quinta-feira, 3 de maio de 2018

" INGENUIDADE "





Uma porta, duas janelas
era o tamanho do sonho
que sonhei, sonhei, sonhei ...
até que um dia cansei
de vê-las sempre cerradas ...
E havia uma cancela,
malmequeres, um lilaseiro,
e o mar bramia por perto
em veredas já cansadas
Do outro lado, era a serra
com o vento em desalinho,
E as arcas guardavam sonhos
por entre os lençóis de linho
As tamareiras selvagens
conheciam os segredos
que lhes confiara um dia ...
E as trepadeiras subiam
ao alto, p'la cantaria
As juras que de amor fiz,
p'ra todo o sempre as selei ...   
E do peito onde as guardei,
roubou-mas a ventania !

Mas mataram-me este sonho
nos sobressaltos da vida ...
Sumiu como as andorinhas
que partem em despedida
As gaivotas já não pousam
nas traves dessa cancela,
e a porta e as janelas
têm o tamanho da dor,
têm o tamanho do amor
que viver ali, sonhei ..
E as lágrimas que hoje correm
em desnorte, pelo monte,
fecharam-me o horizonte,
porque do sonho, acordei !...

Anamar

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