sábado, 11 de abril de 2009

"INEVITAVELMENTE...PÁSCOA"



Não era bem este o tema que conceptualizara abordar esta madrugada.
Logo o farei noutro dia...

Acontece que há pouco, numa localidade aqui bem perto de mim, me deparei inesperadamente com algo que me transportou obrigatoriamente ao tema "Páscoa" uma vez mais, e à minha meninice: a procissão do "Enterro do Senhor".
Foi algo inesperado, porque creio, ser inusitado e quase inexistente já, este tipo de eventos na grande cidade...ou pelo menos, tão incaracterística ela se tornou, que nem damos por eles.

Este ano a Páscoa veio com a Primavera já começada há dias...e embora tenhamos acreditado que ela estava definitivamente instalada, bem nos enganámos, ao sermos confrontados de novo, com temperaturas quase gélidas, com neve em profusão nas terras altas, e com parte do país em alerta amarelo, devido aos fortes nevões, uma vez mais...

Que a Primavera há muito se anunciava, era bem verdade. O tempo fortemente ensolarado, as temperaturas mais do que amenas, a quase ausência de chuvas, os verdes a despontar nos campos e o brotar em pujança dos coloridos das flores que já espreitam por todo o lado desbragadamente, lembram que a renovação está aí a fazer-se, felizmente à revelia das nossas vontades e determinações.
Os brotos ainda fechados, brevemente darão cascatas coloridas, os cheiros dos campos e jardins começam a surpreender-nos e a fazerem-nos sorrir uma vez mais.

Os frios deverão ir embora, a luz de um sol claro e radioso voltará a dar brilho, calor e tonalidades revigorantes a tudo; os corpos "acordam" da letargia imobilista do Inverno, as espécies iniciam os rituais de fecundidade (os trinados, o pipilar, o arrulhar dos pássaros confundem-se com sons de cumplicidade dos humanos), porque... afinal tudo recomeça, a hibernação completou-se, os "degelos" da alma iniciam-se e os fluxos de esperança, de fé, de energia, aquecem-nos o coração...

Sim, porque ainda que a "invernia" tenha sido escura e tenebrosa, sempre acreditamos no ciclo da vida, em qualquer coisa nova, em qualquer milagre que se irá operar, em qualquer renascimento ou ressurreição...só porque a Primavera voltou uma vez mais...
Isso, se somos jovens, menos jovens, ou bem "maduros"...
Sempre nos deixamos contagiar por essa bendita "doença"...

"Páscoa", do hebraico "Pessach" - passagem, é a mais importante festa da cristandade.
A Páscoa entre os cristãos, celebra a ressurreição de Cristo, a Sua vitória sobre a morte depois da cricificação (cerca de 33anos d.C).
Páscoa deriva então do nome hebraico da festa judaica comum às celebrações pagãs (passagem do Inverno para a Primavera) e judaicas (comemoração da libertação e fuga do povo judeu escravizado, do Egipto para a Terra Prometida).
Os termos "Easter" (Ishtar) e "Ostern" (em inglês e alemão respectivamente), parecem não ter qualquer relação etimológica com o "Pessach". Relacionam-se estes termos com Eostremonat (nome de um antigo mês germânico), ou com Eostre, deusa germânica relacionada com a Primavera e homenageada no referido mês (segundo um historiador inglês do sé. VII).

Alguns historiadores sugerem que muitos dos actuais símbolos ligados à Páscoa (especialmente os ovos de chocolate, ovos coloridos ou os coelhinhos da Páscoa), são exactamente resquícios culturais da festividade da Primavera, em honra de Eostre, assimilados depois pelas celebrações cristãs, após a cristianização dos pagãos germânicos.
Contudo, sabe-se que já os persas, romanos, judeus e arménios, tinham o hábito de oferecer e receber ovos coloridos, por esta época.
No equinócio da primavera, ocorria o ritual de se pintarem e decorarem ovos (símbolos da fertilidade) e esconderem-se e enterrarem-se nos campos.
Este ritual foi adaptado e assimilado pela Igreja Católica, no princípio do primeiro milénio depois de Cristo...e assim surgiram os "ovos de Páscoa".

O hábito de dar ovos de verdade, vem da tradição pagã e o de trocar ovos de chocolate, surgiu em França. Antes disso e muito remotamente, usavam-se ovos de galinha para celebrar a data.

Na Ucrânia, séculos antes da era cristã, já se trocavam também ovos pintados, com motivos alusivos à natureza, em celebração da chegada da Primavera.
Os chineses e os povos mediterrânicos também os ofereciam, como comemoração da estação do ano. Eram meros presentes, simbolizavam o início da vida e não se destinavam a ser consumidos.
A tradição perpetuou-se durante a Idade Média, entre os povos pagãos da Europa.
Celebravam Ostera, deusa da Primavera, simbolizada por uma mulher que segurava um ovo na mão, enquanto contemplava um coelho (símbolo da fertilidade), que saltitava alegremente à sua volta.

Os cristãos apropriaram-se também da imagem do ovo, para festejar a Páscoa. Pintavam-se os ovos (de galinha, gansa ou codorna), com motivos religiosos, tais como Jesus ou Maria.

Na Páscoa, na Inglaterra (séc. X), os ovos tornaram-se ainda mais sofisticados. O rei Eduardo I presenteava a realeza e os seus súbditos, com ovos banhados a ouro ou decorados com pedras preciosas.

Cerca de oitocentos anos depois, já no séc. XVIII, confeiteiros franceses tiveram a ideia, de pela primeira vez, fazerem ovos em chocolate (iguaria conhecida apenas dois séculos antes na Europa, trazida da recém-descoberta América, onde era considerada sagrada, pelos Maias e Astecas).

Por sua vez, a imagem do coelho surgiu associada à "criação", por ser um animal de fecundidade notória, como se sabe.

Na Rússia dos Czares, a Páscoa era também uma data muito especial; todos se beijavam e festejavam a ressurreição de Cristo, a nova vida que surgia, o renascer da esperança.
O povo trocava entre si ovos pintados, como saudação.
A família real e os nobres da corte, davam-se ovos de ouro e prata, decorados com esmalte e pedras preciosas.

Em 1884, o Czar Alexandre III encomendou ao joalheiro oficial da Corte Imperial russa, Fabergé, um ovo, como presente para a sua esposa, a Imperatriz Maria Feodorovna, contendo uma surpresa, ao critério do joalheiro. Esse primeiro ovo representava uma galinha pondo uma safira. O sucesso na Corte foi estrondoso e assim se iniciou a tradição dos ovos de Fabergé.
A cada ano, o Czar encomendava um novo ovo na Páscoa, para oferecer à Czarina e Fabergé concebia-o com total e incomparável criatividade e arte.

Com a morte do Imperador, seu filho, Nicolau II, prosseguiu a tradição, encomendando por ano dois ovos, um para sua mãe e outro para a sua esposa, Alexandra.
O ovo anual constituía sempre uma enorme surpresa para a família imperial e para toda a corte.
Alguns celebravam temas íntimos da família, outros honravam eventos importantes do Estado; todos eram pequenos, delicados, graciosos, com minúcia...preciosos!
O ovo da coroação (1897), com diamantes, rubis, platina, ouro e cristal de rocha, tinha dentro a réplica da carruagem que transportara a Czarina Alexandra, pelas ruas de Moscovo, aquando das festividades da coroação de Nicolau II.

Por serem exclusivos e caprichosamente elaborados, estes ovos tornaram-se peças valiosíssimas. Com cerca de 13 cm, cada ovo levava o ano inteiro a ser confeccionado, desde o desenho original, o corte, lapidação das pedras e todos os detalhes. Tudo feito em rigoroso e absoluto sigilo.
Produziram-se ao todo, cinquenta e seis obras-primas, entre 1885 e 1917.
Com a Revolução Russa em 1917, o tesouro foi confiscado pelos bolcheviques e disperso.
Hoje não se conhece o paradeiro de todos os ovos de Fabergé, feitos para a família imperial. Até 1998, haviam sido localizados 44 destes exemplares.
Em 2002, notícias internacionais davam conta que um ovo imperial fora arrematado num leilão da Christie's por 9,6 milhões de dólares...

E pronto, já me alonguei que chegasse.

Esperando que troquem entre vós muitos ovos desta Páscoa, florida por uma Primavera que em perfeita comunhão, resolveu inundar de cheiros, cores e alegria estes nossos dias, resta-me desejar-vos uma vez mais...

BOA PÁSCOA
OSTERN (alemão)
BAZKO (basco)
PASKHA (búlgaro)
PASQUA (catalão)
PASCUA (espanhol)
PÂQUES (francês)
EASTER (inglês)
PASKA (islandês)
CÁISG (irlandês)
PASQUA (italiano)
PASKHA (russo)......................etc, etc...

OVOS DE FABERGÉ:

































Anamar

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