sexta-feira, 9 de março de 2012

" PENSAMENTOS À SOLTA - 7 Março - quarta-feira "


As cameleiras começavam a carregar as primeiras flores da época.
O tempo estava a ficar quente, o céu azulava sem quaisquer nuvens a perturbá-lo.  Os pássaros, em acasalamento prematuro, saltitavam no mato rasteiro, nos pinheiros a esmo, nas mimosas que se engrinaldavam.
Mais quinze dias  e o seu aroma espalhar-se-ia por ali. O mar ao fundo trazia  o seu marulhar, naquele por-de-sol de princípios de Março.

Havia uma harmonia tal, que se diria estarmos noutro mundo.
Num daqueles mundos com que sonharíamos um dia topar, pela simples razão de que só existem nos nossos sonhos ...

A perfeição ... haveria "perfeição", ou haveria simplesmente raros momentos fugazes, perfeitos ?...
Fugazes, demasiado fugazes seguramente ...

Quando o espírito humano repousa, porquê não o deixar repousar ?!
Quando a cabeça adormece numa pedra do caminho, por que não deixá-la ficar para sempre ?!
Quando uma sombra nos abençoa o corpo e a alma, por que não ficar nela dia após dia, noite após noite, pelo perder dos tempos ?!...
Quando à míngua encontramos uma fonte límpida, por que não podemos banhar-nos nas suas águas ?!

A lua imensa brilha no céu, incendeia dia na noite ;  a estrela de alva levanta-se, e deixa lugar a Vénus, quando o sol adormece de cansado.
A vida humana tem o significado dos momentos fugazes ... tem a duração das luas e dos sóis, é um tudo e é um nada ...
As ilusões são tão efémeras como os segundos a esvaírem-se nos ponteiros do tempo ; são tão fantasiosas, como o palhaço que esconde lágrimas na maquilhagem ...
São mesmo isso ... ilusões !...

Há um tempo de acreditar e um tempo de não acreditar, e o tempo maior é o tempo da velhice ...
Há lágrimas salgadas, mas também outras de sangue ...  Essas, quando escorrem, deixam mágoas que não saem.
E há cansaços ... cansaços que de tão cansados, nos tolhem os membros, mas muito mais a alma.
E essa não descansa com tónicos, com cânticos de pássaros, com cheiros de flores, com estrelas nos firmamentos ...
E depois há dor ... tanta dor, que corre o risco de se grudar no peito e se transformar em ferida escancarada e putrefacta.
Para essa também não há remédio ... nunca há remédio !...

E o que fomos, o que somos ... o que não seremos mais ...
Essa, a "assombração" das nossas existências ... Essa, a injustiça dos nossos seres !

E há viver, mas há muito mais morrer ... porque viver é uma das tais ilusões que nos perseguem ... e morrer é uma certeza dos dias !...
Porque de morte, se morre a cada momento, e a vida é uma escorrência de sentido único !

Alegria ??...  Só no olhar que se estende pelas mimosas, que de douradas, nos adoçam o coração ...
Paz ?? ...  Só a do mar, que é segura, e previsível, na melopeia do bater nas rochas, longa ... fielmente ... igual ... sem sobressaltos se a maré for mansa, e for dia de céu sem nuvens !...
Liberdade e esperança ...  Apenas as gaivotas as transportam nas asas, perdidas pelas aragens ...
Nós é que tontamente acreditamos que as detemos na concha das mãos ;  mas os golpes traiçoeiros de vento, sempre mostram que também não é bem assim !...

E vamos estando ... Acordando e adormecendo ... mesmo quebrado o encantamento !

E sempre as cameleiras vão começar a enfeitar-se pelos Marços da Vida, como senhoras vaidosas e ciosas de beleza, ao espelho ...
E sempre os pássaros, inconscientemente, pela lei biológica irão acasalar no mato rasteiro, entre os pinheiros mansos a esmo, e entre as mimosas de ramos baixos ...

E vamos estando ... e vamos ficando ...

Até quando ??!!...

Anamar

Nota :  O título aposto a este meu "desconchavado" post, foi-me sugerido por um amigo muito querido.
            Obrigada !

2 comentários:

F Nando disse...

Palavras libertas em pensamentos à solta...

anamar disse...

COM UMA CERTA AJUDINHA...NÃO É FERNANDO???

OBRIGADA, AMIGO

ANAMAR