quinta-feira, 7 de maio de 2015

" NO LAVAR DOS CESTOS ... "





Há muito que não escrevo.
Há quase duas semanas, o que para mim, representa tempo de mais !
Demasiadas coisas acontecendo ao mesmo tempo, na minha vida !  Demasiadas preocupações, angústias,  aflições, incertezas, mágoas ... Tudo de correnteza sobre mim, sobre a alma e sobre o coração.
Uma avalanche, uma hecatombe ... um tsunami, indiferente e demolidor, que avançou, avançou, e deixou escombros ... restos ... destruição !

Há alturas na vida, em que ela parece brincar connosco.  Em que tudo é posto em causa, em que nos questionamos sobre muita coisa, sobre os valores mais elementares, sobre quem somos, o que fomos ... se valeu, de facto, a pena.
Há alturas na vida em que nos deparamos com um desconhecimento absurdo das  convicções, das certezas, das  verdades que foram nossas.  Verdades que eram garante da nossa existência, eram suporte da nossa lógica de existir, alimento do nosso equilíbrio.

De repente, perguntamo-nos se terá sido mesmo verdade que andámos por aqui, se teremos sido aquele que julgávamos ser, ou se tínhamos de nós mesmos, apenas uma imagem distorcida ... fraudulenta ...
Perguntamo-nos  se não teríamos fabricado  em  nós póprios  um "outro" boneco, desinserido do real, desfocado,  pouco preciso,  e fruto simplesmente de uma mente talvez perturbada, com padrões de auto-aferição deformados,  e bitolas viciadas ...

E postas na mesa as cartas com que jogávamos, tudo parece estranho.
Foge-nos o trilho, ficamos estrangeiros na nossa própria pele, perdidos no nosso próprio chão.
Nada era bem aquilo, afinal !...
Teremos adormecido em algum ponto do caminho ?!

A saúde, ou a falta dela, remete-nos inevitavelmente para a dicotomia angustiante da vida e da morte, que nos confronta sempre, com a impreparação que o ser humano tem,  de entender ... menos ainda, de aceitar.
A precariedade e a fragilidade que nos caracteriza ... face à ideia pueril que nos envolve no período áureo da existência, de alguma "imortalidade" e invencibilidade, desvendam-se-nos, tiram o véu, e mostram-se com toda a crueza e realismo do inevitável ...
Somos pouco, muito pouco mesmo !
Somos mero calhau,  rolado pelas marés ... ao sabor da agressividade das mesmas !  Sem apelo !

O questionar dos afectos ou o seu desmoronar, remetem-nos para a orfandade maior de nos percebermos em solidão, em desamparo, no tombar dos pilares que nos sustentavam e davam significância a esta coisa a que chamamos "existir"...
E percebemos com clareza doída, como o Homem é refém dos mesmos.  Como o Homem, ilhado, não vive ... sobrevive precariamente ...apenas !

E pronto.
Tudo se cogita no "lavar dos cestos", em horas de paragem e balanço.
Tudo se repensa, se avalia, de preferência sem emoção.  Porque esta, sempre deita uma poalha de névoa, perturbadora, sobre pensamentos e reflexões que se querem distanciados, pragmáticos, lúcidos  ... frios de análise.

É  quase  sempre  assim ...  há  muitas  alturas  na  vida  em  que  ela  parece  brincar  connosco !...

Anamar

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