segunda-feira, 19 de abril de 2010

"LEMBRAM-SE ?"....



Nestes Tempos que afinal ainda são pascais, fui ontem, apesar de não ser a aniversariante, surpreendida pelo António, pela Vitória e pelo Quico ( como ele se "arranja"para se auto denominar próximo de Frederico, tanta volta este nome exige na língua), por este "mimo" de que alguns se lembrarão, outros não...não faço ideia se se vendem nas pastelarias a peso, ou não....

Ele eram tremoços, ervilhas, bercinhos (sim porque estes são os bébés), passarinhos...sei lá!
Era o meu pai que me comprava na Suiça ou na Nacional, um cartuchinho com todos os tipos, a peso, e floria dessa forma a minha Páscoa...


O meu pai já cá não está há muito...mas a ternura e o amor vence eternidades!
Por isso me lembrei de compartilhar com vocês, algum do licor que estes bébés têm na barriguinha...porque no meu coração, o doce, o licor, a memória, a saudade e o "quentinho" que estas amêndoas pascais, tão mas tão especiais rechearam em plenitude!!






Anamar











                                                                           

sexta-feira, 16 de abril de 2010

"UMA ESTRANHA EM MIM"

Como sabem, os mais atentos, não estou bem de saúde. Daí vai um passo para a a ausência de vontade de escrever, mais ainda a inspiração do que quer que seja, para lá de uma imperiosa vontade de estar na cama a dormir, quantas vezes profundamente , nove e meia, dez horas....o que tem acontecido com frequência.

Há duas noites, contudo, deparei-me com o início dum filme que já vira no cinema, e que achei tão empolgante, quanto nessa altura : "Uma estranha em mim", que intencionalmente dá nome a este post, com um desempenho magistral duma versátil Jodie Foster.

Aprontei-me p'ro ver desde o início (detesto quem faz "zapping" de programas, apanha bocados aqui, bocados ali, e fica feliz).Mas cada um é como cada qual e vive como quer.

É um trailer, bem concebido, bem conseguido, bem desempenhado, mas o que já na altura aqui comentei neste espaço, creio...não é nada disso, que me empolgou, mas a mensagem que o mesmo, com sabor amargo, nos deixa no fim, cuja veracidade, alguns de nós, infelizmente experimentamos...

E porque a estou a sentir com clara nitidez na pele, no corpo e na alma, desta vez pareceu fazer-me arder uma alma já chamuscada  : até que ponto um acidente traumático (e um acidente traumático pode sê-lo de muitas formas...), condiciona, determina, traz ao de cima, um outro "ALGUÉM" que, do banco dos suplentes, espreitava a altura de fazer substituições na equipa principal?....

Ao ler isto, até eu mesma me assusto...mas o que é um facto, é como é que as condicicionantes adversas de ventos e marés, conseguem trazer o pior (se calhar também o melhor) de um outro ser, um outro alguém, até talvez nosso desconhecido, estanho....um ser que nos leva a um encolher de ombros e nos diz ao ouvido"que se lixe! que importa!...o que é que isso interessa?!"

É um estranho dentro de nós, que nos leva ao mais impensável, ao mais censurável....como se fosse um ser, e é, em ser incógnito até de nós, anarquizante, castigador, humilhador, destruidor....como se  não importasse muito (e se calhar não, para o próprio), o certo, o correcto, o moralmente aceite, o valorativo....como se a frase "quanto pior, melhor....".......fosse a "cabeça" dessa entidade  abstacta mas mandante....

"Há várias formas de morrer....há que descobrir é uma forma de viver"....
Isso é dito no filme e é inteiramente verdade...
Eu não sei como se fica, se pior, se melhor....mas sim diferentes.
Aquela estranha  fará seguramente de nós, outras personagens, outras pessoas, outros indivíduos.... Jamais seremos os mesmos.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

"UMA MÃO CHEIA DE NADA..."

Sabem quando se olha para as mãos e se constata que se tem uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma??
Sabem quando se sopesa a vida e se constata que não valeu muito a pena?
Sabem como, como a areia da praia que nos escoa "safadamente" pelo intervalo dos dedos, a nossa vida vivida assume o papel duma ampulheta, imparável, sem rolha que se lhe coloque, a piscar-nos os "olhinhos" com ar bem malandro e a dizer"não te afobes" porque isto pára mesmo a curto ou a mais longo prazo??!!
Sabem quando o ipê já está de novo a anunciar o Verão, ainda ontem o pinheiro piscava, piscava e dizia..."Jingle bells, jingle bells", e todos fazíamos de conta que éramos profundamente felizes, porque o António era um menino/homem, responsável e aplicado...a "estabanada" da Vitória não tinha mais dentes ou sobrancelhas para "costurar"e no fim do "pelotão" vinha aquele cara sem vergonha, mais para "Robim dos Bosques" ou "pinguço"?

Sabem quando já nos afogamos de episódios feitos memórias, quando acreditamos que se calhar valeu a pena....e nós a ficarmos ainda, mas a ver partir já tantos dos que nos cercaram?

E a vermos portas que rangem e já se vão irreversivelmente fechando?
E mais um domingo, perseguido logo logo, do sábado a seguir?
E sabem quando já perceberam que aquele dia, daquele mês só era um...e o sol, à nossa revelia a tombar para dormir lá ao fundo??!!
E haverá um dia, "esse será o primeiro" em que nada já diz nada a ninguém??!!
E o mar rebentará de mansinho numa areia que foi nossa, mas já não é o mesmo mar...e já não é a mesma areia??

E sabem aquele aniversário em que não houve outro remédio senão convidar o velho, e sentá-lo à cabeceira...sempre com olhos de serviço sobre ele...se se baba, se deixou tombar o guardanapo, se a carne está bem esmigalhada...porque afinal, aquele "estulpício" tinha que lá estar??!!
E na cabeceira da cama, ao lado da imagem de Fátima...mesmo para os ateus, a corte dos mortos, feitos urubus à espera, apenas à espera...e a lixar aquele filme de domingo, porque é dia de visita....e "lá terá que ser"??!!

Sabem....vocês sabem todos! Fazemos de conta que não!

"Olha eu aqui com vinte anos"....olha  quando peguei pela primeira vez no "embrulhinho" e já está na Faculdade...

Sabem...vocês sabem todos! Fazem é de conta que não!,,,

e  nós rodeados de arcas cheias, mas que bem podiam estar vazias, porque "o disco rígido" não é lá que está!!...
Olhem com atenção e muitas vezes para as vossas mãos, elas são apenas o suporte que o velho foi enchendo, enchendo, pôs nas costas e percebeu, como diz a Lena, que aquilo foi a sua VIDA!!...

Anamar

sexta-feira, 2 de abril de 2010

"A CLAREZA DUMA FRASE"...


Sempre advoguei a eutanásia, nos humanos, nos animais...sempre que isso parecesse ser a última das últimas alternativas...e como sempre achei óbvio e fácil, determinar a fronteira entre o momento X e o momento Y, ou seja, o momento da vida e o momento da morte.!

Ontem, mercê duma frase que o meu médico me disse, percebi, quão difícil será determinar esse cliché em que se diz: "desliga a máquina"!...
A partir daqui, eu determino que este ser, deixou de existir "ad eternum", para mim...

Da conversa tida num consultório de psiquiatria, o médico, a certa altura disse-me: "deixe desligar a máquina! Esse luto tem que fazer-se...e para haver luto, tem que haver defunto...e para que haja defunto , tem que "desligar as máquinas"....
Desligue, ou deixe desligar as máquinas. Saia daquele quarto hospitalar, respire fundo e encare o sol cá fora, porque o seu breu, a sua chuva, o seu tempo pardo, dura há demasiado tempo...
Só há luto, se houver corpo, e só há corpo se a manutenção mais do que artificial duma vida, que se calhar nunca foi vida, foi invenção, foi criação sua, foi fantasia, cessar de durar, porque já existe há tempo demais...

E eu pensei : meu Deus, quantos dias, meses, anos, levará um pai a decidir, um marido a resolver, um simples caso dum animal (e eu tive recentemente essa experiência)...a mandar desligar as máquinas!!!...

Porque afinal, são aquelas máquinas que mantêm com valor ou sem, com interesse ou não, com finalidade ou não, aquele morto-vivo, vivo ou morto, no nosso espírito, no nosso coração, na nossa alma...ainda que no assunto em apreço, este "morto" esteja bem vivo, tenha querer, tenha desejos, tenha vontades, não esteja nun estado letárgico, de amiba feito homem...

Terei o direito de prender nas minhas mãos uma ave que sente os perfumes da Primavera lá fora?
Terei o poder de parar o mar livre a bater no rochedo, para todo o sempre?
Poderei manietar uma criança, num quarto, e deixá-la lá, esquecida?
Poderei prender correntes aos pés de quem já nasceu livre?...

Não devo ter...não posso ter...chega a ser criminoso...
É como queimar a seara que no pino do Verão, no meu Alentejo, aguarda para ser ceifada e dar pão!...
É como secar à míngua de água, aquela flor que já me iluminou os olhos de tanta beleza...
É como cortar as mãos que já me acariciaram e deram tanta paz...

Meu Deus!!...Tenho que desligar aquelas máquinas!!!!....

Anamar

segunda-feira, 29 de março de 2010

"QUE ALTAS, QUE BAIXAS...."



"Que altas, que baixas, em Abril calham as Páscoas...."

Sempre ouvi este ditado popular, da boca da minha mãe. Este ano, felizmente, ainda voltei a ouvi-lo, de viva voz...
Haverá tempo em que será a memória do coração que mo lembrará....a este e muitos outros. É assim que se cria a memória colectiva, que é um património de um povo, penso...

Estou há quatro meses em casa, com uma depressão, isto, para explicar da irregularidade da minha vinda aqui.
Passei a saturar-me das coisas que mais gostava, quando trabalhava...e o PC foi uma delas. O sono, a falta de disposição, a saturação, têm-me impedido até de respirar o oxigénio de que dependo...escrever!

Bom, entretanto a  Primavera está aí, meio encolhidita, sem a pujança que todos ansiamos.
A fazer jus ao companheiro, de má memória que nos deixou, deverá ser para valer, e breve breve, tudo quanto é borboto rebentará, tudo quanto é botão dará flores e flores, o tempo amainará e, dizem, o ser humano também começará a senti-la germinar dentro de si...

A minha gaivota é que, sem borrascas no mar, não recuará a terra, e duvido que venha por aqui ver a minha presença, trazer-me os seus sonhos longos de asas estendidas, porque não terá como planar, haverá muito peixe bem à beirinha da praia, e no próximo Inverno, logo virá por aqui, ver se eu ainda aqui moro...

Faz exactamente um ano, no dia de hoje, eu estava bem longe, no Gerês, numa daquelas fugazinhas que dificilmente repetirei....respirando aquele outro mundo, vivendo aqueles outros dias, aqueles cheiros, aquelas cores, aquela natureza "à borla"...e recordo que tudo estava já muito florido...inclusive a minha alma!!!

Este ano, por dentro e por fora, estou tal como a minha saúde, e este fim de tarde, chuvosa, desabrida, desconfortável!!!

Lembrei agora...será que o alecrim da minha infância com que se atapetava o tempo, naquela vilória do Alentejo, lá do fundo, já floresceu?
Será que a glicicínia e a flor da Páscoa, imaculada, que rodeava festivamente o andor da "Senhora de ao pé da Cruz" já floresceu?
E olhem que eu sou agnóstica....mas na minha tenra, muito tenra infância, fui, de asinhas, coroinha, descalça e com um cestinho de pétalas nas mãos, ao lado da "Senhora"....a quem eu se calhar, ainda atribuia todos os poderes de, pela vida fora, me vir a tornar, senão total, imensamente feliz!!!....

Anamar

terça-feira, 23 de março de 2010

"É-SE FELIZ SEM SABER!..."





E o Ray era rei do maior reinado que há....a Terra....Era rei do nada e do tudo, naquele rio Martha Brea....
Na sua jangada, orientada e movida com um longo bastão, tinha a Terra por sua conta....
Não se colhe nada que a Terra dê....a Terra quando quer, devolve ao homem o fruto maduro, a raiz pronta a comer...
O Homem tem água, tem aquelas águas mansas navegáveis, tem o trauteio da sua melopeia lenta, tem o marulhar do caudal que se deixa navegar para cima, para baixo, tem as sombras, tem os verdes, as cores dum matiz, que nenhum pincel ninguém nunca soube pintar...tem o canto, o pipilar, o grito que corta o espaço e o silêncio depois...

O Ray tem os seus trajes andrajosos que me me atreveria a dizer que são sempre os mesmos, tem o cabelo enrolado na cabeça como "rasta" que é, dizem os colegas "hierárquicos", que tem um cabelo que arrasta no chão....e fala muito pouco, quase nada....

Que inveja!.... a civilização "incivilizada" "faz" poucos seres tão livres, como o "rasta" Ray da Jamaica...



Vem ver! Como é possível, este por de sol, estes laranjas, esta brisa que convida a desbravar....e a floresta virgem com os cheiros doces e frutados, de tudo o que por lá exista...e não sabemos o que é!...
Os hibiscos, os coralillos mexicanos, as buganvílias, outros e os mesmos verdes....outra e a mesma Terra....o mar rebentando ténue, nos rochedos da beira....

Vê! Que espectáculo! O frescor da tarde a chamar-nos para fora, a curiosidade de tudo ver antes que se quebrasse o sortilégio, a apelar-nos para dentro, a Gros e a Petit Piton, indemovíveies....anos e anos, séculos e séculos....milénios e milénios....e gerações a passar, e a mata a fazer-se, a crescer, indiferentes, os gigantes a contemplar os pigmeus...aos seus pés...
E a água , turquesa, ágata, translúcida....e os peixes, ali, ao alcance duma mão....

Vem ver!.... Amanhã, jé é outro dia, outras cores, outros plúmbeos, laranjas, azuis....porque nós também já não somos os mesmos....

Eu juro, que cheiro aqui e agora, tudo...que vejo aqui e agora, tudo, que oiço aqui e agora, tudo....meu Deus, não parar o tempo é um crime....deixar que a ampulheta continue, grão a grão a correr, um desatino...um atentado...uma provocação!....
Deus me valha...Deus me acuda....mas eu parei lá atrás....no tempo em que era feliz e não sabia!......

Anamar

segunda-feira, 22 de março de 2010

"SE EU FOSSE CRIANÇA..."

Se eu neste momento fosse criança, no mínimo que estaria era assim...
Chegada da rua, depois de toda uma tarde num consultório médico, com uma dor de cabeça daquelas de amarinhar paredes, pedindo a Deus e às almas uma caminha, um gato, um saco de água quente e silêncio...constato à entrada da porta, um mar de água, que já encharcava o tapete.
Abro a porta do contador, e cai de lá uma enxurrada, levando a suspeitar numa verdadeira hecatombe.
Fechei de imediato a torneira de segurança, mas a água persistiu e persiste em cair, depois, a corrida à lista telefónica para localizar um número operacional a esta hora, da CMA, dos SMAS, do raio que os parta....telefone p'ro piquete (que não responde), telefone para os serviços de roturas na via pública....como se isto fosse via pública (eu já estava por tudo...)... depois tem que se  abrir um roço,  é necessário um canalisador...mas ao abrir o roço como o tubo é de chumbo, pode fissurar e então espicha água por todo o lado....enfim....não vos canso mais....
Juro que vou dormir de braçadeiras, e se amanhã eu ainda estiver viva...ponham no jornal, porque neste pobre país, roturas, avarias e quejandos, só a horas normais de expediente!!!!
Por vias das dúvidas, tenha sempre consigo, um kit de bombeiragem, canalização, abertura de portas, iluminação, tipo petromax...e o que mais se lembrarem.

E nas vossas orações nocturnas, peçam ao anjinho de serviço, que tenha em conta que o céu não paga horas extraordinárias...

Anamar

segunda-feira, 15 de março de 2010

"E A GENTE A ENVELHECER...."

E a gente a envelhecer...
Quando a droga do comprimido de 15 mg, que devia render até de manhã, à uma hora, já não faz efeito...e a "outra", armada em mãe diz, com ar sabedor: "tomas primeiro   uma cápsula de 15mg e depois, se for preciso, tomas outra para repor os trinta que o médico prescrevera antes"....

E a gente a envelhecer... quando jurava que tinha posto à cabeceira, a cápsula sobressalente, para, se fosse o caso, não espantar o sono...e quando gastas todas as hipóteses a cápsula levou "chá de sumiço"....vai-se à cozinha buscar outra, e o sono que devia discretamente manter-se, já tinha ido p'ro espaço....a maldita aparece no tapete!
No tapete ela, porque o sono emigrou!!!!

E a gente a envelhecer...quando a a Cláudia telefona e diz: "Mãe, o António tem umas dúvidas para te por; e eu....pronto, estou f..... (não se pode dizer) e sai o pirralho e diz : "Vó, o petróleo é uma rocha líquida....certo?? Constituída por o quê??....
Vá lá dizer àquela meia leca de gente de 8 anos... o que são hidrocarbonetos???!!!! E gesso??? Gesso então....é tabu!!
Que vontade de assobiar para o alto, e fazer de conta que não se ouviu nada!!
nesta mania das interactividades, com pais e avós!!! A gente engolia e calava!!!!!

E a gente a envelhecer, quando magistralmente, a outra acha que "o alemão" já tomou conta da família inteira, e a única que se safa é ela...claro!!
E diz... a avó com 89 já ultrapassou pais, irmãos....todos!
Tens que te ir mentalizando...... (mas aquilo sai tão pouco convincente, que se vê logo é que ela é que não quer pensar no assunto!!)

E morre o cão. E agora, mãe, é certo que a avó vai atrás! Nada disso...há que ocupá-la com naperons de cozinha linha 6...até p'ra empregada!!!

E a gente a envelhecer, quando a "desdentada" da família, acha a avó senil porque não articula um daqueles nomes horrorosos dos bonecos animados!!! Ainda se fosse a Branca de Neve, o Kalimero, o Tom e o Jerry....

E a gente a envelhecer quando vê aquele pinguço com cara de Robim dos Bosques...a repetir o que ouve e ninguém percebe nada....sempre a rir (do mal, o menos....)

E a gente a envelhecer quando injustamente dei em ter fome, são duas e meia da manhã....a Rita borrifa-se p'ra estas frescuras, quer lá saber que eu tenha outra insónia.......

Afinal, como se pode não envelhecer neste "esquema" maluco?????

Muito sã estou eu!!!

Anamar

domingo, 14 de março de 2010

"POR ESTAS E POR OUTRAS É QUE ADÃO COMEU ( OU MORDISCOU ?) A MAÇÃ...."

Fiz a maior burrice que se pode fazer: às 8 da noite pendia de sono sobre o teclado do PC e pensei..."não dá, não dou uma p'ra caixa...Que se lixe o jantar, mas como tenho medicamentos a tomar, uma fatia de bolo, um copo de leite substituem a refeição; a Rita, o saco de água quente e o mundo que desabe..."

Claro que nestas circunstâncias e com lençóis térmicos, em quaisquer 5 minutos e já estava do outro lado....
E assim foi, até que às famigeradas onze da noite, tinha a noite feita. Olho arregalado e vá de Morfex 30mg....quais 15 que o médico prescrevera!!!!
Aninhei-me, anichei-me o mais comodamente que pude, e dispus-me a contar carneiros, visto que nem vislumbre de sono. São estas lindas horas, (três e meia da manhã) já "encroquetei" na cama, dez vezes para a direita, outras dez p'ra esquerda e como....nada de sono.... pensei:"vou levantar-me e contar uma história" que estava mesmo aqui debaixo da língua...

Então é assim:
Pedro e Heloísa mantinham uma relação afectiva, com os seus altos e os seus baixos, como todas as relações afectivas. Durava há largos anos, mas tinha a pecularidade de Heloísa ser bem mais velha que Pedro. Ela já se habituara aos olhos gulosos dele, que do seu quintal, catrapiscava sempre a fruta do quintal alheio, naquela de "a galinha da minha vizinha..."

Tudo corria aparentemente duma forma calma, quando Pedro achou que já perdera muito tempo na vida, que já estava na gare daquela estação sempre a ver os comboios passar, passar, e não apanhar nenhum...enfim, os desígnios insondáveis da natureza humana.
Reencontra uma ex, temporária...qualquer coisa, amiga, lá de trás, a Alexandra e desencava-a para uma nova vida a dois.

Claro que Heloísa foi às urtigas e Pedro iniciou o maior "love" com Alexandra.
Apenas, os anos não trazem só rugas e cabelos brancos, e Heloísa arquitectou uma frente de combate.Vestiu-se "p'ra matar", de acordo com as circunstâncias, claro (que era um "departamento" a que Pedro sempre fora vulnerável, uma mulher discreta, bem vestida, com presença...)

E dirigiu-se a uma sala de espectáculos, para ver um filme estreante, com um, senão o melhor actor que Pedro apreciava. Era altamente provável o encontro a três.
E assim foi.
Heloísa pôs um ar distraído e distante, de quem vê montras num Centro Comercial, e de repente, como quem não quer a coisa, olha p'ro lado e diz: Olha que giro, há quanto tempo, Pedro! É a tua nova namorada?
Pedro apanhado de surpresa diz: "Sim, é a Alexandra e esta é"..... "a Isabel", respondeu rapidamente Heloísa. "Muito gosto"!
"Bem me tinha alguém dito, que acabaras aquela relação longa, com uma pessoa bem mais velha que tu.....Agora, para contrabalançar, arranjaste uma namorada que podia ser tua aluna....rsrsrs"
Vim ver este filme que estreou com aquele actor imperdível!... Vocês se calhar, também!"
Bem, tive muito gosto, não vos roubo mais tempo.
Eu, também terminei recentemente uma relação....que coincidência!...Então, namorem muito, e boa sorte! Eu costumo sempre dizer (dirigindo-se com um largo sorriso à Alexandra), que é preciso ter sorte com os homens...com uns, mais que com outros...rsrsrs"

E com o Pedro? -  perguntou a franganota. - o que me diz, Isabel, você que já o conhece bem???

Heloísa/Isabel fixou  Pedro bem nos olhos, intencionalmente, e dirigiu-se à Alexandra....."O Pedro? (como quem pára para se concentrar...)....o Pedro, será a sua sagacidade (duvido que soubesse o que era...), inteligência (outro calcanhar de Aquiles), e perspicácia, que lhe responderão a isso ao longo dos tempos!!...."

Pedro que já "os" estava a sentir entalados disse: "Então e com as mulheres, não é preciso ter sorte?... - perguntou com ar de quem diz : pago p'ra ver....

Heloísa/Isabel fez uma pausa estudada, e respondeu: "Com as mulheres.....é sobretudo preciso é... saber escolhê-las!!..."

O sorriso de Pedro ficou amarelo...e cá p'ra mim o pastelinho de feijão comido pouco antes, começava a entruviscar-se-lhe no estômago

E afastaram-se.
Heloísa não aguentaria muito mais tempo aquele skecht teatral....as lágrimas estavam já a rebentar....
A franganota sentia que havia ali qualquer coisa que não jogava....mas não percebia o quê, e limitou-se a dizer , só p'ra não ficar calada: "Simpática esta tua amiga!"....
Pedro estava calado, fechado, não podia "dar bandeira", mas só dizia p'ra dentro de si: "Filha da p.... ; agora é que eu percebo por que não se deve minimizar a inteligência das mulheres maduras!!..."

Não sei, mas acho que o filme não lhe assentou muito bem!....
E acho também que as mulheres são umas "cascavéis"!!!!!......  rsrsrs

Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

Anamar

sexta-feira, 12 de março de 2010

"E DE REPENTE...A PAZ..."


"A tradição já não é o que era"....impingem-nos num anúncio televisivo....sim, não, talvez....
Como não há regra sem excepção, e como desde os meus seis aninhos me ensinaram....a Primavera está aí a despontar (oficialmente a 21 deste mês), e para 21 já falta tão pouco, que o sol veio só lembrar os desmemoriados e fazer acreditar os cépticos, que quer o homem acredite ou não...aí temos a renovação a operar-se bem frente aos nossos olhos, aos nossos narizes....às nossas mãos....

O sol irrompeu, não muito forte, como convinha, num céu todo ele azul límpido, a luz tornou as cores menos esbatidas, os olhos analisam a primeira promessa de borbotos em explosão.... e até os braços se preparam para carregar os primeiros ramos de giestas, de alecrim, de alfazema, de junquilhos, narcisos, ou mesmo de singela macela salpicada de onde em onde de papoilas envergonhadas...
Nos campos já se ouve o cuco, o melro de bico amarelo e a pôpa já carrega gravetos para o futuro ninho...

Ainda ontem houve cataclismos horrorosos cujo ónus muitos choram até hoje, e assim, como que num milagre, tudo acalmou, em tudo se fez paz, e a promessa de que sempre será assim, aí está...feita pela Natureza....que desta forma mostra a insignificância do ser humano face à sua pujança, face à sua real determinação...

Estou a escrever inundada deste sol meio envergonhado da tarde, a minha gaivota emigrou para o seu habitat natural, as areias que recebem o rendilhado da espuma mansa.
Imagino que o mar estará igualmente em paz consigo próprio, imagino os areais pejados de gaivotas recepcionando os barcos recém chegados da faina, e uma espécie de acalmia no coração vai tomando conta, de mansinho, de todo o nosso universo, e se calhar promessas nunca feitas, flutuam pelos ares fora, como dizendo ao ser humano que se pacifique porque inevitavelmente, cada dia é simplesmente uma conta do rosário que nos cabe desfiar até ao fim....

Não posso dizer que estou feliz, esperançada, ansiosa....Não espero nada em particular na minha vida, em mais uma Primavera que se avizinha....mas não posso negar que estes raios serenos de um sol que experimenta descer mansamente no infinito, de alguma forma apaziguaram o meu coração tão encapelado, a minha mente tão conturbada, o meu espírito que está exangue de sangrar...

Há uma espécie de promessa latente, não sei bem do quê....
O ser humano não a sabe ler...só a adivinha...
Os cheiros adocicados de tudo o que vai por aí "estourar", também se anunciam....e sempre irão fazer ver ao homem, que aproxima a sua paleta de cores, daquela que jamais alcançará....
Uma espécie de quietude, de serenidade, de silêncio interior remete cada um de nós, ao estado embrionário do ventre materno...não esquecendo nunca, que a Mãe, é a Natureza, que nos prodigalizará sempre aquilo que ela entender...

Anamar

quarta-feira, 10 de março de 2010

"A MOCHILINHA..."


Posted by Picasa
Hoje eu ganhei uma mala nova....A bem dizer, aquilo lá não é uma mala, é uma mochilita que me assenta lindamente às costas, e não tem marca, porque o valor daquela mochilita, não vem do Louis Vuiton, Valentino, Ana Salazar, etc

Encontrei-a meio aberta, num daqueles jardins de outono, de folhas amarelecidas, castanhas e vermelhas, que a  brisa faz rodopiar pelo chão.
Olhei-a por dentro e por fora. Por fora já estava meio estragadita, mas de dentro, começaram a espreitar, um polichinelo, um cavalinho de balancé, um arlequim, uma bruxinha de vassoura um "sempre em pé"....e eu perguntei-me a quem pertenceriam aqueles tesouros....

E pensei que aquela mochila, sem ser de "griffe " era mais valiosa que todas as que eu já usara....

Experimentei meter a mão e sabem o que de lá saíu? Um boneco de neve com nariz de cenoura, que o arrebitou ainda mais e disse : "Não queres brincar comigo??"
Eu fiquei baralhada de surpresa, e disse-lhe : "Mas não vês que eu já sou muito velha p'ra brincar com vocês?"
E ele, rápido na resposta, logo retorquiu : "Isso é que tu te enganas, porque nesta mochila não há idade limite p'ros sonhos....e tu podes sempre sonhar que és uma menina que vais a uma festa com estes amigos!!" Aqui há muita luz, muita paz, farandolas, músicas de roda....aí fora é que deve ser chato!"
"Mas vou contar-te um segredo : aqui, a gente todos os dias sonha um sonho novo; ao fim de semana ou em ocasiões especiais que é o caso de hoje, vestimo-nos de gente grande e vamos explorar tudo p'ra lá da mochilita....
Também podes ter os teus sonhos por aí.....tens é que saber fazer deles "sonhos de gente grande, a que se chama realidade" ....
Tens é que saber viver com o que carregas nas costas e com o que vês neste parque de folhas esmaecidas....
Tudo tem o seu tempo...é impossível ser criança outra vez....apenas não fiques eternamente criança!
Tens muito mais com que brincares, fora do escuro da nossa mochilinha, do que quando a carregavas nas costas, lembras??

"E agora, que sabes que entre o mundo do polichinelo e esse que está à espera que seja outra vez Primavera, vai apenas a distância desta mochila e da tua capacidade de crescer...agarra os dois e vive-os em paz.....ambos têm a cor dos nenúfares no lago....ambos têm a cor do arco-íris do céu e ambos te esperam, com o cheiro dos narcisos que qualquer dia vão desabrochar...

Anamar

segunda-feira, 8 de março de 2010

"ESTE COLOMBO É UM TRATADO..."


  Entrei no Colombo e pensei: aqui temos nós o itinerário privilegiado para pelo menos os próximos trinta anos, atendendo a que o meu pai faleceu aos noventa e a minha mãe, beira os oitenta e nove...

E então qual o maravilhoso, quanto emocionante programa de domingo ?

Após um pequeno almoço super tardio, nunca antes das 3h, graças ao sono e por sua vez graças à medicação, arranjei-me e passarei ainda a produzir-me melhor, assim  como quem vai de passeio importante, como quem vai a um encontro com amigos, assim como quem espera o príncipe encantado  ao virar da esquina, (porque nestas coisas nunca se sabe) e não como quem vai informalmente às compras...

Cheguei a Colombo, dia de jogo na Luz (portanto imaginem a frequência(?), dirigi-me às bilheteiras dos cinemas, e embora já tivesse jurado não voltar a ver filmes entre pipocas. coca-colas, gomas ou catinga, lá comprei um bilhete para um filme que me interessava, e como faltavam duas horas e meia para o dito, fui tomar assento na sala de visitas do Colombo.

De facto, este centro é um "tratado"...

Tive que esperar que ficasse livre uma "fauteil", o que não é nada fácil, muito menos hoje, e acomodei-me.
Troquei os óculos escuros que conseguiam tornar mais escura a claridade razoável ainda do dia, lá fora, e comecei a analisar quem dividia aquele espaço comigo...

Ao meu lado, uma senhora aí de setenta anos, sem revista, sem jornal nem nada, (porque há muito esse uso), de casaco comprido tipo rainha de Inglaterra, "camel", chapéu de abinhas reviradas, com o cabelo enrolado atrás, acompanhando-o, gola de pele, mala de mão em ouro velho, maquilhada cuidadosamente, via-se que era passante, mas figurante também..
Esteve todo o tempo que eu também estive, com um rosto fechado, que não demonstrava emoções... sem um sorriso, sem um esgar de nada. Não alterou a "pose", nem quando um "aluado" decidiu fotografar-se deitado no chão, ao comprido, situação, pelo menos inusitada!!

Há depois os "habitués" que dormem a sono solto, sem receio sequer de serem roubados. Babam-se, roncam, deixam descair as cabeças....enfim, eu sou muito mázinha!!...
Há aqueles de cuja turma eu passarei a fazer parte, que são os "voyeuristas"....gostam de olhar, mas também de ver...e hás os que se se despedem, como tendo certa a companhia semanal, quiçá diária ...

No Colombo tiram-se muitas fotografias. Os bandos de chinocas adoram por fundo, aquelas palmeiras imensas, e também há os papás babados com as criancinhas, para  quem serve qualquer fundo, desde que elas estejam lá...
Só falta ser servido um chazinho com bolos, como corolário daqueles auspiciosos fins de tarde....

Chegou a hora do filme, fui vê-lo, claro, depois jantei num dos muitos restaurantes que por lá grassam, paguei e vim para casa...

As lágrimas caíam-me em tal profusão cara abaixo, que nem vi uma cancela que existe agora na entrada da garagem onde guardo o carro.
O vigilante, que já me conhece há muitos anos, dizia-me:"tenha calma, não aconteceu felizmente nada aqui....mas já vinha a chorar, por isso não viu....foi alguma coisa grave, que lhe aconteceu?...."

Eu, agradeci e entrecortadamente disse-lhe; "sim....de facto muito grave!"....Não adiantava dizer-lhe mais nada, óbvio! E enquanto os soluços engolidos, daquela solidão que eu lá adivinhei,e carreguei comigo, faziam-me dizer :"eu não quero isto p'ra minha vida!...Isto, para mim, não dá!....

Tenhamos esperança,,,pode ser que eu não tenha a longevidade dos meus progenitores....

Anamar

quarta-feira, 3 de março de 2010

" A FORÇA DO ACREDITAR...."

Vi há escassos dias, um filme que tem à cabeça nomes insuspeitos e que são cartões de visita, para que eu aqui, humildemente, pouco tenha a acrescentar; Clint Eastood como realizador, Morgan Freeman e Matt Damon, como artistas principais.

O nome da película "Invictus", que eu teria trocado, na boa, pela "Força do acreditar" ....que me pareceria mais consentâneo pelo enredo....

O filme roda em torno do fim do Apartheid na África do Sul, indiciando a política seguida por Nelson Mandela, depois do vergonhoso cativeiro ,até 1990, e da sua consequente libertação depois de 27 anos de um regime racista levado às últimas consequências.

"Eu sou dono do meu destino, capitão da minha alma" frases ditas por Mandela sobre si mesmo, são slogans bem mais latos e abrangentes...
Clint Eastood nos seus quase oitenta anos, não perde a oportunidade para transmitir, que para qualquer causa, é a força do querer sobre um crer genuíno e unificador, que impulsionará o homem para metas quase impossíveis de atingir...

Alguém que parte, para o que quer que seja, com o estigma da derrota, da incredulidade, com uma auto-estima e valorização em dúvida....não chegará efectivamente lá!!...

Acreditar-se na força do timoneiro, criar uma vontade inabalável em torno de uma causa quase impossível, será seguramente o esteio, o farol, a tocha olímpica, que arregimentará à sua volta a força inquebrável, de um tsunami atingindo a praia!!!
A força do querer, unificadora de uma causa comum, move montanhas, estimula a confiança, é o real motor de arranque, em qualquer domínio da vida....

Isso é o que me falta a mim....e isso é o que torna esta película como uma mensagem invulnerável!!!....."Uma boa cabeça e um bom coração, fazem uma excelente combinação!...." - Nelson Mandela

Não deixem de ver....e depois, digam-me....Simplesmente EMPOLGANTE!....

Anamar
 

terça-feira, 2 de março de 2010

"ISTO DO SER E NÃO SER...."


Não sei muito bem explicar, estou triste como as nuvens carregadas com que o céu por aqui fechou....
A minha cabeça está muito entruviscada, que acho que foi uma palavra que eu inventei e que se calhar só na minha cabeça faz sentido....
Quando eu digo "entruviscada", é porque a coisa está preta....Explicando melhor...preciso urgentemente de escrever.... (tenho a água pelo gargalo) e nada de parir nada de nada...
Estou naquelas circunstâncias de que já vos tenho falado, de mais uma letra e entorna o caldo....

Antevejo muitas tardes como hoje, em que estou repleta, mas entupida....
A minha cabeça está p'ra montanha russa, tudo confuso, tudo "almareado" (esta não é invenção)....e pergunto-me: sobre que porra de assunto eu vou falar????

Dos antidepressivos, salto para os ansiolíticos, e volto aos antidepressivos....hoje estou tonta, azamboada (difícil esclarecer à minha filha mais velha, se menos tonta, se igualmente tonta....quantas vacilações no andar p'ra direita, contra quantas p'ra esquerda)....como se isto se medisse assim....

Dei a terceira queda, acho, apesar de tudo, felizmente cá em casa, senão o estrago seria seguramente maior, parece que estou sempre debaixo do efeito de uns "birinights"e lá me vou equilibrando no salto alto (sim porque não me presto a grandes interrogatórios)...O pior é quando tenho que me amparar a uma ombreira, a um corrimão....sei lá! E é aí que eu vejo, que mesmo dormindo muito, sobram horas e horas nestes dias que por acaso estão a ser "compinchas  à brava", com o que nos dão cá p'ra baixo!!!!

Isto é assim, eu incontestavelmente não estou lá muito sã.....mas depois vejo o mundo dos "mortais normais" e só encontro gente à beira dos Morfex, dos Bromalexes, dos Prozacs.....cada qual arrastando um alforge pior que o outro....e estou extenuada, desta oscilação entre o vazio de alma, quando aquela profusão de cápsulas, comprimidos, bolinhas de todas as cores, e outros que tais,  estão a actuar, e a dor que chega a ser física, da subida da ansiedade e da angústia....

E pronto, isto é uma pescadinha de rabo na boca, entre um mundo de lá (que não está tão longe como isso), e um mundo de cá, para o qual não estão "despertos" , mas caminham a passos largos rumo a um qualquer Inferno, aqui mesmo, pela Terra....É tudo uma questão de tempo e de resistência...

Perdoem esta visão apocalíptica ....mas a minha vida é exactamente assim...não inventei nada...juro!

Anamar

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

"O MUNDO DOS LOUCOS"


Hoje estou num aquário vazio.
Imagino uma jaula de paredes de vidro, assim como os aquários de peixes de água quente. Não estou presa, mas estou...o meu cérebro parece parado.
As paredes são de vidro porque vejo tudo e oiço tudo à minha volta, mas é como se não pudesse comunicar...

Estou efectivamente parada, inerte, incapaz; o cérebro lembra uma daquelas gavetas que não arrumamos há séculos, tal o caos e o desalinho que a preenchem. Tem tudo...só nós é que não achamos nada...

Faço e esqueço no instante seguinte...."pus creme? "Não pus creme?""dei os medicamentos à Rita ou isso foi ontem?'"
Na rua, ando como imagino que um ébrio ande. Fazer movimentos bruscos, não devo, porque todo o corpo tomba nessa direcção. À conta disso já dei três quedas que poderiam ter sido graves.

Desculpem trazer isto aqui, mas só me sinto bem , neste quarto, frente a esta frincha que se abre ao mundo, o PC, com o radiador e a Rita aos meus pés, o casario da cidade a desfilar à minha frente ...e assim como que a dormir acordada.

Felizmente o dia está cinzento e modorrenho.... Odiaria que hoje houvesse  sol...Parece que o cinzento uniforme que está sobre a minha cabeça, tem o poder de me aconchegar, de me envolver.
Se houvesse sol, penalizar-me-ia de ter saído da cama, ou melhor, ter sido acordada pelo telemóvel, ás 2 e tal da tarde...teria perdido um dos meus motores de arranque....o dourado cólo da mãe, que sempre é uma nesga de sol.

Estou a ficar preocupada (desculpem-me dividir isto convosco), mas, ou estou indiferente a tudo  ( se me sinto neste mundo), ou me isolo, porque não tenho paciência para "fazer sala" a ninguém; vejo o mundo inertemente de dentro para fora do tal aquário protector de vidro, fazendo e não fazendo parte desse mesmo mundo. Parece que neste momento, tudo o que bate em mim, faz ricochete, como se estivesse revestida de uma pele impermeável, onde as gotas de chuva não molham, menos ainda empapam...
Estou porque estou, vivo porque vivo, faço ou não faço e estou-me nas tintas seja qual for a escolha feita!

Parece que fui aqui largada de um outro planeta. Neste, tenho comigo a escrita, a música (alguma), e esta cabeça oca em cima dos ombros, sem qualquer préstimo...e eu, como que sentada numa falésia, de olhar perdido no mar, que vai e que vem....nenhuma perturbação, silêncio apenas, e uma indiferença total a que o Mundo caia e eu não dê por isso...

Este é o mundo dos loucos, não é? E pelos vistos não é difícil transpor o muro!...

Anamar

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"Miau-miau"




Faz toda a diferença ter um amigo....

Ontem encontrei um, que de certeza era jardineiro....
Ele disse-me que tinha um malmequer, mas cá para mim, também havia de gostar de ter margaridas e girassóis...
Tinha uns olhos de menino traquina, arregalados, olhos puros e crentes...
Que engraçado, lembrei agora que ainda há olhos puros e crentes....

Era um amigo tão amigo, que até pediu para que eu não chorasse mais...eu, que estava tão triste;
conseguiu que por instantes eu esquecesse o que me havia feito correr aquele "caudal", pela cara abaixo...e passou a haver sol no meu quarto...

Ele não tinha, mas já o vejo com um macacão azul, um avental, um chapéu de palha e um regador, de joelhos em terra, a caçar às flores, sorrisos, como fez comigo....

Aquele meu amigo, tem o nome de "miau-miau" (ainda não apurei bem porquê...), e desatou a mimar-me desde então.... (ele deve ter percebido que eu continuo a ser o tal saco roto de afecto, que ainda ninguém costurou), e deixa-me sonhos de arco íris, beijos recheados de sol, diz que eu sou uma fada linda do bosque encantado,  onde em sonhos nos conhecemos, manda-me beijos com chocolate quente e doce de ameixa....enfim....cá para mim ele só pode ser a simbiose de duas pessoas especiais, uma  real e outra não.

Ele é um sósia impressionante, do nosso Solnado, e como nunca falei com ele, a voz que oiço no meu espirito, é aquela que saía daquela cara de menino crescido e bem  "levadinho"...
Depois, tenho a certeza absoluta que ele é aquele príncipe que todos deveriam conhecer, e que viveu num asteróide, estão a ver??....

Não estou nada enganada, tenho a certeza.     

E se calhar, porque nada acontece por acaso, e eu estou a atravessar um daqueles "acasos" da vida, que nos matam aos pouquinhos e pouquinhos....o meu pequeno/grande príncipe, "miau-miau", parou por aqui, vindo nas asas duma borboleta, para me lembrar que "as coisas realmente importantes, não se vêem com os olhos, mas sim com o coração".... e que de cem mil pessoas iguais, apenas podemos chamar de "amigas" àquelas que cativámos....este o  caso do meu amigo "miau-miau"...

Anamar

domingo, 14 de fevereiro de 2010

"NEM UM SIMPLES MIOSÓTIS...."



Belas....
Sol, um sol quente de um Verão que parece que fez marcha atrás e voltou...
Um dia esplendoroso com as cores de uma paleta não regateada, desde o azul intenso de um céu completamente limpo, com os verdes do Inverno, nos alecrins, nas alfazemas, nas tuias e nos cedros, antes do verde viçoso dos borbotos da Primavera que chegará...

O Tejo em fundo, o verde da relva do golfe, as flores a dormir ainda, numa sonolência de quem começará a espreguiçar-se  qualquer dia...porque, caramba, já estamos a meio de um Fevereiro generoso...

Amanhã, 14 de Fevereiro, mais um S. Valentim...mais uma data determinada pelo calendário e não pelo coração das pessoas.

Há namorados que o são, às vezes sem saberem, a vida inteira...
Pode vir um homem, depois outro, e mais tarde um outro...mas de todos, houve o eleito, que ficou a tomar conta do lugar e não arreda pé...vá-se lá saber porquê??!!
Haja cataclismos, haja tsunamis afectivos, haja tornados avassaladores....e mistério dos mistérios...o eterno namoradinho nem vacila.!Grudou por razões às vezes inexplicáveis...

E às vezes fica, já não sabe que o é (porque para ele já passaram cinquenta catorze de Fevereiros), e por isso, já comprou a rosa vermelha para a "actual", e ela, a que o elegeu o namoradinho de toda a vida, chora que se desunha, não tem a quem comprar nem um miosótis, quanto mais a rosa... mas escreve-lhe na mesma, meia dúzia de palavras num cartão  condicente, nem que seja para guardar religiosamente numa arca da vida...

Esta foi uma história diferente de S. Valentim....
Fui escrevendo, e foi correndo....fui escrevendo, o sol de que estamos sequiosos foi indo, e a sombra foi subindo...
Um catorze de Fevereiro diferente, um S. Valentim mascarado de sábado de Carnaval...

Anamar

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

"A PEDRADA NO CHARCO..."


Em 1919 logicamente eu ainda não tinha nascido.
Nasci no Baixo Alentejo e vim com cerca de dois anos para a cidade de Florbela Espanca, Évora. onde viveu embora fosse oriunda de uma vila bem próxima, de que já aqui falei muito.
Lembro-me de em menina vir do colégio com a minha mãe, e ser percurso obrigatório, atravessarmos diariamente o jardim da cidade, e de, portanto, ver numa placa  ajardinada o busto de homenagem à poetisa. Vem daí o meu primeiro contacto com a personalidade e posteriormente com a sua história de vida e os seus poemas.
Descobri na biblioteca do meu pai o seu livro de sonetos, que depois de a conhecer um pouco mais como mulher, para mim, passou a ser uma bandeira ou estandarte, naquele Alentejo redutor e profundo, e a ser  o meu livro de cabeceira, lamentando que ainda hoje publicamente, não se tenha feito no país, justiça à mulher e à poesia, no nosso universo literário...

A minha inspiração está escassa e resolvi hoje, em jeito de uma pobre homenagem, deixar aqui um poema meu, sobreposto à "ALMA PERDIDA", soneto do seu  "Livro das Mágoas" de 1919:

Alma perdida
 
Florbela Espanca





Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
       Que chorasse perdida em tua voz!...   
 
1913
         
 
 
(sem título)
 
Eu sinto que em mim ela encarnou 
Embora dela apenas seja a dor,
o regalo,o vazio, a mágoa, o despudor
que ela deixou por cá,a flutuar...
a charneca foi seu berço e seu embalo
as papoilas que a tingiram, o regalo 
de um coração sangrante , a sossobrar...

Era força de mulher em desespero
Era míngua de luar trazendo paz,
a voz do rouxinol e do seu canto,
nada mais foi, que a sua voz
exangue, inerte... morta, incapaz....




Mulher que em vida  não vivias,



por ti o amor só esvoaçou ...
a urze e a murta que colhias 
nem p'ra aquecer teu pobre coração enfim chegou!...
 
2010
 





Anamar 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

"AFINAL QUEM SOU EU?"


Eu sou a que procura, sem querer achar...
Sou a que busca, mas não quer alcançar...
Aquela em que os espinhos é que dão sentido ao paraíso a que se chegou, embora o ter-se chegado seja irrelevante!
É a que sonha, embora a cor dos sonhos se esbata por já não valer a pena...
Sou a que constrói a ferro e fogo com a mão direita,
para desconstruir com a esquerda, porque tudo não passava de uma quimera!
É a que saboreia a estrada de ida e odeia a mesma estrada no regresso...porque já foi!
É aquela que ao criar, põe a fasquia intencionalmente exigente, sabendo já, que sempre o atingível fica aquém..
É para a que o que vale a pena é a presunção, porque nunca o real atinge um presumido, exactamente por isso...porque foi meramente um presumido...
É aquela para que se esmera numa construção de areia, que só lhe interessa até que a maré suba....porque depois é um monte indefinido de areia amontoada....
É a que quer e não quer, faz e desmancha, sonha e vira pesadelo, sente-se gente e não deste mundo...
Só é feliz, no durante, porque o antes é um sofrimento e o depois uma desilusão sem tamanho!..
Sou a que gosta da viagem...mas nunca do destino...
É alguém que deambula erroneamente, porque não tem uma meta, um trilho, um GPS, sequer uma vereda...
Não tem coordenadas de cabeça nem de coração!.... 
Isto é alguém real?
É alguém com distúrbio de personalidade?
E se o for, quer dizer o quê?...

Anamar

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

"OS DRAMAS DOS SERES HUMANOS..."



No contexto daquele enquadramento em que quase me "expulsam" da minha própria casa, porque as pessoas devem aliciar-se com gente, com conversa, com cinemas, com amigos...devem "entupir-se" de coisas "tão giras" que há p'ra fazer...projectos, rumos de vida, ver televisão....e outros quantos "tormentos" embrulhados em Panasorbes espirituais....esta tarde fui ao Colombo.

Sempre o castigo é menor que Colombo em fim de semana, e menor ainda que Colombo em fim de semana, com jogo do Benfica em casa...

Fui lá buscar umas calças que tinham ficado para fazer bainha, e para eu me "fazer feliz" por ter umas calcinhas novas. Era dia de empregada em casa, e essa é outra razão para patroa fora, porque....apenas, não tenho paciência...

Tratei rápido das calças, e apesar do carro estar a pagar parque, dizia eu p'ra mim própria : "que se lixe o parque"....e resolvi sentar-me numa das poltronas que decoram comodamente, aquela praça da cúpula enorme em vidro.
Não havia um só lugar vago, e isso imediatamente me recordou a minha praceta com toda a terceira idade ao frio, enquanto que ali, teríamos a bem dizer, toda a terceira idade "quentinha"...
É impressionante, mas os utentes das poltronas não descansam propriamente; do que vi, estou em crer que aquilo é um filme em permanente reprise...Conversa-se sobre episódios da terrinha lá tão longe, lê-se a "Dica", o "Metro" e outros que tais, sem escesso de atenção...dorme-se e acorda-se, lamentam-se as artroses, as colunas com os respectivos bicos de papagaio...e é mais ou menos tudo!...

Quem circula, normalmente fá-lo mais apressadamente, vê-se que não equaciona prolongar a estadia, atravessa a praça para encurtar caminhos.
Digamos, que eu seria se calhar a única que encaixava num perfil diferente...Eu era a "voyeurista" que ali aterrou...

E ia pensando sobre o que via: casais equilibrados etariamente - casamentos de vida - isso estampava-se no ar negligé, apático, de desamor e frio, com que cada um, desapoiado do outro, mancava;
pares de teenagers, sempre incontidos, atrevidotes e noutra galáxia... (para comentários acirrados dos "comentadores de serviço");
pares desequilibrados na faixa etária, e aí tínhamos duas versões possíveis, cujo idioma era normalmente o português do Brasil: aquela em que o senhor idoso, de ar responsável, desfilava uma brasuca cheia de dengue e outros "atributos", sem perceber, porque também as dioptrias o não permitiam já, que embora seja o caso socialmente menos inaceitável, sempre havia chistes, sorrisos ou "bocas" foleiras bem maliciosas....ou invejosas (sobretudo para a "loja" em peso, em sacos, que ela transportava)...e a alternativa para a qual a sociedade é bem mais acutilante:  mulher mais velha, que se faz acompanhar de um homem mais novo...
Isto exige em primeiro lugar que o homem tenha uma cabeça feita, e não o provincianismo da santa terrinha, e depois que "os" tenha no sítio, e que não se deixe molestar por olhares ou comentários...
Acontece que a mulher hoje em dia, tem uma aparência muito mais jovem, pela forma como se apresenta e pelo cuidado que tem consigo própria, e aí temos nós, mulheres de cinquenta e tais que se relacionam com homens, seguramente mais de dez anos mais novos.

Aí chegará aquele dia, em que aquelas avós, que durante alguns anos viveram e foram felizes com homens bem mais novos, e que de repente se consciencializaram, quase, quase, a vestir a farda de enfermeiros..."agarrados" que ficaram naquela situação, a romper relações que até eram felizes, por cobardia ou interesse....e lá vão eles com uma de trinta que já vai no segundo ou terceiro "round"....

E aí teremos nós mulheres sozinhas, amargas, que depois de vidas com emoção e pseudo-juventude, não se vão ligar a homens muito mais velhos, barrigudos, desinteressantes, cansativos....homens "a mijar p'ras botas," diria um amigo meu se aqui estivesse. Desculpem a deselegância da frase, mas ela é perfeita, no caso!

E aí temos as poltronas do Colombo, em dia de semana, com mulheres de olhar distante, doído, desesperançoso, cansado e descrente, a pensarem : "que se lixe a portagem do carro"!!...

Anamar