quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

"AO BATER DAS VINTE E QUATRO..."


2008 a partir...2009 a chegar...
Uma sensação estranha dentro de mim, acredito que dentro de muitos, até os mais pragmáticos, indiferentes, inatingíveis por esta espécie de introspecção para que somos atirados, à nossa revelia, sempre que o 31 de Dezembro nos amanhece.

Detesto estas épocas de "balanços" impostos.
Detesto estas fases da vida em que parece que nos agarram pela "fralda da camisa" e nos obrigam a parar, a revisionar, a prometer, a "auto-flagelar-nos" e pior que tudo...a acreditarmos que só porque o calendário o ditou, o próximo ano, envolto em aura promissora, será isso mesmo...um mundo de promessas que finalmente iremos cumprir.

Exactamente, como se por um passe de mágica, as doze badaladas, nos transformassem, quais "gatas borralheiras", miraculosamente, em qualquer coisa que não somos, embora sonhássemos ser...

Detesto! Sei que não é nada disso, sei que tudo não passa de propósitos e sonhos ingénuos, para não dizer hipócritas, mas acabo por me deixar enrolar nesta onda que se agiganta e se sente...e lá estou eu, melancólica, pensativa, saudosa, apreensiva.
Sempre inevitavelmente me deixo invadir por um safado de um nó na garganta (que não me respeita e me sufoca os gorgomilos), e por lágrimas teimosas (que só elas), em cachoeira pela cara abaixo!

Gaita, gaita, gaita!...

Eu até tento racionalizar e não pensar nos que já não "picam o ponto" por aqui, eu até tento não pensar nos sonhos que não realizei, nos projectos que não cumpri, no tempo que esbanjei, na vida que não vivi, nas palavras que não disse, nos carinhos que não dei, nos beijos que não troquei, no amor que não fiz...

Eu até me esforço para perdoar quem me magoou, esquecer quem me defraudou, entender quem não me percebeu, compreender quem não teve tempo para me ouvir...

Eu até tento sentir-me grata por estar viva, por poder sentir o calor do sol ou o cheiro das flores em cada dia; poder sentir o frio do Inverno, a chuva a empapar-me o corpo...ou extasiar-me com o azul do céu e a melopeia das ondas nos rochedos...
Eu até tento sentir-me plena por ter saúde, feliz por ter trabalho, mais feliz ainda por ter família e amigos...
Privilegiada por viver numa terra de paz, rodeada de poucos mas muito bons amigos, lembrada por outros que a distância separou, mas não o esquecimento...

E depois saio do meu umbigo e claro, reflito no mais além...Doo-me com as dores por aí espalhadas, dilacero-me com o sofrimento, a aflição e a mágoa de tantos que vejo, e de tantos outros que não vejo, mas adivinho.
Penso(sem sofismas ou falácias), juro, nas misérias, assimetrias, incompreensões, injustiças sociais, atropelos a direitos, feridas de morte causadas a tantos e tantos por esse planeta que habitamos, ódios e invejas que transformam o ser humano num ente ignóbil e monstruoso...

Enfim (dirão)...toda uma panóplia de "lugares comuns" que sempre são cabíveis e ficam bem na circunstância, quando a circunstância é o fim de mais um ano...

E realmente, relendo o que escrevi, quase me detesto por escrevê-lo, dada a irrelevância, a pieguice e o patético barato das minhas palavras.

Mas, acreditem: queira eu ou não, dê-me eu ares de "pseudo-intelectual" ou de mulher lúcida, pragmática, objectiva...coerente e seguramente não hipócrita...quando as doze badaladas em contagem decrescente são apregoadas em ruas, rádios, televisões...quando o raio das doze passas se atropelam garganta abaixo, na formulação dos desejos...eu claudico, claudico mesmo...e é exactamente tudo isto que aqui descrevi, que sinto e vivencio naquele ápice de tempo...

Um 2009 à medida de cada um dos que me ler, são os meus votos...

Como não posso homenagear Todos...em nome de Todos (e graças à simpatia de um amigo que me enviou este vídeo), lembro aqui "As crianças do Mundo inteiro"..."algumas" (muitas), "aquelas"...as "tais"...



Anamar

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