quarta-feira, 17 de junho de 2015

" O GRANDE DITADOR "




O tempo é o grande decisor.
É o homem da batuta, é ele que dá as directrizes, os comandos, as ordens, assume as determinações.
Ele decide, à revelia das vontades.  Ele resolve.  Manda e desmanda, mostra, ensina ...
Premeia e castiga.
E é sempre impiedoso e autoritário.
Nada o demove, com nada se compadece ...

Por aqui andamos, ao sabor dos seus caprichos.
Tanto nos ilumina a vida ... como, pirracento, nos desagua no coração, uma tempestade devastadora.
Quando estamos felizes, aziaga-nos a felicidade !  Não descansa enquanto não acaba com ela.
"Não há bem que sempre dure"... diz o povo.
Também, diz ainda o povo que "não  há mal que  nunca  acabe".
Só que esse tempo é sempre tão longo, tão longo, que parece não ter fim ... e o seu estrago também não !
Ensombra-nos a existência, e parece rir da "partida", com indiferença e distanciamento !
Coloca-nos no "mato sem cachorro", como baratas tontas, às cabeçadas ao destino !...

O tempo escreve, rescreve e apaga.  Sem perguntar nada.  Sem pedir opinião.  Indiferente às mazelas. Distante da hecatombe  !
E como um ditador, faz e não justifica ...

Assim é o meu tempo, neste momento da minha vida ...
Brinca a cada momento.  Obscurece-me o coração e extirpa-lhe as mais bonitas emoções, que eu jurava  não mais de lá sairiam.
Agride-me e destrói-me , numa manobra de amortecimento do espírito, colocando-me num estádio sonolento de vigília, face à vida.
Quase deixo de sentir, quase estou incapaz de me envolver com a minha própria história ... quase me descomprometo da realidade.
E sinto-me estranhamente irreconhecível.  Identifico-me a custo, e sinto-me como alguém em hibernação fora de estação ... desligada, apagada ... semi-morta !
"Zombie", em cada dia que passa ... como se não percebesse sequer se é manhã, se é noite, se a noite já repegou outra manhã ...
Prisioneira, tolhida de liberdade, amputada do livre arbítrio sobre as minhas escolhas !...

E ele passando ... avançando !
De ampulheta na mão, olha-me de lado ... sobranceiro ... altivo ... insensível, disfarçando o riso amarelo de escárnio ...
Ditador ... um ditadorzinho de meia tigela !
Porém, poderoso, dono e senhor ... gélido e impassível ... como todos os ditadores !!!
Reféns ... nada mais que reféns ... Eis o que somos, neste jogo desleal, desigual e absurdo, de poder ...

Este é o meu tempo !
Este é o tempo que vivo !
Este é o tempo que me mata, todos os dias um bocadinho !
Este é o tempo que me tiraniza, e de que estou farta, absolutamente farta !!!...

Anamar

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