sexta-feira, 24 de outubro de 2008

"ALL GOOD THINGS COME TO AN END..."





"All good things come to an end"...eu diria "always come to an end"...eis o refrão de um tema musical repetidamente ouvido por aí...

Por que será? Porquê esta inevitabilidade, aparentemente este determinismo?!
Será para nos mostrar que a impermanência é o conceito da vida, mais real e concreto que existe?!

Pilar da filosofia budista...ninguém como os orientais poderia defender com maior acuidade tal princípio...
Eles, que por si mesmos têm a real noção de como tudo é mutável todos os dias, em cada momento; eles, que por isso mesmo são desapegados de tudo, o que para nós, os ocidentais, traduz maior inalterabilidade e segurança...os bens terrenos e materiais...

Há dias li uma frase que dizia :"o ontem já foi...o amanhã pode não chegar..."
John Lennon, o intemporal mito da "Geração de Ouro" apregoava : " o presente é o que acontece enquanto pensamos no futuro", como que a "abanar-nos" para a desvalorização gratuita que frequentemente fazemos de cada momento (esse sim, real) que nos vai ocorrendo.

E no entanto, continuamos angustiados com o fim provável de tudo, sobretudo se esse tudo, julgamos nós, são as nossas "all good things" da vida.

E à conta disso, por vezes, arrastamos situações caducas, perpetuamos estares podres de inviabilidade já, sentires excessivamente "maduros no pé", fora de prazos de validade, carregando com eles uma procissão de insatisfações, males-estares fétidos, acomodações sangrantes, frustrações sem remédio, feridas sem cicatrizantes...

Porquê não fazermos o nosso "carpe diem" singelamente?!...

Porquê, não fruir cada segundo da "ampulheta" na exaustão, sabendo-o irrepetível?!

Porquê, não aceitar como bênçãos simplesmente, tanto os raios de sol e céu azul, como os "castelos" negros amontoados em céus cinzentos de chuva copiosa?!

Porquê não acreditarmos que atrás de "good things" outras "good things" virão e se o não forem tanto, que pelo menos saibamos beber o cálice das que já foram, como um néctar doce e abençoado que nos foi prodigalizado alguma vez no banquete da vida?!

Pois é...isto digo eu para mim, mil vezes, penitenciando-me por saber tão afinadamente a teoria e ser uma "aluna" relapsa na parte experimental...eu, que até sou uma mulher de ciências!!...

Mas pelo menos valerá o esforço, a reflexão, a auto-análise e eu acredito...a persistência no caminho de uma maior perfeição...se lá chegar...

Até lá, façamos coro com os "imortais" e repitamos, pelo menos para nós mesmos :

"LET IT BE" !!...

Anamar

4 comentários:

Anónimo disse...

ah bom, fico feliz pelo que vejo e leio aqui.
como sabe, eu estou absolutamente de acordo com tudo isto.
;)
beijinhos

anamar disse...

Pois pois...
"Bem prega Frei Tomás...faz o que ele diz, não faças o que ele faz!!"
é um pouco o meu caso, embora me esforce por me "auto-programar" e "domesticar" psicologicamente.
Mas....estou a "anos-luz"...Tem dias!
Beijinhos e bom fim de semana
Anamar

Anónimo disse...

Olá Ana:

Poema de Mário Cesariny a propósito de louvores e simplificações afins de Álvaro de Campos

Há uma hora, há uma hora certa que um milhão de pessoas está a sair para a rua
Desde as sete e meia da manhã

Se não fosse eu a escrever isto e ainda por cima invocando o Álvaro de Campos
ninguém ligava

Saímos?
Sou um zombi parecido a um ser terrestre do século xx

sou gente-gente, olhos, narinas, bocas

sou uma pessoa feliz mas zombi, quase banqueiro,alfaiate, telefonista,varina,caixeiro desempregado
uns como os outros,
uns dentro dos outros
tossicando, sorrindo
abrindo os sobretudos, descendo aos mictórios pra apanhar os eléctricos

GENTE ATRASADA PARA OS BARCOS PARA O BARREIRO



que afinal ainda lá estava apitando estridentemente
gente de luto,mas silenciosa
mas obrigada a falar para o vizinho da frente
na plataforma veloz do eléctrico em marcha.


GENTE JOVIAL A ACOMPANHAR ENTERROS
e uma mãe triste a aceitar 2 bolos para uma criança que chama de menina
Isto é Lisboa, há uma hora atrás

........

enfim continua, e o poema é muito bonito e fala da crise humana que é muito superior à crise financeira.-


beijos
Fernando

anamar disse...

Olá Fernando
Isto é Lisboa...isto é o Mundo....
há uma hora atrás...
E nós somos todos, de facto, zombies (mesmo os que não deram ainda por isso), no meio da multidão!
Obrigada pelo poema
Um beijo
Anamar