sábado, 27 de dezembro de 2008

"FIM DE FESTA"


Digamos que a noite ainda agora começou, isto se me pautar pelos meus habituais horários.

Apenas, estamos no rescaldo de mais um 25 de Dezembro, no rescaldo de mais um Natal, e o "clima" é um pouco estranho...
De repente, é como se tivéssemos sido esvaziados de qualquer coisa, meio indefinida, meio sem se perceber, e que à nossa revelia nos tomou conta nestes últimos dias...mesmo aos mais "resistentes"...

A afobação, a correria alucinada em que embarcámos, a loucura de concretizar o delineado, atempadamente, duma forma perfeita...a aura sempre mágica que se foi criando até ao fim dos fins, deixou agora a tal sensação estranha de que vos falava, uma espécie de cansaço da ressaca.
Sim, porque estamos agora no período de descompressão, por assim dizer.
Hoje é, na verdadeira acepção da palavra, o "day after"...

E quase estou certa (por tudo o que me passou pelos olhos), que há muitos Natais a papel químico nesta nossa terra...

Tudo começa a 24, aí do meio para o fim da tarde, quando as lojas já se aquietam, quando os "caixas" dos supermercados olham impacientes para os relógios e para as compras intermináveis de clientes fora de hora... quando os sacos com os presentes começam a ganhar lugar junto da porta da rua (para que nada fique esquecido), e as vitualhas a transportar, se contabilizam uma vez mais (não vá a lampreia de ovos ou o tronco do Natal ficar no frigorífico)...

Vem então a hora do "aperaltanço", que é como quem diz, de dar os retoques finais na toillete.
Os "kispos" ou as "parcas" protegem os pequenos...as écharpes de lã ou os xailinhos protegem as avós...até porque a noite sempre nos presenteia com aquele friozinho que faz o favor de nos devassar até aos ossos, ainda que um céu estrelado nos fascine, como ontem...

E vem a hora de se "arrancar" para o "ponto de encontro"...casa de filhos, casa de pais, de sogros...de amigos.

Lá, já a mesa está posta, a sala quente e iluminada, as cores dos adornos natalícios misturadas com o pisca-pisca das luzinhas da árvore celebrante...
Lá, a cozinha efervescente já nos chama, nos cheiros do perú, do bacalhau, do leitão...(tudo isto, para quem tem obviamente a sorte de ter um rico Natal num Natal rico...)

E são as "larachas" à mesa, as risadas soltas, as histórias contadas e recontadas pelo enésimo Natal, o doce que estaria melhor se mais doce...o enjoo de tanto desafio de pecadilhos e tão pouca barriga para lhes corresponder...
E a criançada "eriçada" sem parança possível, ou sono que lhe reduza a "mudança"...

E são as fotos e os filmes para perenizar o acontecido...e lembrar (quem sabe), mais tarde...rostos "desertores"...

Tudo isso no "calor" do afecto, tudo isso na cumplicidade de família, tudo isso no incondicionalismo do "sangue"...

A gente sabe, que à volta daquela mesa estão "aquelas" pessoas que têm a ligá-las "fios" que não se descrevem (porque não se vêem, só se sentem)...
Naquela sala estão aqueles que não se precisam procurar, porque sabem sempre quando "têm que responder à chamada"...

E quando a mesa se faz de pratos já sujos, copos vazios, doces inviolados...quando a sala se faz de despojos de "batalha campal"...quando os sofás se tornam campos de capitulação dos sonhos infantis...quando os laços e as fitas de embrulhos que o foram, recolhem "a penates"...temos a certeza que mais um Natal está baldido!

E é o regresso...caminho inverso, bem mais cansado...

E é ver, pelas ruas da cidade deserta, os carros a despejar os pequenos (anestesiados de sono, jogados em ombros de pais esfalfados)...as avós com os xailinhos agora sobre os casacos compridos, semi-envolvendo as cabeças de neve, (porque a madrugada já espreita e uma gripe também poderá espreitar...), os contentores do lixo, enfeitados como nunca esperaram, pelas cores dos papéis, pelos brilhos das fitas, das caixas vazias dos sonhos vividos, a desfrutarem agora do seu Natal...

Hoje...bem, hoje já não é bem o mesmo! O carisma não é igual, a magia também não!

Hoje é o dia em que se preguiçou para "compor" o atraso da noite...
É mais um dia "de restos" e não exactamente de prato principal...
É mais um dia de continuar a desbastar o iniciado...É a tal sensação estranha de que mais um Natal já foi, mais um ano do calendário está a encerrar "p'ra balanço", mais um ano das nossas vidas a "baixar o pano"...
Hoje, é a ressaca, é o "esvaziar do balão", o "day after"...é o fim de festa...



Anamar

2 comentários:

Unknown disse...

Lindo, mas falta uma imagem que já a alguns anos não revejo.
No dia 25, quando ia-mos à rua, via-se que a cada criança correspondia um brinquedo exibido com vaidade infantil enquanto passeava com os crescidos.
Agora !!!???
De todas as maneiras é natal.
Bom Ano.

anamar disse...

É bem verdade, Filipe, mas até isso é sinal dos tempos, ou melhor, sinal dos excessos...
Hoje cada criança, ou pelo menos algumas, (e são sempre as mesmas, já sabemos)teriam que empurrar pelas ruas um carrinho de supermercado de brinquedos!!!!....
Enfim....
Bom Ano também e um beijinho
Anamar