quinta-feira, 2 de abril de 2015

" INEVITAVELMENTE ... PÁSCOA ! "





" Que altas, que baixas, em Abril caem as Páscoas "

Toda a vida a minha mãe repetiu esta frase, quando Abril chegava, e ela ainda não tinha olhado o calendário,  a preceito.
"Não sei quando é a Páscoa este ano !..."
Seria certamente por aí, mais semana menos semana ...

Já falei aqui, várias vezes e de várias formas, desta comemoração que para mim guarda memórias.
Memórias temporalmente diferentes, espaçadas no tempo, e consequentemente vividas distintamente.
Retenho muito, com muito carinho, as Páscoas de Alentejo, de casa de avós.
Singelas, doces, felizes.  Páscoas simples, autênticas,  e tão "açucaradas" quanto os doces e os pitéus que as recheavam ... quanto o carinho e o afecto que escorria entre todos, os que nos juntávamos então ( e eram muitos ... quase todos ... )
Tão "açucaradas" quanto o aconchego sabido em casa mais que paterna, que por o ser, deverá sempre ser especial no nosso coração, ser "ninho" primordial, ser cordão umbilical indestrutível.
Tão "açucaradas" quanto o serão sempre  as memórias descomprometidas da criancice e da adolescência, as recordações de férias, o verde dos campos, o matizado das flores pródigas, a cobrirem  todo o chão do Alentejo !
O sol sempre tinha a claridade deste sol de Abil, que brilha em céu claro e translúcido.
O primeiro calorzinho convincente, do ano, instala-se, e sente-se claramente que a Primavera não dispensa vir comer as amêndoas connosco !...
Foram tempos !...

Recordo depois, anos passados, as Páscoas beirãs.
Outra gente, outra realidade, outras vivências.
Páscoas recheadas com família escolhida ... pais, irmãos, cunhados e já filhos a crescerem,  para quem a Páscoa repetiria seguramente o sabor das minhas, muitos anos lá atrás !

A geografia espaçava estas vivências.  O tempo espaçava estas emoções.  Os costumes diversificavam as comemorações.  A vida escolhia figurantes novos,  em cenários diferentes ...
Mas eu, continuava a ser eu, menina-mulher, calcorreando adiante a senda destinada.
O chão era outro, o ar também.  Os cheiros, talvez diferentes.  Os verdes agora eram da montanha, e não da planura sem limites.
A cor, a esmo espalhada, não se fazia rogada, e era igualmente generosa.  Engalanava encosta acima até ao pico da serrania, todo o espaço que a nossa vista alcançava ...

Também aqui, as glicínias penduravam os seus cachos roxos e cheirosos.  A "flor da Páscoa", os jarros, as camélias e as magnólias alindavam os jardins.
E nos campos, também aqui, as giestas, as macelas, as estevas, os dentes de leão, os bordões de S. José, o alecrim, o rosmaninho  e as urzes, não esquecendo as papoilas salpicantes e mil outras, se faziam presentes, ombreando em beleza e em cor, em singeleza e autenticidade, numa explosão de aromas e formas.
Flores sem mão de jardineiro !  Nem por isso menos belas ... Um regalo para a alma !...

Mas era o mesmo Portugal, embrulhado no mesmo céu, resplandecente, com o mesmo sol sempre claro e luminoso ... o sol de Abril que nos chama à Natureza, à renovação, ao renascimento ... à esperança !!!

Tenho saudades ... claro que tenho saudades !
Como costumo dizer ... saudades de tudo, mas sobretudo saudades de mim, da que eu era, e de todos os que, presentes fisicamente então, me continuam no espírito e no coração para todo o sempre !...

" Que altas, que baixas, em Abril caem as Páscoas !" ... a tradição mantém-se !!!...



Anamar

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