sábado, 4 de abril de 2009

"CÂNTICO NEGRO"


José Régio 1901 - 1969

Nesta madrugada de silêncios, de solidão, de ausências, em que a vida parece que ficou toda lá fora, para lá desta redoma, refúgio, útero, que são as quatro paredes "protectoras" do meu quarto, a minha única e última ligação ao Mundo, parece ser este computador, objecto virtual que tenta criar para mim, uma realidade ficcionada, falsa, mentirosa, inexistente, obviamente virtual também.

Porque, virtual é tudo o que eu imagino que a vida seria e não é...
Porque virtuais eram as pessoas que inventei na minha cabeça, e não são...
Virtual era a paz que imaginei alcançar, a sabedoria que julguei adquirir, as realizações que me pareceram atingíveis, os sonhos que acreditei poderem não ser virtuais...e esses sim, eram na realidade virtuais mesmo...

Não sei se sou utópica, se não aprendi a viver, se estou doente na alma e no corpo, se estou exausta e me sinto sem forças para chegar à praia ali tão perto...não sei!!
"Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Eu tenho a minha Loucura ! A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou"...

Como diz José Régio neste Cântico Negro que aqui vos deixo..."Não sei por onde vou, não sei para onde vou...
- Sei que não vou por aí!!"

Um amigo (obrigada Filipe), fez o favor de me enviar este maravilhoso poema, grito no escuro, de alguém que tomo como um "outsider" assumido, alguém marginalizado de parâmetros instituídos, alguém que refuta o estereotipado...José Régio.

Como declamadora do poema escolhi Bethânia, para mim, incontestada referência como mulher, como "diseuse", como uma fortaleza, um "animal" de palco.
Bethânia é, da cabeça aos pés, um "amontoado" de nervos e músculos, que à flor da pele transpiram autenticidade, beleza, sensibilidade, garra, força e alma, capazes de pegarem o Mundo pelos cornos.
É neste misto força-fragilidade, suavidade num vozeirão que nos arrepia, que aquela cabeça provocadoramente erguida se impõe, e deixa jorrar o vulcão de sentimentos, com que vive o sentimento de cada frase que declama ou canta...

E por tudo isto, estando a noite lá fora bem negra, estando a vida aqui dentro mais negra ainda...fica o "Cântico Negro" de José Régio...para se beber até à exaustão...

Que ao menos se salve Maria Bethânia!!...



Anamar

4 comentários:

Anónimo disse...

Ola Ana

Sem redomas, sem acentos e sem cantigos negros e ja a horas tardias.mas com um cantigo negro na garganta.este poema foi dos mais bonitos da minha adolescencia.como dizem que tenho predisposicao para ler poesia todos me pediam este,mas ele significa que tu nao estas so.tu negas/te a ti propria.metade do mundo canta contigo o cantigo negro.


fERNANDO

anamar disse...

Olá Fernando
Sempre achei particularmente bonito este poema de Régio.
Desta vez, ao lê-lo não sei quem estaria mais negro, eu ou ele...
De qualquer forma tu dizes que meio mundo o cantará em uníssono...Talvez...mas esse facto não me ajuda muito...
Beijos
Anamar

Anónimo disse...

Minha querida Anamar

Muito obrigada.

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Eu estou aqui. Sempre.

Lenaspaces

anamar disse...

Lenaspaces
Tenho andado por aí...
Por isso não tenho aqui vindo. Mas obrigada eu...
Beijinho grande
Anamar