sexta-feira, 17 de abril de 2015

" SINTRA "




Ao virar de uma esquina, no meio da ramagem, de repente surge a princesa, altaneira,  no recorte de castelinho de fadas.
A Pena lá se mostrou ...

Os meus caminhos nunca favorecem vê-la deitada lânguida, espreguiçada no topo da encosta, como ela o sabe fazer ...
Sempre a abordo de nascente.  E desse ângulo, ela encaracola-se e só mostra o que quer.
Calcorreio as veredas, os becos, as escadinhas.
Nos beirais envelhecidos, encarrapitam-se plantinhas atrevidas que espreitam de cima, as ruas estreitas.
E florescem ... espantosamente florescem por sobre as telhas ...
As janelas, de todas as formas, não são simplesmente janelas.  São janelas de estirpe, com carisma. Têm histórias  a contar.  A patine dos anos adoça-as, a graça das cortinas revela-lhes o rosto.
São molduras de vidas, são caixilhos de sonhos.
Há uma cumplicidade contada na penedia, recoberta de musgos ancestrais.
Há segredos subentendidos em cada tronco, por onde as heras trepam com sonhos de infinito.
Há a magia da neblina que esconde e desvenda.

As glicínias e as roseiras aproveitam cada canto, cada muro, cada portão, para se mostrarem plenamente, como donzelas fáceis, porém enganadoras.
As camélias, desenhadas em talhe de arquitecto, num mimoseio de "biscuit", enfeitam parques e jardins ...
As sinetas de anunciar, nas entradas das quintas, os batentes das portas, trabalhados ... os cães empoleirados nos muros, anunciando-se ... ou sonolentos, por hora de sesta ... os gatos ... muitos, com vida boa e repousada, têm alforria total.
Que mais quererá um gato ?!

Tudo isto, é Sintra !...

Adoro perder-me por lá, em caminhos que nem entendo.
Adoro pausar numa qualquer pedra, num qualquer recanto, numa qualquer volta, só para respirar, absorver o ar fresco que emana da serra, descansar as pernas.
Assim, dolentemente, sem horas, sem compromissos, sem encontros, além do meu com Sintra, que tenho a certeza, sempre está à minha espera !

Sintra é um deslumbre, uma surpresa, uma novidade , um assombro ...
Sintra é uma ternura, um encanto, uma canção ... uma dádiva generosa ...
Em cada canto há um recanto inusitado, que não se sonha ou prevê.  Que simplesmente aparece, que se dá, como uma prenda a desembrulhar-se ... a cair-nos no regaço.
Os sons e os silêncios, as cores e os aromas, a brisa que perpassa, que dança nas ramagens de todas as cores e de todas as formas ... desde as que rastejam atapetando e envolvendo, às seculares que sobem e se erguem, diferenciando-se, querendo abraçar a montanha ... Tudo é uma promessa de amor ...

Porque Sintra é amor ... seguramente Sintra é amor !...



Anamar

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