sábado, 29 de dezembro de 2012

" A ÁRVORE "


Sei o que não quero da minha vida.
Do que quereria, apenas o concebo em sonho.
Reparem que coloquei o verbo no condicional, porque efectivamente me falta a  condição principal, para alcançar o que quer que seja ... acreditar que o conseguiria.  E isso, eu  não acredito.

Como eu, certamente milhões de pessoas serão capazes de apontar numa folha de papel, o que não querem de todo, mas provavelmente são titubeantes,  se lhes fosse pedido que escrevessem o que realmente ainda gostariam de viver.
Por vezes penso que os meus padrões de desejos, são padrões simples.
Penso que as fasquias que coloco no nível de exigências, são baixas.
Penso que não sonho alto, sequer.  Não me movem ânsias de bens materiais, não deslumbro com vontades megalómanas, nem com espectativas infundadas.

Já tive casas, carros, férias à discrição.
Já comprei duas camisolas iguais, só porque não me decidi na cor.
Já fiz férias no estrangeiro, sem saber sequer quanto custaram.
E no entanto, não fui, nem fiz as pessoas felizes.
Tive uma fortuna na vida, efectivamente.  Será um chavão, é uma frase feita, mas é a realidade : tive duas filhas.
Nem sequer digo que tive uma família, porque essa até acho que geri muito mal ...
Tive duas filhas, com todas as inerências positivas e negativas, que se prendem a qualquer individualidade, a qualquer ser autónomo, que se solta de nós e se torna gente.
E apesar  de dizer muitas vezes, que se recuasse no tempo, jamais teria tido filhos, acredito que não, porque bem ou mal, mais bem que mal, aos "trancos e barrancos" como "soi dizer-se", há algo absolutamente inegável.  E isso, é a sensação quente e doce, de em qualquer momento, de facto, me saber "escorada" na Vida.
"Escora" é a palavra-chave que rege, na verdade, as relações de afecto real entre as pessoas.
E "escora", é aquela coisa que sabemos que ampara, segura, reforça, alicerça, quando a adversidade faz abanar, quando a tempestade açoita, quando o chão resvala !
E isso, eu sei que emocionalmente existe, até mesmo quando parece que não !

Depois, e tirando essa conquista da minha estrada, sinto obviamente outras escoras igualmente importantes, que são propiciadas pelas amigas, embora eu saiba e respeite que cada uma delas tem as respectivas vidas, e tal como eu, ou qualquer pessoa, nem sempre estão disponíveis, nem sempre podem "bombeirar" situações que carecem de socorro.
Mas não me queixo, porque em alturas cruciais, sempre tenho tido uma, por perto, e isso gratifica-me ...

Há também aquelas pessoas que nos cruzam, e nós cruzamos, no caminho.
Pessoas com quem estabelecemos empatias, e que as estabelecem connosco.
São pessoas de momentos, de circunstâncias, não esquecendo que a soma de momentos e de circunstâncias, perfaz períodos de tempo, mais ou menos longos.
Não são mais do que esta ou aquela flor, que plantamos num cantinho do jardim, o jardim que tem muitos cantos e recantos, que deverá ser alindado, e que é a nossa existência !

Dessas plantas, umas vingam, outras  morrem  muito ou pouco tempo depois, outras ganham raízes fundas na terra, e acabam florescendo em uma ou outra temporada, até que um dia percebemos, que por condições adversas, elas estão de partida.
Mas seguramente, vamos sempre lembrar que ali, naquele cantinho, resguardada da intempérie, plantámos e existiu em tempos, uma linda e colorida trepadeira, uma azálea, um agapanto, uma alfazema, um alecrim ou uma madressilva, que foram alvo do nosso olhar, do nosso cuidado e do nosso amor.
E que também elas nos encheram o coração, nos adoçaram o olhar, nos perfumaram a alma, nos atapetaram o caminho, enquanto por lá estavam.
Mas partiram ... deixaram o espaço, a terra, o canto  de novo devoluto, e a recordação ... Que essa sim, fica em perenidade, acredito !!!...

Por  que  será  que  eu  não  sou,  nunca  fui,  uma  "jardineira"  à  altura ??!!...
E no entanto, eu amo todas as flores, das singelas que nascem espontâneamente nos campos da minha terra, às mais sofisticadas que tenho encontrado por esse Mundo fora.
Contudo, de todas as que me rodearam, sempre me restam só, pétalas entre folhas de livros, botões secos que guardam segredos, fotos que atestam as suas existências na minha vida, ou a terra de solidão, onde elas algum dia estiveram !

Sei o que não quero da minha vida.
Sei o que nela não quero semear.
Mas sei também, que ainda gostaria de nela plantar, uma daquelas árvores de copa  larga, generosas de sombra, de raízes tão fundas que o vento jamais abana, de ramos feitos braços protectores, envolventes e embaladores, pródiga em flores que me perfumassem nos dias sem cheiro nem sabor, e prenha de frutos suculentos e doces, que me adoçassem o espírito, quando ele está mais angustiado, azedo, ou desistente ... como hoje !!!...

Talvez seja esse, o meu único sonho !!!...

 Anamar

2 comentários:

F Nando disse...

Um abraço num beijo
FELIZ ANO NOVO - é isto que dizemos todos os anos seja lá o que isto signifique para mim para ti, para todos...
Beijinho Anamar

anamar disse...

Obrigada Fernando

Seja realmente o que for, um beijo será sempre um beijo, um abraço também...e ambos são a expressão do carinho entre dois amigos !

Um Ano Novo começa (assim o resolveram...) Pudesse ele ser melhor para todo o Mundo !

O meu beijo também para ti

Anamar