sábado, 18 de abril de 2009

"ESTA ESTRANHA RELAÇÃO..."



Mais um sábado de Abril a honrar Abril...
O virtual deixou de o ser e tornou-se desconfortavelmente real mesmo, ou dito de outro modo, o Verão virtual que nos surpreendeu e quase convenceu há algumas semanas atrás, tornou-se no real "Abril, águas mil"...e aí temos o cinzento plúmbeo e indiferenciado, instalado, e a chuva a brincar de fantasminha na minha vidraça...

E eu cá estou de "janela" aberta, à espera que o "verão" entre por ela.

Isto parece linguagem codificada e hermética, mas passo a explicar:
Cada vez mais, diariamente, assim que entro em casa, quase como associado a algo parecido a abrir uma luz, despir o casaco da rua ou coisas deste género, ligo de imediato, o PC.

Ele lá está ao fundo do quarto, junto à janela real... a minha janela virtual de vida...
Dou por mim, a abrir-lhe as "portadas", a perscrutar-lhe os sons, a vasculhar-lhe as mensagens, os mails, as notícias, ou seja, a franquear a entrada àquela fila de gente que adoraria já me esperasse...

Vou com alguma ansiedade ao "correio", espero com muita ansiedade que alguém desse sinal de vida aqui mesmo, neste espaço, nem que fosse p'ra me "bater"...corro a "cuscar" os "bonequinhos" verdes do messenger...enfim, frustro-me ou animo-me.

Tal como se o computador estivesse a "virar" gente.

E fico "desasada", "desocupada", "órfã", triste, assim um pouco "sem eira nem beira", se o virtual não dá uma "corzinha" ao meu real, tão cinzento quanto o dia de hoje.
Parece que um "mundão" tão grande lá fora nem sabe que eu existo, logo eu, que gosto tanto de conversar, trocar ideias, "tertuliar", convergir ou divergir em posições, opiniões...sei lá!...

Os meus gatos, sonolentos, placidamente instalados no sofá, ainda não aprenderam a minha linguagem, estas paredes agigantam-se, as fotos das molduras espalhadas a esmo pela casa, já só referem tempos idos, gentes que não estão...Sobra o quê??

Sobra um computador que está a tornar-se vida e gente, como disse, som ou silêncio, companhia ou nada....conforme os dias, conforme lhe "apetece" ou não!...

E esta "estranha relação" (que me parece ser cada vez menos só minha), está a tornar-se obsessão, dependência, profilaxia ou até terapia de falta de vontade, de cansaço, de desistências...

E penso que é mau (tal como este nosso recente Verão prematuro), quando o anti-natural começa a roubar o lugar ao normal, quando, sabendo que não temos gentes, temos caras, corpos, personalidades virtuais que concebemos e as substituem, quando a companhia e o interlocutor passa a ser uma máquina...quando a simbiose entre nós e ela, começa a ser indispensável à existência.

Complicado tempo este...bizarra vida, esta...aberrantes seres a que nos moldamos e configuramos!!!...

Sinal dos tempos??!!...Isto tem um nome: solidão!

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Sabes que me acontece o mesmo? O computador revela-se um instrumento vital de trabalho e uma companhia.
É bom receber mensagens é sinal que se lembram de nós. Solidão...sim mesmo que nos rodeiem muitos seres humanos...não passam disso....exemplares da nossa espécie.

Continuo sem te te ver...por lá...
Por aqui tudo na mesma...
Beij

Maria Romã

anamar disse...

Olá
Vi tardiamente que me ligaste ontem. Vou tentar falar-te amanhã.
Sobre o que dizes, dá que pensar...máquinas e bichos a "substituirem-se" nas nossas vidas...
Que raio de sociedade, seres, estão a formar-se e o que resultará daqui a mais longo prazo??!!...
Beijo
Anamar