quinta-feira, 15 de março de 2012

" E SEMPRE ASSIM SERÁ !... "



Há coisas que são e não são.
Coisas que foram e deixaram de o ser.
Coisas que existiam porque as sentíamos, e na volta do tempo voltaram também.  Não se sabe para onde.

Ontem foi o ontem, amanhã irá ser o amanhã. Por agora temos o hoje.  E no hoje, às vezes não se percebe, mas pressente-se ...

Estranho, o puzzle labiríntico de vielas no meio de vielas, de praças e de becos, tudo a começar não se sabe bem quando, e tudo previsivelmente a acabar também, não se sabe bem onde !

De repente a língua deixa de fazer sentido, porque passámos a ser estranhos dentro de nós mesmos.  E há uma imperfeição, uma incompreensão que é isso mesmo ... algo que deixa de entender-se, nos perturba, mas sabemos que já não é.
E o único denominador comum a tudo, é apenas o tempo, que faz com que as coisas voltem, nas voltas que ele dá.
Os olhares cruzam-se, mas não são os mesmos olhares. Os desejos afloram, mas já não são mais aqueles.
E os caminhos são às vezes caminhos só de ida, e as estradas desembocam em rotundas, e as rotundas são caminhos de volta atrás.

Quantas vezes nos tornamos apenas pessoas de "vésperas" !
Vésperas do que poderia ser, vésperas do que inventáramos, vésperas do que tínhamos a certeza, aconteceria.
No entanto, apenas véspera ....
e da véspera ao dia seguinte, medeiam horas demais ...

Somos muito actores de ante-estreia, e como o nome indica, a ante-estreia pode não chegar sequer à estreia !
E o Mundo fica ainda maior, ainda que já seja enorme e ainda que nós sejamos grãos de areia insignificantes.
E as multidões que nos cruzam, são muito mais anónimas, porque sendo multidões, passam por nós em praças a perder de vista !...

E tudo fica diferente ...

Até a cor do sol nos surpreende com outros tons.  Os tons dos nossos olhos ...
Até a cor do mar nos espanta, e o seu ruído também, porque já não são exactamente os tons do nosso coração !...

Uma coisa permanece, tenho a certeza ...  Os pássaros, que não nos defraudam nunca !...
Agora, hoje, ontem ...  Sempre aquela garça voeja de asas estendidas ...
Aquela, a "minha" gaivota, continua aqui por cima da rebentação mansa, a planar na brisa da tarde.
E também aqui se trata da "minha" gaivota ... porque se eu sou dona de alguma coisa, é das gaivotas soltas e livres, como eu julgo ser !...

E há dias em que acreditamos com a força toda, que não vamos deixar mudar o que é mutável, só porque foi nosso.
Mas o vento e a tempestade que leva as gaivotas para longe da costa, varre das soleiras, as folhas de Inverno ... E nas molduras das mesas, as fotografias a sépia, vão esbatendo as imagens.
Nas molduras das mesas e dentro de nós !...
O inevitável ... Há sempre o inevitável !...

Ainda que as flores amarelas sem nome, continuem a alindar os caminhos e nasçam nas pedras, com o seu cheiro a fruta madura ...  Salpiquem o mato, as carrasquinhas, os tojos ... mesmo a nudez absoluta das falésias ...
Ainda que o mar continue imenso e perdido no horizonte ...  ainda que espume de raiva, de dor ou de embalo - nunca sei - nos rochedos abruptos semeados aos nossos pés ...
Ainda que prendamos com grilhetas, ao nosso coração, tudo o que nos preenche, nos inunda e nos transborda, para que não corra o risco de se perder nos dias ( na ilusão de que as âncoras serão seguras, fortes e perenes ) ...  as mãos abrem, os olhos cansam ... o coração claudica e cede ... e deixa ir torrente abaixo, tudo o que albergava, feito barquinho de papel, que nunca alcançamos ...

E apenas o nosso olhar o segue, na brincadeira de o ver encalhar, soltar, avançar, em vertigem de rápidos de viagem, do caminho que se faz, embora nunca possamos segui-lo e menos ainda prendê-lo ...

... porque os barquinhos de papel dos meninos, como o sonho e o desejo dos Homens, navegam sem prisões e sem amarras, à revelia de estrelas, faróis ou bússolas ... porque são barquinhos de papel na correnteza desbragada, e sonhos, e desejos de corações e almas livres e soltas, como as gaivotas !...

E sempre assim será !!!...

Anamar

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