Será um blogue escrito com a aleatoriedade da aleatoriedade das emoções de cada momento... É de mim, para todos, mas também para ninguém... É feito de amor, com o amor que nutro pela escrita...

domingo, 7 de junho de 2015
" JULGUEI ..."
Julguei que conhecias os caminhos ...
Sim, aquelas veredas que cortam a serra além, que sobem às falésias, e de repente nos deslumbram o mar ...
Julguei que os conhecias, por os palmilhares vezes sem conta. Até porque eram caminhos do meu coração ... Não podias esquecê-los na segunda curva da estrada !
Por que cruzámos trilhos, trocámos braçadas de rosas, respirámos o mesmo azul do céu, a mesma neblina do monte ?...
Por que rimos com o voo do pássaro azul empoleirado no galho ... olhámos até ao firmamento a gaivota rasante, aninhada no vento que perpassa, para descansar ???
Porquê ? - diz-me lá ...
Tantos códigos de afecto que registamos nesta passagem, e que nos caem do bolso do coração, no primeiro socalco da estrada !...
E as amoras ?! Será o tempo das amoras adoçarem os caminhos ?
Não sei ! Já perdi a noção desse tempo ... como um filme que saíu de cena, há muito !
Estranho ... é tudo tão estranho nesta jornada !
É tudo tão frio e tão vazio, que nem o sol que começa a esquentar por estes dias, consegue aquecer ...
Já perdi coisas de mais ... Distracção da alma ... tenho a certeza !...
Ou então já não sei jogar neste tabuleiro ...
Nesta altura, Lisboa era linda. O castelo e as ruinhas ressomavam a manjericos, a tronos e a festões.
Nesta altura, julguei que a cidade era do tamanho do que eu carregava dentro do peito ...
E as janelas das vielas, com os velhos de atalaia, e as roupas descoradas e tão velhas quanto eles, adormecidas na fresca da tarde, acenavam-me como as velas das faluas cruzando o Tejo, lá ao fundo ... por entre meio do casario !
Julguei que tudo ia ficar ... mas enganei-me outra vez !
Fica-me o quê, então ?
Fica-me o que consigo guardar no sótão da memória. Ficam-me os risos iluminados dos rostos. Ficam-me as vozes que a brisa me sopra lá de longe. Fica-me o eco das fantasias inventadas, porque era Verão, havia sol de mais, e a esperança verde embalava-me no seu regaço ...
Ficam-me as mãos perdidamente vazias, esquecidas das linhas do teu corpo ...
E fica-me a ausência de todos os que amei ...
Fica-me o espaço vazio, sobrante na alma.
Fica-me o silêncio que pesa eternidades, e me assombra as madrugadas desertas ...
E ficam-me demasiados buracos, nos sonhos tricotados nas noites enluaradas ...
Quem disse que o vazio não pesa ?
O vazio pesa o peso do Mundo ! O vazio tem a cor do desespero, pinta-se de negro como as alvoradas que não querem nascer , ou as velhas embiocadas que choram os mortos ...
Tem aquela cor mate, que é uma mistura inventada entre o vermelho sangue e o branco paz, que são a cor da inquietação e a cor da saudade ... tenho a certeza !...
E eu que julguei estar viva !... E afinal, não era bem assim !... Também não era bem assim !...
Estou por aqui, é verdade ... Mas olho e não vejo, busco e não encontro, falo e não me oiço, chamo, e a voz atraiçoa-me ... segue sem endereço, como mensagem extraviada ...
Então, resta-me sentar no penedo adormecido, olhar o sol a descer de mansinho ... e esperar. Só esperar !...
Anamar
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