quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

"OS DRAMAS DOS SERES HUMANOS..."



No contexto daquele enquadramento em que quase me "expulsam" da minha própria casa, porque as pessoas devem aliciar-se com gente, com conversa, com cinemas, com amigos...devem "entupir-se" de coisas "tão giras" que há p'ra fazer...projectos, rumos de vida, ver televisão....e outros quantos "tormentos" embrulhados em Panasorbes espirituais....esta tarde fui ao Colombo.

Sempre o castigo é menor que Colombo em fim de semana, e menor ainda que Colombo em fim de semana, com jogo do Benfica em casa...

Fui lá buscar umas calças que tinham ficado para fazer bainha, e para eu me "fazer feliz" por ter umas calcinhas novas. Era dia de empregada em casa, e essa é outra razão para patroa fora, porque....apenas, não tenho paciência...

Tratei rápido das calças, e apesar do carro estar a pagar parque, dizia eu p'ra mim própria : "que se lixe o parque"....e resolvi sentar-me numa das poltronas que decoram comodamente, aquela praça da cúpula enorme em vidro.
Não havia um só lugar vago, e isso imediatamente me recordou a minha praceta com toda a terceira idade ao frio, enquanto que ali, teríamos a bem dizer, toda a terceira idade "quentinha"...
É impressionante, mas os utentes das poltronas não descansam propriamente; do que vi, estou em crer que aquilo é um filme em permanente reprise...Conversa-se sobre episódios da terrinha lá tão longe, lê-se a "Dica", o "Metro" e outros que tais, sem escesso de atenção...dorme-se e acorda-se, lamentam-se as artroses, as colunas com os respectivos bicos de papagaio...e é mais ou menos tudo!...

Quem circula, normalmente fá-lo mais apressadamente, vê-se que não equaciona prolongar a estadia, atravessa a praça para encurtar caminhos.
Digamos, que eu seria se calhar a única que encaixava num perfil diferente...Eu era a "voyeurista" que ali aterrou...

E ia pensando sobre o que via: casais equilibrados etariamente - casamentos de vida - isso estampava-se no ar negligé, apático, de desamor e frio, com que cada um, desapoiado do outro, mancava;
pares de teenagers, sempre incontidos, atrevidotes e noutra galáxia... (para comentários acirrados dos "comentadores de serviço");
pares desequilibrados na faixa etária, e aí tínhamos duas versões possíveis, cujo idioma era normalmente o português do Brasil: aquela em que o senhor idoso, de ar responsável, desfilava uma brasuca cheia de dengue e outros "atributos", sem perceber, porque também as dioptrias o não permitiam já, que embora seja o caso socialmente menos inaceitável, sempre havia chistes, sorrisos ou "bocas" foleiras bem maliciosas....ou invejosas (sobretudo para a "loja" em peso, em sacos, que ela transportava)...e a alternativa para a qual a sociedade é bem mais acutilante:  mulher mais velha, que se faz acompanhar de um homem mais novo...
Isto exige em primeiro lugar que o homem tenha uma cabeça feita, e não o provincianismo da santa terrinha, e depois que "os" tenha no sítio, e que não se deixe molestar por olhares ou comentários...
Acontece que a mulher hoje em dia, tem uma aparência muito mais jovem, pela forma como se apresenta e pelo cuidado que tem consigo própria, e aí temos nós, mulheres de cinquenta e tais que se relacionam com homens, seguramente mais de dez anos mais novos.

Aí chegará aquele dia, em que aquelas avós, que durante alguns anos viveram e foram felizes com homens bem mais novos, e que de repente se consciencializaram, quase, quase, a vestir a farda de enfermeiros..."agarrados" que ficaram naquela situação, a romper relações que até eram felizes, por cobardia ou interesse....e lá vão eles com uma de trinta que já vai no segundo ou terceiro "round"....

E aí teremos nós mulheres sozinhas, amargas, que depois de vidas com emoção e pseudo-juventude, não se vão ligar a homens muito mais velhos, barrigudos, desinteressantes, cansativos....homens "a mijar p'ras botas," diria um amigo meu se aqui estivesse. Desculpem a deselegância da frase, mas ela é perfeita, no caso!

E aí temos as poltronas do Colombo, em dia de semana, com mulheres de olhar distante, doído, desesperançoso, cansado e descrente, a pensarem : "que se lixe a portagem do carro"!!...

Anamar

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