sábado, 8 de dezembro de 2012

" SOPA DE IDEIAS, OU BARALHAR E VOLTAR A DAR "


De repente "arrefeci" na inspiração.
Devo ter arrefecido, na proporção do arrefecimento atmosférico que se tem feito sentir, e do meu arrefecimento interior.

Dezembro  aproxima-se  do  fim  a  passos  largos,  a  época  que  se atravessa  mexe-me,  irrita-me  ( mais ainda, porque não me consegue deixar ilesa psicologicamente ).
O ano a encerrar portas, puxa-me p'ra pieguice habitual de rever, rever, rever .
E apesar de tantas "reprises" e tantos balanços que me imponho, não passo da "cepa torta", ou seja, por mais que me esforce, sempre "rebolo" num ciclo vicioso de ideias, valores, princípios, conclusões.
Provavelmente porque sempre analiso tudo na minha vida, sob a mesma óptica, perspectiva e desesperança.  Sempre encaro o presente e o futuro, com uma ausência de convicção promissora, como se eu tivesse nas mãos uma carta de determinações destinadas, irreversível e imutável !
Uma espécie de determinismo, contra o qual ... "nothing to do " !!!

Sinto-me cada vez com menor maleabilidade de ideias e vontades ;  mais fossilizada, e menos aberta a novas "chances", menos ou nada crente na possibilidade de que se operem mudanças ... já não falo em milagres, nesta minha realidade idiota !
Ofereço  uma  resistência  férrea  às alterações que eu queria operar, mas para as quais não estou artilhada, e nas quais, começo logo por não apostar !
Bolas, vá-se lá entender alguém que quer, porque precisaria, alterar tantas coisas, não acredita na mudança, e pior, não mexe um passo para que isso  possa ocorrer, porque desiste antes de começar !!!

Isto chega a desesperar-me, a esgotar-me, e a fazer-me odiar a mim mesma.
Arvoro-me eu em defensora de abertura de espírito, jovialidade que não quero perder por nada, irreverência que cultivo ... quando afinal me pauto como um verdadeiro dinossauro, um estrato da arriba, um fóssil paleolítico !!!
Tudo imutável, tudo mumificado, tudo gelidamente imóvel ... tudo num marasmo adormecido de eternidade !

Às vezes tenho ganas, sobe-me uma "coisinha" ruim, uma vontade estúpida, de me meter num "shaker" qualquer, que me agitasse, me obrigasse a fazer pinos, cambalhotas, rodopios, como num tambor de máquina de lavar roupa, e me centrifugasse os miolos, me trouxesse os fígados à recauchutagem, e me agitasse um coração, que parece vezes demais acomodado, por cansaço !!

Já aqui abordei algumas vezes, o cepticismo total que me provoca uma recusa e uma fuga apriorística, de tudo o que me cheira a técnicas manipuladoras da mente e do espírito, da emoção e da razão.
E não me disponibilizo desarmada, a novas experiências ou a novos percursos, apenas porque o meu derrotismo é de tal ordem, que logo à cabeça, sou um "cavalo"  auto-excluído da corrida, quando ainda está na linha de partida.

Recuso livros de "auto-ajuda", enjoam-me e cansam-me, frases bombásticas e lamechas que apelam à "luz", ao "amor", à "viagem interior", "ao pensamento positivo que atrai realizações positivas", ou "que o sorrir insistente ao espelho, nos reforça a auto-estima" ...
Irritam-me as pieguices das "espiritualidades", impingidas em discursos demagógicos, os artificialismos dos "feng-shuis",  as forçadas terapias de hipnotismo, a inutilidade da aromaterapia, cromoterapia, e quejandos  ...  o "rescue" proporcionado  pelos "coachings" ...
Porque efectivamente, não acredito na eficácia de nada disso.

Por outro lado, este posicionamento, parece-me um sinal visível de falta de inteligência e de  mente aberta , de desconfiança, de desaposta, de não investimento ... direi mesmo, de fraqueza, cobardia e boicote.
Até porque depois, encho a boca e não só, incoerentemente, com grandes frases feitas, tais como : "Fraco não é quem erra, mas quem não tenta" ou "Estupidez é esperar resultados diferentes, se se seguem sempre os mesmos caminhos " ...

Como se vê, não bate a "bota com a perdigota" !...

Será que eu tenho medo de mudar?
Será que eu gosto de me vitimizar, e me é confortável um leito de desgraça ?
Será que eu sou masoquista, mas já num grau de desequilíbrio assimilado e interiorizado?
Será que sentir-me e dizer-me infeliz aos outros, não passa de sucessivas chamadas de atenção, porque simplesmente a minha carência afectiva é total, e está na base da minha desordem mental ?
Ou será que tenho pavor a experimentar, e ingenuamente me enganar outra vez, nisto e naquilo, porque já não me sinto com "estaleca" para mais desaires na minha vida ?!
E aí então, sinta em definitivo, fechadas todas as luzes e todas as portas, e conclua que afinal, eu sempre estivera de posse da razão, porque nada muda do dia para a noite ?!
Ou simultaneamente, receie que com o baixar da última ponte, eu perceba da solidão inapelável da minha alma ?!
Será que eu tenho medo de esgotar, então sim, a total ausência de alternativas, porque com isso, terei experimentado todo o cardápio  "terapêutico" ?!
Porque se o não conhecer, ou o não tentar, sempre poderei pensar, que teria havido caminhos de recurso, que deliberadamente assumi não experienciar, por burrice, arrogância ( talvez ), falta de fé nos mesmos, ou porque sou simplesmente ... "nhurra" ... se calhar com a prosápia de que sou mais iluminada que ninguém, numa falta de humildade chocante !!!...

Mas ... e ganho o quê com isso ?
Melhorar seria possível, ficar na mesma, é o certo !

Então por que não aposto ?
Por que, pelo menos, não me torno ainda que por algum tempo apenas, aberta a novas experiências ?
Por que não me desarmo, e por que no mínimo, não me coloco tão só,  como espectadora de mim, de fora para dentro, assistindo ou não às mudanças, mas pelo menos sem que as obstrua, as obstaculize, ou as sabote ??!!...

São estes ciclos viciosos  mentais, são estas "pescadinhas de rabo na boca", são estes raciocínios provavelmente falaciosos, que me "embananam" o espírito ;
é esta desordem mental que me desgasta ;
é este pântano de ideias lodosas e cansativas, que me destrói ... me tira a alegria, a garra e a vontade ... me faz sentir perdida e atordoada !

Em suma, é esta convulsão de pensares e sentires, esta interminável  "sopa  de  ideias",  que  me  arrasta  dia  após  dia,  mortalmente  vivente !!!...

Anamar

2 comentários:

F Nando disse...

Chamar-lhe-ei sopa de desassossego e nessa desorganização organizada sempre deliciosamente escrita
Bjs Anamar

anamar disse...

Olá Fernando

Só hoje me apercebi do teu comentário, como sempre amável, oportuno e conciso, que te agradeço.

Na verdade, "sopa de desassossego", dizes bem.

Tenho escrito muito pouco agora, e como tal não tenho vindo aqui.

Beijinhos grandes

Anamar