sexta-feira, 8 de março de 2019

" AS MINHAS TRÊS GERAÇÕES DE MULHERES "





Hoje, celebra-se mais um Dia Internacional da Mulher .
Mais uma efeméride "vendida", para obviamente vender ...

Não sei o que é ser mulher !

Sei que há diferenças notórias, substanciais e visíveis, entre os géneros, ou pelo menos, entre o arquétipo de cada um dos géneros.
É teórico que o Homem seja tido como racional, mais distante, pragmático, na colocação prioritária dos seus interesses, centrado funcionalmente, emotivamente mais volúvel, já que o Homem é reconhecido como fundamentalmente "visual" ( como se diz ), nas suas relações afectivas ... e a Mulher, como "emocional" ... menos "cabeça" e mais "coração" !
A mulher de hoje, é multifuncional, e penso que isto lhe foi determinado, pela necessidade vital de se distribuir, com competência, e em simultâneo , por meios familiares, profissionais e sociais.
A mulher é sensitiva ( não é em vão que se fala no seu sexto sentido ) .
É abnegada, esquece e limita-se a si mesma, em função da sua realidade envolvente, e dos que dela precisam, convive e é, com frequência, sustentáculo de dificuldades sérias, na sua própria estrutura familiar.
E supera-se, funcionando como esteio  dessa mesma célula, inventando e reinventando, um "modus vivendi", suportável.
Tende a ser uma boa profissional, de excelência às vezes, embora, estou certa, nunca a família ( mormente os filhos ), seja preterida, em função da profissão.
Porque isso é biológico, e genético.
Como tal, a exigência que faz à sua pessoa, para cumprir esse desiderato, traduz-se num sacrifício, globalmente acrescido, e numa transcendência de si própria .
Quando ama, a mulher dá-se, rende-se, entrega-se com satisfação, e pode mesmo  apenas exigir o mínimo retorno.
E nada do que lhe é pedido  constitui uma carga ou uma impossibilidade.
A mulher chega a ter o mérito, de segurar um amor incondicional  por um homem que não lhe corresponde em idêntica proporção ...
Mas não desiste ... desdobra-se, frustra-se com frequência, dói-se, morre aos poucos ... mas continua lá ( quantas vezes, culpabilizando-se ainda ... estúpida e injustamente ... Esta a única palavra que nos ocorre ... ) !

E chora ... A mulher chora muito ...
Mas chora no seu silêncio, no seu canto ... isola-se p'ra chorar.
Porque, muitas vezes, tira das lágrimas que lhe assomam, risos de fazer de conta ...
Colhe na ausência de esperança, uma poalha de luar  para seguir no seu caminho ...
Pinta na escuridão que desce, sírios estelares, que lhe iluminem o trilho a percorrer ...
Transforma os espinhos em tapetes mansos de musgos e erva verde, fofa e macia, para que, quem venha atrás, sinta o andar atapetado ...
Abre  os braços, como asas protectoras, como ninho, onde os ventos  de borrasca não derrubam os seus ...
Busca no desespero, força, mordendo os lábios até sangrarem, ditando um compasso de espera ao coração, para que ele adormeça e se aquiete ... até que a paz o invada !
É simultaneamente  uma fortaleza inexpugnável  e o aconchego duns braços, doce  e macio, onde acolhe o Homem, enquanto filho, enquanto irmão, enquanto amante, e mesmo enquanto pai, velho e alquebrado, sendo ombro e bengala ... ajudando-o  a  transpor a derradeira  ponte da sua vida !

Nos últimos tempos tem-se assistido a uma escalada alucinada de violência social contra as mulheres.  Desde logo no reduto do seu lar.  Frequentemente, pelas mãos do companheiro escolhido, ou de quem lhe deveria querer bem, protegendo-a, defendendo-a  e amparando-a.
Socialmente, o julgamento, a desprotecção e a irresponsabilidade assumidos  pelas autoridades competentes,  não só não demonstram a eficácia necessária às situações,  como ainda discriminam miseravelmente as vítimas destes processos persecutórios.  Descuram  e tratam de ânimo leve os maus tratos, a violência  e as sevícias indiciadoras de futuras  situações  mais graves  e  ameaçadoras, favorecendo e facilitando a actuação dos agressores, que infeliz e normalmente, acabam  consumando  lamentavelmente, os crimes.
Neste ano de 2019, que vai apenas com três escassos meses incompletos,  já morreram às mãos de carrascos frios e  monstruosos ,  13 mulheres !

Sou  charneira   entre três gerações de mulheres.

Atrás de mim, fica-me a minha mãe que infelizmente já não está entre nós  e  que foi tudo isto ... nos seus noventa e sete  anos de vida.
Geração forjada na dureza da terra que a viu nascer, com a força e a perseverança, que aquele Alentejo ( pouco generoso às vezes ), lhe conferiu !
Foi, até ao fim dos seus dias,  uma combatente, uma resistente, uma sobrevivente ... um exemplo ... uma Mulher !...

Depois de mim, tenho duas outras Mulheres, que na idade que já têm, ombreiam comigo, nos percalços, nas dificuldades, nas alegrias, nos momentos bons, mas também nos menos bons, desta nossa existência !
Já me couberam no cólo, já as guiei pelas mãos, com elas já ri...por elas, já chorei muito !
Continuarão comigo, se o Destino assim o quiser, até que sejam elas que chorem comigo, riam comigo, me alinhem os cabelos prateados dos tempos, me dêem as mãos, para que um dia, em passo titubeante, eu  possa  ainda  chegar  à janela, eu possa ainda, perder-me a olhar o sol, descendo no ocaso !...

Mais à frente está  a Vitória que caminha para os quinze anos e a Teresa que com os seus vinte e um meses ainda não guarda em si qualquer noção de género, na sua curta vida.
Irão  saber, forçosamente, aos poucos e poucos, qual o seu real lugar no Mundo  ...
Irão  perceber em si, um dia, este privilégio não partilhado, único, insubstituível, incomparável, de dar a vida e de dar a sua própria vida, junto ...
O privilégio de ter nascido Mulher !...

À Vitória, particularmente, eu saúdo !
Que ela albergue em si  sempre, um coração bem feminino ! Que nele, ela encontre  uma fonte de generosidade, de amor e transcendência  !
À  Teresa,  saúdo  igualmente, auspiciando  que  na  vida  saiba lutar e defender  o seu lugar e o seu papel, sem esmorecer perante as dificuldades, as injustiças, as adversidades  e  desigualdades  com que infelizmente ainda, a sociedade machista em que vivemos, faz a discriminação gratuita de género.

Eu, bem ... Eu devo ser simplesmente,  um misto destas raízes, um enxerto destes caules, a frutificação, do antes e do depois de mim, nestas formas imperfeitas, de se ser Mulher !...

Anamar

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