na manhã seguinte, a escotilha do avião da Tap se abriu, e aquele sol, aquela cor, aquela luz e aquele calor se enfiaram por ali adentro, sem pudores ou medos de que a intensidade do seu brilho nos cegasse ou o bafo da Terra nos sufocasse, eu percebi que estava em África...

A boca duma "fornalha" tinha-se escancarado, o calor pegajoso já se nos colara à pele, o vermelho da terra e da flor das acácias era indiviso, e os cheiros adocicados invadiam-nos as narinas...

Pela primeira vez, senti, cheirei, "apalpei" outro continente...a África do meu imaginário começava a desvendar-se perante mim, com todos os seus mistérios, os seus fascínios, o seu carisma singular.

Quem pisa esta terra vermelha de argila ou de sangue, jamais a esquece...sempre diz quem lá nasceu ou viveu.

Quem viu estes pôres-de-sol de laranja e roxo, inconfundíveis, jamais encontrará outros iguais...

Quem perscrutou estes horizontes a perder de vista, em lugar algum do Mundo, vai respirar a liberdade que os atravessa...

África não conhece dono, porque aquelas terras nunca poderiam ser espartilhadas.
Não conhece fronteiras, porque nela não há limites para o olhar do Homem...
África nasceu para ser livre, como os animais na savana, como os pássaros que cortam o firmamento, como o tronco do embondeiro desgrenhado, que nenhum abraço humano é capaz de rodear...

E tentar acorrentá-la é um gesto de violência...
Tentar manietá-la...cortar as asas a um pássaro...

E vivi dois anos em Luanda, uma cidade linda, luminosa, despreocupada, provocadoramente irreverente.
A irreverência duma jovem semi-nua em espreguiçamento sonolento.
Uma cidade que descia e se deitava na baía de cores inigualáveis ao nascer e ao pôr do sol.
Uma cidade que se adornava, vaidosa e sensual, quando o rubro das acácias explodia ou quando os jacarandás floriam...

Lembro dessa cidade, as formas generosas e a exuberância das suas negras no requebro do "semba", da "kizomba" ou da "rebita"...
Lembro o colorido do despudor das suas vestes e as suas gargalhadas soltas, no mercado de S.Paulo...

E lembro a Mutamba, a Ilha, a Sagrada Família...a Vila Alice, o Miramar (com o filme no écran e as águas escuras da baía iluminadas pelas cores da noite da cidade, em fundo)...
E lembro a fortaleza e o Forte de S. Miguel na estrada do Cacoaco e a imperial geladinha à nossa espera...
E a barra do Quanza e o Miradouro da Lua, e os bifes do Império, saboreados no terraço, com Luanda aos pés...
O mercado de S. Paulo e o de Quinaxixe, a messe da Força Aérea e as carismáticas moelas em tardes de domingo; o cinema Restauração, e os musseques ali ao lado...
e as "moças" do Bairro Operário...e o pino do calor e a época do cacimbo...e as arcadas do Banco de Angola e a Marginal... sempre a Marginal, onde tive o privilégio de morar...ali, num terceiro andar, num terraço bem por cima do Café Zero.

À minha frente,os coqueiros a bordejar as águas, a brisa da tarde a cair ou o fresco do despontar do dia, a alvoroçarem-me os cabelos e a afagarem-me o rosto.
Á minha frente as cores de fogo, do sol a descer lá p'ras bandas do porto...
Os paquetes acostados, acenando-me saudades de Lisboa...e as gaivotas, nos seus gritos estridentes, acompanhando onda a onda as traineiras em saída para a pesca, ou "acossando-as" à chegada, pela madrugada, quando o "carregamento" era generoso...

Esse "flash", por mais anos que passem, por mais vida que corra, tenho-o tão vívido na minha mente, que parece que sinto ainda o embalo do marulhar modorrento das águas na margem...porque, afinal, como dizia um velho pescador africano - "Quem bebe a água do dembo, jamais esquecerá Angola"...

Anamar











quarta-feira, 15 de outubro de 2008

"O MAGNETISMO DOS NÚMEROS"

O fascínio e o hermetismo encerrados nestas imagens, justificam, só por si, que eu aqui deixe este apontamento, no mínimo, curioso...

Número é um objecto da Matemática usado para descrever quantidade ou medida. O conceito de número provavelmente foi um dos primeiros conceitos matemáticos assimilados pela humanidade no processo de contagem.

O conceito de número na sua forma mais simples, é claramente abstracta e intuitiva; entretanto, foi objecto de estudo de diversos pensadores. Pitágoras, por exemplo, considerava o número a essência e o princípio de todas as coisas; para Schopenhauer o conceito numérico apresenta-se "como a ciência do tempo puro". Outras definições:

* Número é a relação entre a quantidade e a unidade (Newton)
* Número é um composto da unidade (Euclides)
* Número é o resultado da medida de uma grandeza (Brennes)
* Número é uma colecção de objectos de cuja natureza fazemos abstração (Boutroux)
* Número é o resultado da comparação de qualquer grandeza com a unidade (Benjamin Constant)
* Número é o movimento acelerado ou retardado (Aristóteles)
* Número é a representação da pluralidade (Kambly)
* Número é uma colecção de unidades (Condorcet)
* Número é a pluralidade medida pela unidade (Schuller, Natucci)
* Número é a expressão que determina uma quantidade de coisas da mesma espécie (Baltzer)
* Número é a classe de todas as classes equivalente a uma dada classe (Bertrand Russell)

OUTRAS CURIOSIDADES
:

o número 69 é o único que existe cujos algarismos que compõem seu quadrado (692 = 4.761) e o seu cubo (693 = 328.509), formam todos os números entre 0 e 9 sem repetição.

o número 26 é o único que existe, que se encontra entre um quadrado (25 = 52) e um cubo (27 = 33) (provado por Fermat)

Uma pessoa levaria doze dias para contar de 1 até 1 milhão, se demorasse apenas um segundo em cada número. Para chegar a 1 bilião, ela precisaria de 32 anos.

Há 6000 anos, as sociedades primitivas egípcia e suméria viram a necessidade de representar, com desenhos ou símbolos, mecanismos de troca, aferição de colheitas, divisão de terras, etc. Essa é a origem longínqua dos números que utilizamos até hoje.

Com as primeiras cidades sumérias e do Egito (4000 a.C.), desenvolveram-se s prácticas de troca, a agricultura e a necessidade de simbolizá-las.

Numerologia é o estudo das influências e qualidades místicas dos números.
Segundo a numerologia, cada número ou valor numérico é dotado de uma vibração ou essência individual e indicaria tendências de acontecimentos ou de personalidade, apesar de não haver qualquer evidência científica de que os números apresentem tais propriedades.
O filósofo grego Pitágoras, é considerado por alguns numerólogos o pai da numerologia, apesar de não haver qualquer relação entre os cálculos que formam o mapa numerológico e o filósofo grego.
Na verdade, a numerologia é uma derivação da Gematria, um ramo da Cabala, que utiliza o alfabeto hebraico como base.
A numerologia seria então uma adaptação dos princípios da Gematria para o alfabeto romano.

E não pretendo tornar-me mais exaustiva...

Já aqui deixei um "cheirinho" sobre o magnetismo e a magia exercidos pelos números sobre a Humanidade, ao longo dos tempos...







Anamar

"ASSIM VAI A ( DES ) EDUCAÇÃO NESTA TERRA"...

SEM DEMAIS COMENTÁRIOS.....APENAS....."ISTO"....

FALA POR SI, NÃO FALA??!!



Anamar

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

"QUANTO MAIS CONHEÇO OS HOMENS..." - 3



Não resisti a deixar aqui mais uma comovente história, com que frequentes vezes somos surpreendidos pelos animais...

Desta feita, uma "história de amor e gratidão" protagonizada por um homem e um tubarão...o "justiceiro dos mares"!

Quanto temos de facto a aprender!!!...






Anamar