segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

" O VELHO E O NOVO "


O velho está a despedir-se.  O novo está a chegar.

Tudo igual, apenas um dia depois do outro.
A seguir a uma meia-noite, o relógio dá e dará sempre uma só badalada, a primeira hora do dia que se inicia, o primeiro momento de outro dia que renasce ...
A seguir a uma madrugada que dorme, uma alvorada acorda, e tudo será igual, sempre será igual ...

O ano que termina, conhecemo-lo exactamente.
Já se nos desvendou, ao longo dos 366 dias que ora findam.
Chegamos ao seu fim, com uma sensação generalizada de uma imensa fraude, de um desencanto, de um cansaço e de uma preocupação, instalados.
Tudo isto, são já infelizmente, lugares comuns.  Tudo isto assola, tenho a certeza, todas as pessoas, tudo isto são sinais dos tempos conturbados e desanimados que vivemos, tudo isto é resultado da falta de esperança, e de alguma / muita manifesta incapacidade de resiliência dos seres humanos.

Foi um ano, serão uns anos carrascos, sem fim à vista, em que já não se vive, sobrevive-se na maioria das vezes.
Alguma qualidade de vida perdeu-se completamente, as pessoas deixaram de sorrir, e assumimo-nos numa vida de um automatismo, em que recusamos até parar para pensar muito, porque se o fizermos, ou fugimos, e não temos para onde, ou nos suicidamos ...
e é exactamente verdade que a procura dessa solução, cresce exponencialmente, para quem já nem um lusco-fusco tem no horizonte.
Vive-se encurralado, acossado, com medos e fantasmas, como se uma hecatombe ou um cataclismo ainda maior, viesse a caminho, e provavelmente vem, como se a onda gigante do tsunami estivesse para nos engolir.

Os votos de "Bom Ano" são trocados entre rostos compungidos, e quase se confinam à saúde e à paz, como se as pessoas de facto, achassem que não vale a pena desejar, pedir, sonhar com nada mais, e que isso, no contexto que se vive, já é de "bom tamanho" !...
Mesmo a paz, já é alguma coisa que dará uma trabalheira dos infernos, ao "staff" do Grande Arquitecto ... já que sem ovos não se fazem omeletas, e conceder-se paz na conjectura mundial em que se vive, só por milagre ... e esses, nem na Feira da Ladra, nem no Continente, ou mais misticamente, lá por Fátima, se conseguem ...
O próprio Pai Natal teve que alienar as renas, porque as ferraduras das patas estavam tão poídas, que corriam sérios riscos de derrapagem, e como tal, este terá sido o último ano, em que o pobre andou na distribuição, visto  ter  já metido  os  papéis  para  a  aposentação  antecipada,  com  a  pensão  mínima  de  duzentos  euritos ...

A ilustrar este meu pequeno post, que é apenas um apontamento referenciador do dia de hoje, coloquei uma gravura de Stuart de Carvalhais, publicada em 1913, na revista "Ilustração Portuguesa".
Nela, o ano velho recebe os cumprimentos de uma criança, que simboliza o novo ano, como gratidão pelo legado, que de positivo, ele lhe tenha transmitido.
Receio que nos tempos actuais, a adaptação desta gravura se torne muito difícil, direi mesmo, inviável, a menos que a gentil menina, em vez de um bouquet de gratidão, oferecesse ao vetusto ancião, um cálice de estriquinina, contendo todas as raivas, amarguras, dores, revoltas e deseperança de todos nós, os resistentes, que atravessaram este 2012 de má memória ( ano bissexto, que segundo a minha mãe, "ou muito bom ou muito travesso " ), sem se vergarem, ainda assim ... pois como diz um amigo meu, blogueiro também por aqui :

        " UM   HOMEM  NUNCA  SE  RENDE ;  MESMO  DE  FATO  E  GRAVATA " !!!...

Anamar

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