sábado, 13 de julho de 2013

" INTERMEZZO"



Escrevi  muito pouco durante a minha estadia em Zanzibar.
Foram, aliás, umas férias, digamos, um pouco atípicas.
Dir-se-ia que entrei na modorra de África, e fui engolida por uma espécie de adormecimento do espírito.
Embebedei-me da beleza natural, atordoante, senti a displicência da despreocupação inerente a tudo o que me rodeava ... e fui deixando apenas, transcorrer o tempo.

Pela primeira vez  em circunstâncias idênticas, creio, senti-me dominada por alguma angústia.  As notícias político-sociais de Portugal caíam-me em cima, através do ciber-espaço, que sempre nos atropela, não nos poupa, e não nos deixa indiferentes em lugar nenhum do Mundo.
Como seria abençoado, piedoso, saudável mesmo, que nos deixassem esquecidos no outro lado do planeta, ignorando que a laranja tem duas metades !...
Mas cada vez menos, isso é possível !
E cada vez mais, as realidades que vivemos nos atropelam inapelavelmente, e conseguem desestabilizar o nosso "eu" interior.

Depois, confirmou-se o que eu estou farta de saber, e que toda a gente sabe : nós carregamos as "nossas coisas", que pesam arrobas, nós damos-lhes outros ares, nós damos-lhes banhos, que julgamos de felicidade imaginada ( ou sonhada ), e voltamos a trazê-las, mais pesadas, se possível ...
Arejadas, mas não limpas, lavadas mas não asseptizadas ... igualmente irresolúveis !!!...

E quando saímos da bênção que é, partilharmo-nos com a Natureza gratuita e livre, mergulharmos no "pote de vitaminas" que tudo aquilo é ... e regressamos às quatro paredes do nosso quarto, à colmeia  que  é  o  nosso  edifício,  à  "marabunta"  que  é  a  nossa  cidade ...

Quando o betão começa outra vez a elevar paredes, e a agigantar-se, fechando-nos os horizontes ...

Quando o sol começa a empalidecer, os cheiros a esmorecerem, as cores a acinzentarem ...

Quando o som do silêncio que nos sufoca nas horas de solidão, aumenta desmesuradamente os decibéis de volume ...

... percebemos que exaurimos o balão ansioso, das espectativas criadas, esvaziámos as reservas das ilusões cultivadas, gastámos até esgotar, a fé ( que na verdade o não chegou a ser ... sempre soubemos ) , e que tudo não passou de um "intermezzo" inventado, de uma frase largada entre parêntesis, de um daqueles sonhos efémeros, que acaba sempre, no melhor ponto da história !!!...

Anamar

Sem comentários: