terça-feira, 14 de abril de 2015

" AS MAIAS, O MAIO - HISTÓRIAS E LENDAS "




Já aí estão as maias outra vez, florindo nos campos, como se o amarelo do sol tivesse acendido a Terra !
É sinal que beiramos outro Maio, é sinal que daqui a pouco é Verão, e um calor gostoso começa a tornar a Natureza úbere, e nos remete a um ventre fértil, em que as entranhas fecundas e pródigas nos mimoseiam com flores, frutos, aromas, cores estonteantes, beleza a rodos... sem regateio !

As maias ou giestas,  eram as flores dos pobres, lá no meu Alentejo.
Não havia mesa na cozinha, escaparate que se prezasse, mesa de cabeceira de sonhos promissores ... que não tivesse uma bilha, uma caneca, um qualquer caco mesmo gatado que as  não contivesse !
Eram pretexto de idas ao campo, de piqueniques de beira de estrada.
Uma braçada das maias  inebriava, penetrava-nos o coração, purificava-nos o ar, entontecia-nos a alma com o  perfume intenso, que trazia a Primavera  adentro de casa !

Largadas no chão,  atapetando caminhos de terra batida, entradas de montes ... soleiras das portas ou em pontos de descanso para sesta desejada ... lá estavam elas, garantindo a frescura, e o odor a paraísos sensoriais ...

Nas ruas, em tempo de procissão, também as maias adoçavam os percursos, para que os santos os calcorreassem em tapete macio.  Por certo arregalariam os olhinhos, de ternura agradecida !

Em  miúda ia apanhá-las ... Era de praxe !
Quando a minha mãe, no primeiro dia de Maio me entrava pelo quarto, mal o sol raiava, com uma amêndoa na mão, para que eu, mesmo adormentada  a comesse ... eu já sabia que era Maio, que eu não podia "deixar entrar" o Maio ... e que as maias já floriam na charneca lá fora !  Não tinha erro !

Sempre refilava pelo despautério.
Sempre achava aquilo, uma enormidade, uma tonteria,  um perfeito absurdo !
Raios !... Mania dos mais velhos trazerem ao presente o passado, com medo que ele fique definitivamente lá ... no passado mesmo !
A amêndoa era a terapêutica preventiva da entrada do Maio no corpo da miudagem, o que prenunciaria preguiça e molenguice  o ano inteiro !...
Era o suspeito "vedante" de uma desgraça dessas !!!...

O tempo passou, e há muito já, que o Alentejo me ficou para trás.
Há muito que as  memórias, as histórias e as lendas são exactamente isso... lembranças doces, histórias inesquecíveis ligadas a sítios e a gentes  que se tornaram míticos ...
Desde sempre, os aromas da terra, a cor inexplicável daquele chão, a grandeza daquela planura sem horizonte ou limite  que se veja,   me impregnaram até ao âmago, com a força de uma tatuagem que não desgruda, com a certeza de uma ligação umbilical indestrutível, com o amor de uma maternidade para toda a vida !

E até hoje, o cheiro das giestas parece perfumar o meu imaginário distante, e dou por mim a sorrir nostalgicamente, quando os olhos alcançam o amarelo outeiro acima, num contraste perfeito  com o azul intenso e luminoso  do céu de Maio ...

Só que eu não sou mais a gaiata de então !...



Anamar

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