sábado, 24 de março de 2012

" O FIM DO RECREIO "



Ontem um dia de sol, absolutamente primaveril.  Hoje um dia de chuva absolutamente imprevisível !

O tempo, como a Vida.
Altos, baixos ... sempre imprevisibilidades.

Hoje não estou para amar !
Nos fins de semana sobra-me tempo, e sobrando-me tempo, penso demais.  Seria desejável, se não fosse em excesso.  Os excessos nunca são úteis.

A certeza de não ter certezas, desgasta-me. O que é facto é que não ter certezas de nada, é uma das características do existir.
Tenho a mania das arrumações e da organização, talvez da sistematização ... ( defeito de fabrico ... ), e não me sentir "arrumada", deixa-me uma inquietude demasiado "desassossegada".  Mal gostosa !...
Só me sinto tranquila, se encarar, resolver, decidir ... arrumar ...  na prateleira, na gaveta, na cabeça, no coração ...
Tudo quanto fica a pairar, tudo quanto fica suspenso, tudo para que não tenho resposta, alguma resposta, seja lá qual for, não faz parte da minha índole.

Sempre sou de radicalismos.
Quando quero, quero muito ... só sei querer a cem por cento ... ou então não quero nada.
Custo a fazer concessões à Vida, não sei "negociar", não sou política ... decididamente !
E a Vida não é assim que se faz, as regras do jogo não são seguramente essas.  A diplomacia nunca foi o meu forte, a contemporização também não ...
Para mim, ou é preto ou é branco ; as cores difusas do comprometimento ... as cinzas da paleta, não pintam as minhas telas.  Hoje o céu está uniformemente cinzento ...

E dizem-me que não é assim.  Dizem-me que sempre o copo estará meio cheio ou meio vazio, depende de como o olhemos, e que nem tudo é branco totalmente, nem tudo é preto totalmente.
Quero acreditar, mas lá no fundo, não acredito mesmo !
A maior parte dos meus dias, é efectivamente ou de chuva, ou de sol primaveril, e o meu "copo" ou está pleno a transbordar, ou está vazio de dar dó !
Hoje, está vazio !!!

Não aceito o "talvez" no meu vocabulário ... custo a aceitá-lo pacificamente.
Porque o "talvez", precisa de tempo para se tornar "sim" ou "não" ... e tempo é o que eu já não tenho muito.

E cada pedacinho de tempo que é e deixa de o ser, não é mais do que uma parcela da soma que me concederam.
E de repente, estou a fazer vertiginosamente contas de subtrair e jamais de somar.
Todos os dias se encarregam de me lembrar que convém despachar-me, na busca do "sim" ou do "não" de vida.  Porque cada dia, a qualidade da mesma, também é o resultado de contas de "menos" e nunca contas de "mais".

E um dia acordamos de supetão, e o espelho, que sempre tem a capacidade de nos ler o rosto e a alma, vai mostrar-nos claramente que acabou o tempo "regulamentar", e batota não se pode fazer ...

Deixámos para trás as últimas árvores do caminho, deixámos para trás os últimos riachos onde sempre nos poderíamos refrescar, deixámos para trás a cauda do último cometa, que como cometa, é volátil na passagem, e por isso já foi ... e à frente, o trilho pedregoso que se desenha, não tem horizonte lá ao fundo, não tem paisagem merecedora a ladeá-lo, e o céu por cima, é cinzento uniforme, como o de hoje.

E aí a história é implacável.
É mesmo a história do copo inapelavelmente vazio, é mesmo a história da história que se esgotou, sem retorno.
Foi o toque da campainha do fim do recreio.
Foi o correr da cortina da boca de cena, sem que os actores retornem ao palco, porque foi simplesmente o último acto da peça !!!..

Anamar   

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