quarta-feira, 24 de agosto de 2011

"ATTRAVERSIAMO"


Mais de onze da noite...
Há tempos atrás, quase o dia ia a meio. Eram os tempos de escrita até às desusadas horas, aquelas tão desusadas mesmo, que dava por mim a perguntar-me se estaria "sãzinha" dos miolos.

Hoje, ou porque durmo pior, ou porque talvez tenha menos do que falar, ou pressinta ter algum interesse para vocês, começo a deixar-me ensonar, a sentir o sim-senhor quadrado, as costas a ficarem desconfortáveis....
Velhice....sim, esse certamente o diagnóstico correcto!

Bom, mas tem andado uma palavra a martelar-me o miolo há alguns dias, quando visionei uma vez mais o "Comer, orar e amar", que já vira duas vezes, que talvez tenha sido responsável pelo descobrir da minha "Ilha dos Amores", Bali, Novembro passado.
Perceberão, espero, o que tem andado a fazer uma salada de frutas na minha cabeça, quando, a meia voz e lentamente, tal como Julia Roberts no final da película, soletro, como quem soletrando, está a digerir cada pedacinho do que a palavra encerra - "ATTRAVERSIAMO"!

Desde o início destas minhas escrevinhações, que é transversal a todos os posts, o conceito de "vida"...
Vida como jornada, vida como caminho, vida como viagem. A tal viagem em que todos seguimos, mais ou menos organizadamente, a tal rota, desígnio do nosso destino!
Este percurso pode ser feito em muitos ritmos, com muitos ou poucos percalços, com mais ou menos fé, mais ou menos determinação, mais ou menos tombos e respectivos reergueres.

Também já vos dei conta várias vezes, que mercê da minha própria jornada, e exactamente por ela, sinto em mim uma maturação de fruto no pé, um crescimento sem pressas, uma adultícia acautelada e reflectida por que tive que passar.... assim, imposta pela própria viagem!
Foi um crescimento sofrido, mostrando-me claramente que é pelo sofrimento que o ser humano cresce, evolui, se aperfeiçoa.
São muitas horas de reflexão, muitos momentos de questionação, muitas dúvidas, muitos acertos à custa de erros lancinantes. Encruzilhadas em que a determinação tem que prevalecer, pontes e caminhos dúbios e ínvios a carecerem de escolhas, decisões, reflexão.... porque há erros que não podem duplicar-se, enganos que não podem voltar a cometer-se, sofrimento que já não tem mais espaço num coração que já o conheceu...

A travessia é sempre dolorosa, sabemos disso todos os dias. Os medos e as interrogações propiciam sucessivos avanços e recuos.
Os medos estão ali, cara a cara connosco. Encaremo-los de frente...
Os nossos fantasmas deambulam, e não povoam só as nossas madrugadas... Confrontemo-los.
As vacilações teimam, porque teimam em nos derrubar. Teremos que ser mais fortes, ousar...

Eu atrevo-me, talvez de menos para os sonhos... talvez demais comparando-me aos meus pares, mas atrevo, e gosto do que vejo, quando me vejo ao leme desta "embarcação" oscilando no mar bravio.

Que dizer-vos mais?

Que sentarmo-nos na margem da ponte olhando a outra margem e as águas a correrem tormentosas em caudal desbragado, só nos deixa isso mesmo... a nostalgia de um olhar vago e a dúvida a prender-se em como será o lado de lá, e o sem-sabor do que muitas vezes foi o lado de cá...
As únicas raízes mais ou menos estáticas são as das árvores... as raízes do Homem têm a dimensão do Universo.... povoam a sua mente e o seu coração...

Então, amigas, mulheres como eu a três quartos de jornada, talvez com paralelismos de opções de vida, de sofrimentos de destinos.... respiremos bem fundo e embora olhando o abismo abaixo dos nossos pés, esbocemos um sorriso doce de vitória ganha, e .... "ATTRAVERSIAMO" !!....

Anamar

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