sexta-feira, 24 de abril de 2009

"QUANDO O RUBRO VESTE A NEGRO"



Quase 25 de Abril outra vez...
Outra vez, não!... 25 de Abril só foi aquele...
Não sei se o vivi, não sei se o sonhei, não sei se vista negro por ele...

Palavras?...trinta e cinco anos depois...secaram na garganta...
Fé e esperança, aquelas que nos levaram loucos às ruas, e em que todos eram um e um tinha a alma de todos...terão mesmo existido??!!

A "fraude" não merece referências, de triste que é...e hoje eu sinto o meu país defraudado, aviltado, espezinhado, amarfanhado...e eu, junta com ele!...

Por isso tudo, pela mágoa e pela decepção que me invadem... por aquela alvorada ter escurecido tão rápido... por aquele sonho ter estiolado, como os cravos rubros às braçadas, secam pisados no chão...apenas vos deixo o meu 25 de Abril de HOJE...sentido por mim, pelas palavras de alguns......(bem-hajas Lena)

"Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada."


Maiakovski
Poeta russo "suicidado" após a revolução de Lenin… escreveu isto, ainda no início  do século XX


Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso.
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht (1898-1956)

Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei .
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar...

Martin Niemöller, 1933 - símbolo da resistência aos nazistas.

Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima,
Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles;
Depois fecharam ruas, onde não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito;
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho...


Cláudio Humberto, em 09 FEV 2007


O que os outros disseram, foi depois de ler Maiakovski.
Incrível é que, após mais de cem anos, ainda nos encontremos tão desamparados, inertes, e submetidos aos caprichos da ruína moral dos poderes governantes, que vampirizam o erário, aniquilam as instituições, e deixam aos cidadãos os ossos roídos e o direito ao silêncio : porque a palavra, há muito se tornou inútil…

- até quando?...

Anamar

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