terça-feira, 30 de junho de 2015

" POR AQUI ... "




Estou seca !
Seca de ideias, de emoções, de sentimentos ... vazia. Totalmente vazia !
Tão estilhaçada como aquele vaso de porcelana que tombou, e reconhecemos irremediavelmente perdido !
Tão esfiapada como o trapo velho, que desacreditamos  possa ter ainda algum préstimo !
Tão vazia quanto o pode estar o balão que acaba tombando no chão, por perda de todo o ar que o preenchia !

Passeio-me por aqui.  E até o pensar me cansa, e recuso.
Tento voltar esquinas perdidas, procurando no ontem, justificação para o hoje, esperanças  para o amanhã !
Procurando lógicas, fios condutores ... caminhos esquecidos, veredas ou atalhos que pudessem ter levado a algum lado.
Procurando erros, sentidos dúbios, avaliações mal calculadas,  raciocínios mal medidos, ideias mal desenhadas, esperanças infantis, ingenuidades absurdas ... culpas não encaradas ...
Procurando por onde andei lá atrás, que criança fui, que imaturidade me invadiu, que parece ter-me tolhido o crescimento ...  
Interrogando-me, por que razão tão mal me sei mexer sempre, neste percurso ?!
Procurando divisar justificações p'ra tanta inépcia perante a vida, tanta falta de habilidade para vivê-la, tanta incompetência e estupidez, ou burrice a encará-la ...

Em vão !

Não descortino nexos, sentidos, razões que justifiquem tão rápida, cruel e eficazmente, a destruição das perspectivas, das expectativas e das vontades, na vida de alguém ...
Sobretudo da vontade aniquilada, da ausência de capacidade, força ou inconformismo... que esse sim, seria motor impulsionador em cada dia.
Não !  Estou amodorrada, como velha encarquilhada à lareira.

E como  em terreno pantanoso, não me soergo.
Como em areia no deserto, não me desenterro e perco o horizonte.  As estrelas não me dão norte, e as dunas fazem-se e desfazem-se adiante de mim ...
Como em mar encapelado, não lanço mão de madeira à deriva ...

Não !  Sinto  que tudo  já fugiu ao meu controle.  Que tudo já ultrapassou a minha resiliência.  Que tudo atropelou até a minha vontade, a minha coragem e o último resquício do meu lado guerreiro.

Capitulei.  Depus as armas.  Não me rebelo, não me indigno, não me insurjo,  não me puno ... não me digladio ...
Não me surpreendo, não sorrio, não sonho, não luto ... não vivo !...

Estou cansada.  Só sei que estou profundamente cansada.  Desesperadamente cansada.  Doentiamente cansada !
E só !
Com a solidão do náufrago, que percebe que a  última onda possível ... acaba de passar, rumo à praia longínqua !...

Anamar

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