Será um blogue escrito com a aleatoriedade da aleatoriedade das emoções de cada momento... É de mim, para todos, mas também para ninguém... É feito de amor, com o amor que nutro pela escrita...

domingo, 23 de setembro de 2012
" TUDO ISTO TAMBÉM É A VIDA !... "
Será possível que cheguei há um quarto de hora ao café, e já ouvi dez vezes nas mesas ao lado : " É a vida ..." ?!...
Bom, se não foram dez, foram oito ...
A população é sempre a mesma. As células "especializadas" nos vários temas, fazem-se por mesas.
Como diz a Lena e a Catarina : " Sai desse café ! "
Mas eu sou militante, masoquista, e sempre me afeiçoo ao que não devo ... e insisto e persisto.
Já pus os "phones" nos ouvidos, procurando abafar, com Énya, a distância que me separa do "mundo".
Nas televisões à minha frente, o problema está na escolha. Numa delas, no circo de feras da Assembleia da República, os maluquinhos degladiam-se, a repetir as insanidades do costume, nesta "rentrée" particularmente quente, e sem horizonte.
Dizem e repetem, abanam as penas de pavão ... redizem, dissertam e masturbam-se mentalmente a ouvirem-se, porque de certeza, muitos deles, mais ninguém ouve. E realizam-se e deliciam-se ... São os maiores da sua freguesia !
Este meu humor cáustico, é triste ... É um esgar de tristeza, se calhar uma caricatura mais triste ainda de humor, que como eles ( os da Assembleia ), também julgo que tenho, enche o meu "ego", e não tenho de todo !!!
O outro televisor vai "parindo" sessões contínuas de desporto e mais desporto, sendo que o privilegiado é o futebol, claro ; cá, lá ... em todo o Mundo.
Felizmente que sou suficientemente "cegueta", para daqui donde estou, só perceber que se trata de um relvado verde ( depreendo ) , e uns gajos quaisquer, com camisolas de cores contrastantes com esse verde do tapete, aos pontapés a uma bola ...
Não sei quem são, não me interessa ... tenho raiva a quem sabe !
Na mesa ao lado, três amigos, para lá de ultrapassado o "prazo de validade" ... a "mijar p'ras botas", na "linda" expressão frequentemente usada pelo Carlos ( como se ele não fosse também lá chegar ), falam, ou de comida ou de futebol, óbvio ...
Um deles trabalhou ( cá p'ra mim, na outra encarnação ), em restauração. Já falou de "massada" não sei de quê, em empadão de atum, em soufflé de gambas ... depois referiu o Bairro Alto como um local onde se come bem ... e o resto já não ouvi, porque já estava saciada ...
Hoje, e nos próximos dias já não vou precisar de almoçar !
Não se pode ir além do "bom dia", porque a história do AVC eu já conheço ( contada a mim e a quem tiver o azar de lhe dar uma "abébia" ), das caminhadas que faz ( percorre a cidade inteira, segundo ele ), com que vai "curando" as maleitas do corpo ( ele acredita ) ... da solidão ( eu não acredito !! )
A D. Maria dos Anjos, uma alentejana com todo o sotaque de Nisa, a sua terra natal, fala das azevias e pastéis de massa tenra, que vende e com que ganha a vida. Um único filho, que se suicidou há três anos ( overdose ), deixou-lhe duas netas gémeas, que alguém ficou cá para criar !
É "mundialmente" conhecida, em particular aqui, onde trata toda a gente por "meninos", dos zero aos noventa ...
Fala altíssimo, conta as histórias todas, as relevantes e as não tanto, a quem quer e a quem não quer ouvir.
Depois há um casal super-ternurento, discreto, muito simpático. São pessoas que sabem "estar", como se costuma dizer. Estão na sua mesa, lêem o seu jornal, conversam restritamente com uma ou outra pessoa, e entre si.
Ambos de cabelos grisalhos, ou melhor, o senhor, com o pouco cabelo que tem, grisalho. Tem metade da altura da mulher, é "fofinho", muito sorridente, com um rosto de bonomia, que inspira vontade de que se mime.
Aí pelo meio-dia chega o "doutor", de quem já falei num post lá para trás. Compra três jornais por dia. Um, de notícias e dois desportivos.
De um deles, sou herdeira diária, para a minha mãe.
Chega, e antes de se sentar, vai cumprimentar religiosamente os utentes de duas ou três mesas, e recolhe à sua.
O "doutor" impacienta-se sempre que há alguém barulhento, perturbador em excesso, da calma da sua leitura.
Quando está sentado ao alcance dos meus olhos, trocamos olhares de solidariedade reprovativa, porque eu também gosto do meu sossego, nesta espécie de "escritório" diário.
Ele é surdo, e usa aparelho no ouvido. Reduz o som ... Eu, coloco o MP3 a tocar, e aumento o som !!!
"Choses" !... ( como diria um amigo meu )
Hoje devo estar particularmente azeda, e sem estofo de resistência para muita coisa.
Tive que ir a Lisboa há pouco. No carro, sozinha, eu e a minha mente viajante ... Nem o rádio liguei . P'ra quê ??
Numa passagem de peões, ao sinal vermelho, parei, obviamente.
Um dos peões que atravessava, era um jovem estudante, imberbe, como todos o são naquela idade ... de capa e batina.
Dei por mim, a meia voz, a dizer : "Sim, sim ... capa e batina !!... Mais um candidato ao desemprego " !...
À frente, na rua, um idoso, mais um sem-abrigo dos que povoam as nossas calçadas, a pedir esmola.
Ultimamente deixei de dar esmolas. Ou empederni, ou defendo aquela demagogia barata de que o Estado ( que me vai ao bolso forte e feio ), é que tem que resolver o cancro da precariedade e da exclusão social, ( quando estou careca de saber, que se esperarmos isso, morremos todos de fome !... Portanto ... "balelas" ... Mas todos as dizem, não é ?? )
Na sala de espera do local onde fui, uma televisão, novamente distraía quem esperava, com mais outro programa "construtivo e aliciante". Um daqueles excelentes programas tipo "Portugal no coração", "Praça da alegria", João Baião e companhia...Maya e companhia, Manuel Luís Goucha e companhia ... etc, etc ( estão a ver o estilo ?? ) ... para atrasados mentais. Todos a ganharem, entretanto, uma "pipa de massa" !...
Entrevistada no momento, Luciana Abreu, que conheço de propaganda jornalística, das revistas cor-de-rosa do cabeleireiro, do casa e descasa, destes pseudo-artistas de qualquer coisa ( só é preciso ter corpinho e sabê-lo usar ... ).
Meia dúzia de banalidades arrancaram-me uns quantos sopros, inspirações profundas de tédio, esgares no olhar ( nada abonatórios ... ), de impaciência ...
"Bolas" - diria a minha filha que pareço estar a ouvir - "Tu realmente !!! Embirras com tudo !!!..."
Bom, só pode ser o meu mau feitio, a velhice, o desânimo, o cansaço, a saturação da realidade de merda, em que nos movimentamos diariamente, a falta de horizontes ou perspectivas, a inexistência de objectivos ... enfim ... a angústia e a desmotivação que envolve a maioria das pessoas ... ou então ... uma "doença incurável" mesmo, que é este "mau acabamento" que recebi dos meus pais, e que nunca tive capacidade, força ou determinação, para conseguir moldar ou alterar ... e que parece, que cada vez "apuro" mais e mais !!!...
Anamar
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