quinta-feira, 2 de abril de 2009

"A VIDA E AS SOMBRAS"



O sol pôs-se há pouco, lá longe, por detrás da torre incaracterística da igreja deste amontoado de casario, que só não me sufoca, porque, também ele fica lá longe e não atinge a altura do meu sétimo andar.

O sol pôs-se num clarão entre o ouro e o laranja, nesta quinta feira sem história, por falta de história nestes dias de pausa escolar.
Era uma "fogueira" no céu já pálido, deste fim de dia, quase já lusco-fusco.
Era uma "explosão" de amarelo-ouro, e o ouro-amarelo do sol, transportou-me à aguarela pincelada por quem sabe, de uma beira de estrada, ou de uma encosta embrulhada nas mimosas em flor, deste início de Primavera, nestes Abris que nunca nos defraudam.

E pensei em duas coisas que se associam, neste esgar destemperado de ideias:

Lembrei, como ao longo dos anos lutei em vão, para deter uma mimosa, uma só chegaria, em quaisquer três palmos de terra que então eram meus.
"A mimosa é uma "praga", a mimosa liquida toda a água dos terrenos onde vive...a mimosa "mata" outras espécies"...

E dessa forma, passei a parar muitas e muitas vezes em bermas de estrada, para colher braçadas de flores, de mimosas que não são de ninguém, para sorver até ao coração (que é a minha tela disponível para desenhar sonhos), o aroma inigualável da generosa natureza, para me "esbaldar" até ficar prenhe, daquele "mar" dourado, que homem nenhum ousou copiar.

A segunda coisa em que pensei, prende-se exactamente com esta tão auspiciosa quanto vazia solidão, gerada nestes fins de tarde, nestes luscos-fuscos que me impregnam a alma duma melancolia mansa, com que não sei lidar...

O sol a descer, aquele azul-violeta pálido a instalar-se, a minha gaivota a apagar a silhueta esfíngica, procurando guarida noutras paragens... até que a escuridão começa a baixar... eu sentada frente a uma janela (que até parece ter grades), deixam-me assim... vazia, incapaz, desairosa, inerte...
Como será então daqui a algum (já não muito) tempo, quando os dias terminarem sempre e só, em penumbra letal, com os telhados a desaparecerem no fechar do céu??!!...

A propósito de lusco-fusco, deixo aqui um texto ficcionado na madrugada passada, (eu, que parece que estou "entupida" de palavras e que ultimamente não consigo soltar a torrente, e apenas escrevo banalidades como estas)...

"O lusco-fusco é a varanda da noite e a noite a ante-câmara da madrugada...
Essa, então, a mansarda dos sonhos, onde vagueio com braçadas de sardinheiras por entre os dedos.
A gaivota que plana leva-me até lá, onde de nada se vive...ou de nada se morre...
Ao lusco-fusco as toupeiras têm olhos...Eu corro até ti, olho-te...somos dois estranhos já...
Quero dar-te uma flor, mas já as fui perdendo no voo alvoroçado...
Julguei que viveria...
mas por nada se morre...ao lusco-fusco!"


Anamar

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